sexta-feira, maio 12, 2006

Dias melhores chegaram?

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Ricardo Stabolito Junior

Nos últimos anos, o futebol carioca havia virado sinônimo de desorganização, uma instituição povoada por homens como Eurico Miranda e Eduardo “caixa d’água” Vianna. E isso se refletiu nos times. Os pequenos continuavam “quebrados” e não conseguiam ver na Federação Carioca de Futebol um aliado nessa briga contra a falência e o esquecimento. Já os grandes, totalmente desorientados e com péssimos planejamentos, viam seu passado glorioso resumido a quadros e lembranças, e nessas antigas vitórias buscavam inspiração para superar o pesadelo da segunda divisão do Campeonato Brasileiro, que se repetia ano após ano.

Nessa temporada, durante o Campeonato Carioca, a situação parecia ter chegado a níveis alarmantes. Só um dos grandes conseguiu chegar às finais de um dos turnos do Cariocão – o Botafogo –, que acabou se sagrando campeão do torneio. Esse cenário anunciava um futuro absolutamente cruel para todos os grandes do Rio de Janeiro. Inclusive para o Botafogo, que apesar de campeão, era um time sem um grande elenco e cheio de altos e baixos.

No entanto, a partir do início do Campeonato Brasileiro, principalmente, vemos posturas diferentes de Flamengo, Fluminense e Vasco. Times que pareciam entrar derrotados no Brasileirão e nas fases decisivas da Copa do Brasil, se engrandeceram tecnicamente e retomaram a posição de times a serem temidos, e, não, temerosos.

O Flamengo, que estendeu sua pré-temporada até o fim da Taça Guanabara, mostrava ser um time pífio com um elenco de baixo rendimento. Mas a chegada de Waldemar Lemos parece ter dado vida nova ao time. Jogadores outrora quase execrados como Jônatas e Obina começam a mostrar serviço sob o comando do novo técnico, assim como a equipe, que começa a empolgar o torcedor. Na Copa do Brasil, as classificações perante Guarani e Atlético Mineiro vieram com goleadas taxativas em casa, e levaram o clube a mais uma semifinal da competição. No Campeonato Brasileiro, o oitavo lugar se mostra um ótimo começo para um time antes desacreditado e que vem poupando alguns de seus titulares visando a Copa do Brasil.

O Fluminense foi uma decepção porque era o único time do Rio que tinha elenco para brigar por títulos a nível nacional. Altos investimentos em jogadores experientes se misturavam às novas promessas vindas de Xerém (casa das divisões de base do clube) para formarem um elenco do qual se esperava muito mais. Com a chegada de Oswaldo de Oliveira, o time parece ter ganhado padrão de jogo e confiança. O treinador parou com as constantes mudanças de escalação e está definindo quem são os jogadores que podem efetivamente ajudar o Fluminense durante a temporada. O time também está nas semifinais da Copa do Brasil e começou muito bem o Brasileirão, dividindo a ponta da tabela com Santos e Internacional.

O Vasco era o time com o pior elenco dos grandes do Rio. A saída de Alex Dias e Romário parecia ter enfraquecido o único setor em que o time podia se diferenciar dos demais: o ataque. Para muitos, o técnico Renato Gaúcho fazia milagre com o que tinha nas mãos desde a temporada passada. A chegada de Edílson parecia ser mais uma das “furadas” de Eurico Miranda. O bom goleiro Roberto contrastava com o sistema defensivo ruim. No entanto, o tempo conseguiu mostrar que Renato Gaúcho conseguiria novamente arrumar o time dentro de suas limitações, coincidentemente logo após a saída de Romário. O meio-campista Morais, ponto forte do setor, aos poucos consegue ser mais constante em suas atuações, dividindo com o veterano Ramon a incumbência de criar oportunidades para os atacantes. O setor defensivo é arrumado aos poucos. E Valdiran, jogador vindo do Cianorte, é a grata revelação do ataque cruz-maltino, mostrando que tem “faro de gol”. O Vasco disputa com o Fluminense uma vaga na final da Copa do Brasil e inicia o Brasileirão em uma surpreendente sexta posição.

Já o Botafogo, campeão estadual, é o time mais decepcionante do estado até o momento. Após a desclassificação com uma derrota em casa para o Ipatinga, o time só fez cair. Amarga o décimo - quinto lugar no Campeonato Brasileiro – reflexo do elenco limitado e das atuações inconstantes dos principais jogadores.

É necessário lembrar que o Brasileirão está apenas no começo. E que, na Copa do Brasil, os cariocas não enfrentaram os grandes times de São Paulo, pois estes estavam disputando a Libertadores. Além disso, a Copa é um torneio de mata-mata, ou seja, em um dia bom do seu time, ele pode eliminar outros bem mais fortes. Mas isso não desmerece o sucesso que o futebol carioca obteve.

Times “arrumadinhos”, bem armados dentro de campo e conscientes de suas limitações parecem estar compensando a falta de preparação e organização dos clubes cariocas nesse começo de Campeonato Brasileiro. No entanto, o torneio desse ano ainda terá mais sete meses de disputa e uma grande janela para transferências no período pós-Copa do Mundo. Para os cariocas, por hora, isso provavelmente não deve fazer diferença. A grande pergunta para eles deve ser: será que dias melhores chegaram?

terça-feira, maio 09, 2006

Estádio de futebol é lugar de torcedor!

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Daniele Pechi

Depois de ver o que aconteceu na partida entre Corinthians e River Plate, na última quinta feira, me senti na obrigação de atacar de advogada do diabo. Depois de tanto reclamar, de exigir os direitos dos torcedores, percebi uma coisa: o futebol não trata bem aos seus torcedores, mas os torcedores também não tratam o futebol nada bem!

A confusão, pra variar, partiu das torcidas que se dizem organizadas! Mais uma vez pergunto... São esses os verdadeiros torcedores? Cantar que seu time é sua vida, sua história, seu amor não torna ninguém mais torcedor!

Não basta apenas arrumar confusão com as outras torcidas; em jogo de uma torcida só, como foi na quinta, resolveram invadir mesmo, quebrar tudo. Devem ter esquecido que quem vai ter que pagar pelos seus atos de animais é o próprio clube, a quem declaram tanto amor.

Os prejuízos ainda não foram contabilizados, mas pior do que pagar multas ou reconstruções pode ser a punição que virá da Conmebol! Os mesmos animais podem ter tirado o Corinthians da próxima Libertadores... bom, não vou perder tempo com especulações, vamos aguardar.

Como uma boa advogada do diabo, vou ter que elogiar o trabalho da polícia militar, que evitou uma tragédia ainda pior, conseguindo segurar os torcedores e não batendo desnecessariamente. Quando merece elogios, que seja elogiada.

Mas será que realmente a polícia vai atrás dos invasores, será que daqui a uma semana alguém ainda estará preso por isso? Acredito que não.

Punição é a palavra que falta ao vocabulário do futebol, as leis existem, mas continuam só no papel.

Outra medida importante foi a proibição das “desorganizadas” de entrar nos estádios por 4 meses. Mas, por apenas 4 meses? Então, torcedores de verdade, aproveitem... vocês tem quatro meses para torcer num estádio! Ah, essa foi decepcionante! Quem proíbe por algum tempo, pode proibir pra sempre e por que não o faz? Mais uma pra inglês ver, não é mesmo?

Até quando vamos ter que acompanhar os jogos apenas pela televisão?

A imagem de um menininho que depois de muito ver os “desorganizados” apanhando, conseguiu entrar no gramado para se proteger de toda aquela confusão foi chocante! Imaginem, quando ele voltará a um estádio de futebol?

E depois ainda se fala em Copa do Mundo no Brasil em 2014... Só se for pra passar vergonha.

segunda-feira, maio 08, 2006

O fator Luca Toni

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Henrique Moretti

A temporada 2006/2007 do Calcio viu a confirmação da existência de um grande artilheiro. Trata-se de Luca Toni, natural da própria Itália, 1,94m, 98 kg, 29 anos em maio próximo.

A carreira do atacante sempre foi marcada por gols. Foi assim pelo Modena, Empoli e Brescia, entre outros. Porém sua importância foi destacada quando ele chegou ao Palermo, equipe da Sicília, na época (2003) afundada na Segunda Divisão italiana. Toni, que tinha em média marcas de 10 gols por temporada, viu esse número triplicar na primeira temporada pela equipe rosa e foi o principal ícone da subida do time para a Primeira Divisão, após longos anos.

No ano seguinte, já na Série A, o então camisa 9 do Palermo manteve destaque, assinalando 20 gols naquela edição do Calcio, e trazendo a equipe da Sicília à sua primeira participação em copas européias – a UEFA, terminando com a sexta posição da tabela.

Neste meio termo, o treinador da Azzurra, Marcello Lippi, de olho no grande potencial do atacante, foi o integrando aos poucos, com seguidas convocações geralmente para a suplência de Christian Vieri.

Em 2005 Toni mudou de rumo novamente. Foi comprado por aproximadamente 12 milhões de euros pela tradicional Fiorentina. A equipe viola, como se sabe, não vivia um bom momento – havia sido decretada falida, mudou de nome, voltou ao nome, subiu para a segunda divisão numa espécia de “virada de mesa” e na temporada de volta à Serie A amargou uma ingrata luta contra o rebaixamento, apesar de altos investimentos, como Miccoli, Nakata e Jorgensen.

A temporada 05/06 seria a da grande virada viola. Além de Toni, chegaram nomes como Fiore e Frey, além do excelente treinador Cesare Prandelli. E a carreira do atacante, agora camisa 30, decolou de vez.

Até então, são 28 gols em apenas 35 rodadas, perto da média de um gol por jogo, liderança folgada da artilharia do Calcio e da Chuteira de Ouro, que premia o maior goleador europeu de cada temporada (nos critérios, os gols possuem peso diferentes, de acordo com o nível técnico de cada campeonato nacional) e maior goleador da história viola, superando a marca de Batistuta e Hamrin, duas lendas. Além disso, é detentor do posto de principal jogador da Fiorentina, que acabou ressurgindo no cenário nacional com uma excelente campanha, onde luta palmo a palmo com a Roma pela quarta posição do campeonato e conseqüente vaga para a Uefa Champions League (até a 35ª rodada, a Fiorentina ganha a batalha com 68 pontos, contra 65 do time da capital).

Daí à vaga de titular na seleção italiana foi um pulo. Marcando gols importantes como os diante de Holanda e Alemanha, em amistosos recentes, ele praticamente já garantiu a camisa 9 da Azzurra para o Mundial 2006. Será a maior esperança de gols da equipe italiana, que buscará levantar a taça que não vê desde 1982.

Para se detectar ainda mais a importância do “Fator Luca Toni” basta olhar o Palermo atual. A equipe siciliana é apenas a 9ª colocada na tabela do Calcio, longe da classificação tanto para a UCL quando para a Copa UEFA. E há de se ponderar ainda que o presidente Mauricio Zamparini não poupou esforços para reforçar o plantel: a base foi mantida e para o ataque vieram o centroavante Caracciolo, de estilo parecido com o de seu predecessor, porém mais novo, Di Michele e Makinwa, que mesmo sendo bons jogadores não conseguiram suprir a ausência do antigo camisa 9.

O próprio Zamparini já chegou a afirmar “que nunca se livrará do arrependimento de tê-lo vendido”.

Bom, com o “Fator Toni” mais que comprovado, resta à torcida italiana que tamanho faro de gol do atacante continue em alta nos gramados alemães. Com a Azzurra em busca do tetracampeonato, e com Luca - por que não? - brigando pela artilharia.

Coluna também publicada em www.voleio.com