quarta-feira, agosto 02, 2006

Técnico tampão?

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Henrique Moretti

Na última segunda-feira a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou o novo técnico da Seleção Brasileira. E surpreendeu no nome. Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga, campeão do mundo em 1994, e ex-jogador de Internacional e Fiorentina, entre outros, foi o escolhido pelo sr. Ricardo Teixeira, o cartola mais importante do futebol nacional.

E a impressão que ficou não fugiu ao panorama lançado por Juca Kfouri em seu blog, há uma semana e meia. Naquele momento, Luiz Felipe Scolari, a primeira opção da CBF para o cargo deixado por Parreira, acabara de rejeitar o convite, alegando que a família não gostaria ainda de deixar a Europa, sem antes deixar as portas-abertas, segundo o próprio jornalista, deixando claro que “um convite do Brasil sempre tem de ser ouvido e estudado”.

Assim, Kfouri declarou ali mesmo sua impressão de que Felipão pensava até em voltar ao comando técnico canarinho, mas sabia que a esta altura não teria “carta branca” para mandar e desmandar como gostaria (e como foi quando trouxe o pentacampeonato, em 2002). Então, o treinador gaúcho esperaria o término de seu contrato recém-renovado com Portugal, daqui a dois anos, para tentar voltar “nos braços do povo brasileiro”, e com liberdade para comandar, isto claro, se lá o cargo estiver vago.

E eis que Teixeira acena com Dunga, outro gaúcho, mas este, ao contrário, não-treinador. O capitão do tetra não tem nenhuma experiência do tipo, nem mesmo como coordenador, o que caracteriza uma pura aposta. E que tem muitas chances de dar errado, à primeira vista, o que acena com uma possível volta de Felipão, quem sabe, tal qual anteviu Juca.

Como a aposta que deu errado com Paulo Roberto Falcão, outro gaúcho, e outro ex-volante, mas que parecia ter mais postura de treinador que Dunga, quando assumiu a seleção logo após o vexame brasileiro na Copa 1990. Sem experiência, Falcão não agüentou mais que 17 jogos e ostentou o maior jejum de partidas sem vitórias da história da amarelinha (10).

Analisando friamente, havia mais técnicos capacitados para a função da maior seleção do mundo, ou pelo menos técnicos que já foram testados, que já detêm algum tipo de experiência. Não há como Luxemburgo não figurar numa possível lista top, mas sua arrogância, e vontade de ter tudo a seu bel-prazer, fariam com que amistosos caça-níqueis, contra Kuwait ou Emirados Árabes, não passassem por sua aprovação. E Teixeira não abriria mão de amistosos tão rentáveis.

Autuori também seria uma boa opção, mas talvez seja sério demais para a banca de “brincalhões” da CBF. Foi anunciado recentemente que Zagallo, por exemplo, ganhava 180 mil reais por mês para fazer “ninguém sabe o quê” na seleção. Por essas e outras, seriedade passa bem longe da turma de Ricardo Teixeira.

Para mim, Muricy Ramalho, Tite, Abel Braga e até Renato Gaúcho (pasmem) seriam melhores opções que o sem-nome Dunga (à beira do campo, porque jogando todos sabem que possui uma grande história).

A vibração e motivação de Dunga como volante foram apontadas pela CBF como os grandes pontos positivos de seu novo treinador, “como o povo queria”, conforme o presidente definiu – alusão clara a Parreira, que não merecia rechaço tão grande. Parece até que no triunfo da Copa 94 ele fugia da “tranqüilidade extrema” que o acompanha até hoje.

Por fim, o cordeirinho Dunga foi o que se encaixou melhor ao estilo de Ricardo Teixeira e seus subordinados. Mesmo sendo brigão no campo, o novo técnico não parece ter porte para bater de frente com a CBF logo em sua primeira experiência no cargo, e assim pode aceitar as imposições do manda-chuva, sem reclamar. Resta saber se Dunga agüentará.

E para o caso de esse momento realmente chegar, a sombra de Felipão estará a postos, pronta para entrar em ação.