domingo, fevereiro 12, 2006

Maracanazo: Um Drama Eterno

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Alden Calviño

Depois de o mundo assistir atônito à Segunda Guerra Mundial, e conseqüentemente a não realização de duas Copas do Mundo, 1942 e 1946, o ano de 1950 marcou a retomada para as disputas entre as seleções.

Como a maior parte dos países europeus haviam sido devastados com a Guerra, coube ao Brasil a honra de sediar a 4ª edição.

Como já havia acontecido nas eliminatórias anteriores, ocorreram algumas desistências, o que acabou prejudicando severamente os grupos da Copa, já que a Fifa havia os sorteado antes mesmo das Eliminatórias acabarem, e das 16 equipes que iriam ao Mundial, apenas 13 acabaram indo ao Brasil.

Isso causou algumas curiosidades nos grupos, como o Grupo 3, com três seleções: Suécia, Itália e Paraguai e o 4, com apenas duas seleções: Uruguai e Bolívia.

Na Primeira Fase tivemos algumas surpresas, destaque para a vitória da “zebra” Suécia sobre a Itália, bicampeã do mundo, mas que acabara de perder vários jogadores num acidente aéreo - o avião da delegação do Torino, que formava a base da seleção italiana, sofreu um terrível acidente, vitimando 31 pessoas, incluindo sete titulares da Azzurra.

Como conseqüência, vitória dos suecos, 3x2, num jogo disputado e dominado pelos italianos, e com direito a uma bola no travessão no último minuto de jogo na baliza escandinava.

Mas a grande zebra da competição e talvez de todas as Copas do Mundo tenha sido a vitória de 1x0 dos EUA contra os ingleses, que se consideravam a melhor seleção do mundo, razão de seu desprezo pelas Copas anteriores.

Formado por sua grande maioria de jogadores amadores, os EUA acabaram causando uma surpresa tão grande, que os jornais britânicos achavam que o resultado relatado a eles, vindo do Brasil, estava errado, e que o correto seria Inglaterra 10 x 1 EUA. Mas para desespero dos ingleses este placar não ocorreu, e com um gol do haitiano Joseph Eduard Gaetjens, os EUA os derrubaram.

Outra curiosidade ocorreu no Grupo 4, onde apenas Uruguai e Bolívia se enfrentariam para decidir quem prosseguia e quem dava adeus à Copa. E o Uruguai acabou arrasando os bolivianos com uma sonora goleada, 8x0, passando assim para a Fase Final.

Terminada a fase de grupos, as semifinais seriam disputadas, no sistema de pontos corridos, sistema este que nunca mais ocorreria em outro Mundial.

O Pacaembu e o Maracanã iriam abrigar os jogos finais, com o “Maraca”, que havia sido construído às pressas para sediar a Copa, contando com uma capacidade de público nominal de 155.000 pessoas, iria testemunhar uma das maiores façanhas do futebol mundial.

O Brasil fez sua estréia na semifinal humilhando os suecos, 7x1, com um show à parte de Ademir, autor de quatro gols, mostrando a todos que aquela competição parecia que não lhe escaparia das mãos.

Enquanto isso Uruguai e Espanha empatavam em 2x2 no Pacaembu, num jogo disputadíssimo e emocionante, com o grande Basora anotando os gols da Fúria.

Na segunda rodada, os uruguaios enfrentariam os suecos, numa partida emocionante, e vencido de forma heróica pela Celeste após estar perdendo por 2x1. Com dois gols no final do jogo anotados por Miguez, os uruguaios ainda estavam dentro da disputa pelo título, enquanto os suecos davam adeus.

No outro jogo, novamente o Brasil atropelou seu adversário, desta vez a Espanha, por impiedosos 6x1, numa partida que se mostrara complicada no início, mas que acabou tornando-se fácil principalmente no 2º tempo, quando a seleção brasileira voltou arrasadora fazendo três gols em 10 minutos. Assim, Brasil e Uruguai fariam a “final” daquela Copa de 1950.

Ninguém em sã consciência diria que o Brasil pudesse perder naquela tarde de 16 de Junho de 1950, nem o mais pessimista dos torcedores. Afinal, os canarinhos vinham de duas ótimas apresentações, ao passo que o Uruguai havia penado para vencer seus oponentes.

O Brasil entrou em campo para decidir o jogo no começo, como havia feito nos jogos anteriores, e o Uruguai praticamente só se defendia, usando de contra-ataques para tentar surpreender o anfitrião.

Mas logo os uruguaios equilibraram as ações, anulando o ponto forte do Brasil, no caso os bons passes trocados entre Zizinho, Jair Rosa Pinto e Ademir, com uma forte marcação individual em cada um deles, e com Obdulio Varela jogando na sobra. O Uruguai foi se aproveitando do jogo e criando situações de gols, mas ao fim do 1º tempo ninguém saiu na frente.

Logo no inicio da 2º etapa, Friaça marcaria para o Brasil aquele gol que faria tremer o Maracanã, após receber ótimo passe de Ademir.

Depois disso, o Brasil parou de atacar e começou a ver um Uruguai se recompondo e tocando a bola, e num ataque pelo flanco direito, Ghiggia partiu para cima de Bigode e na linha de fundo cruzou para Schaffino anotar o gol do empate.

Então a partir daí o Uruguai encontrou a mina de ouro, ou seja, o setor direito de seu ataque, e com o próprio Ghiggia, após receber um passe nas costas de Bigode, a vitória celeste estava selada, num chute entre Barbosa e a trave, lance que até o dia da morte do goleiro ficara marcado por uma suposta “falha”.

Depois disso o Brasil ainda foi empurrado pelos mais de 170.000 torcedores, mas nada conseguiu.

E a seleção da casa havia perdido uma Copa praticamente ganha, segundo os jornais da época, para a tradicional raça Celeste, que acabou se sobressaindo sobre o então “emergente” futebol brasileiro.

Muitos dizem que apostadores perderam grandes fortunas naquele fatídico dia, afinal ninguém imaginava um desfecho como aquele.

Talvez essa tenha sido até os dias de hoje a mais traumática derrota do futebol hoje pentacampeão, mas o que ninguém sabia, é que um domínio verde e amarelo se iniciaria alguns anos mais tarde daquele acontecimento, com um certo Pelé.


Brasil 1 x 2 Uruguai:

Local: Maracanã, no Rio de Janeiro
Juiz: George Reader (Inglaterra)
Público: 200.000 pessoas (aproximadamente)
Gols:
Friaça 3, Schiaffino 21 e Gigghia 34 do 2º tempo.

Brasil: Barbosa, Augusto, Juvenal; Bauer, Danilo, Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir Menezes, Jair e Chico
Técnico: Flávio Costa

Uruguai:
Máspoli, González, Tejera; Gambetta, Obdulio Varela, Andrade; Ghiggia, Pérez, Míguez, Schiaffino e Morán
Técnico: Juan López


Um comentário:

Anônimo disse...

Apesar de ser um episodio triste no futebol brasileiro, foi muito legal a narrativa!!

Mas vc poderia ter comentado mais sobre os jogos do Brasil né??

Mas no geral, muito bom...