sexta-feira, maio 19, 2006

Quem ficou fora da festa

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Dante Baptista


Eles são jogadores famosos, titulares em seus clubes, mas não disputarão a Copa de 2006 na Alemanha. Assim como em outros mundiais, surpresas marcaram a convocação das principais seleções do mundo.


A primeira surpresa foi a não-convocação de Giuly, da França. O atacante está em boa fase no Barcelona e foi o destaque do Monaco na campanha do vice-campeonato da Copa dos Campeões da UEFA em 2004. Nem mesmo o gol que classificou o Barça para a final desse ano credenciou o camisa 8 catalão.


O mesmo caso vale para outros dois atacantes que estão entre os melhores do mundo. Fernando Morientes, que já disputou dois mundiais pela Espanha, está fora da lista oficial da Fúria e Roy Makaay, atacante do Bayer de Munique, que não foi lembrado pelo técnico Van Basten para a seleção holandesa.


Van Basten, que sinalizou uma renovação na Laranja Mecânica, deixou de fora os experientes meio-campistas Clarence Seedorf e Edgar Davids, que seriam recebidos de braços abertos em boa parte dos times que disputam a Copa. Ainda no meio campo, Rivaldo, camisa 10 brasileiro em 98 e 2002, também está de fora.


No Brasil, outras ausências também serão notadas. Entre elas, Marcos, Roque Junior e Serginho, que vive excelente fase no Milan, assistirão a Copa pela TV. Porém, entre os nossos “hermanos”, vários bons jogadores também ficarão de fora. É o caso de Killy González, Veron e, principalmente, Javier Zanetti. Os três jogadores da Inter de Milan foram preteridos por José Pekerman, que levará uma equipe com 19 novatos em Copas.


Dois brasileiros naturalizados também ficaram de fora das convocações de suas respectivas equipes. Eduardo Silva, meio-campo da seleção da Croácia e Kevin Kuranyi, atacante alemão.


Todos esses craques formariam um time, no mínimo, competitivo para uma Copa. Marcos, Zanetti, Roque Junior, Samuel e Serginho; Davids, Verón e Seedorf; Makaay, Morientes e Giuly. O banco de reservas ainda teria jogadores como Lux, Baraja, Eduardo Silva, Kuranyi, Killy González...

terça-feira, maio 16, 2006

Por mudanças na Copa do Brasil

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Henrique Moretti

Imagine uma competição que em 12, 11 ou 10 jogos se conquista uma vaga na Libertadores. Compare com outra onde se tenha de encarar 38 partidas para alcançar o mesmo objetivo. Acrescente ao primeiro caso a ausência de pelo menos 4 das principais equipes nacionais. Some ainda a presença de equipes totalmente sem tradição em detrimento a algumas da Série A do Campeonato Brasileiro.

Agora, pense: se você pudesse optar entre as duas competições descritas acima, qual você escolheria, visando disputar a maior competição futebolística das Américas? A resposta, mais que óbvia, é a primeira.

Vendo assim, um leigo poderia pensar esse caso trata-se de uma utopia. Pois para a surpresa de todos, não! Ele existe, e chama-se Copa do Brasil.

A competição que foi criada pra ser a segunda em importância no cenário do futebol brasileiro, vem assumindo prioridade que não deveria. Tudo porque, em um número quase ridículo de partidas pode dar a seu campeão o mesmo triunfo do campeão do maior campeonato do país, o Brasileirão e mais, ultimamente vem até desvalorizando-o.

Tudo isso porque a Copa do Brasil, dita “caminho mais curto para a Libertadores”, não respeita padrões lógicos de justiça. Primeiro porque é a única copa do planeta que dá a seu campeão vaga direta à maior competição do continente, nos médios e grandes centros. Para traçar um paralelo, na Argentina as vagas para a Libertadores são destinadas aos primeiros colocados nos campeonatos nacionais, o Apertura e o Clausura. Na Europa, a classificação para a UCL é garantida também através dessas ligas, como na Espanha, onde a Copa do Rey garante o campeão “apenas” na Copa UEFA (competição secundária em relação à UCL), o mesmo acontecendo na Itália, com a Copa da Itália, e na Inglaterra, com a Copa da Liga Inglesa.

O que parece ser o cúmulo é ainda pior, considerando que as maiores equipes do Brasil no ano anterior não disputam a edição corrente da Copa do Brasil (os 4 primeiros do Brasileirão anterior e o atual campeão da copa ficam de fora). Um completo absurdo, o que diminui ainda mais o nível da competição, que nesse ano não conta por exemplo com Corinthians, Internacional, Goiás, Palmeiras, Paulista e São Paulo (este por ser o atual campeão da América).

Por fim, nem todos os representantes da Série A do Campeonato Brasileiro têm direito à vaga na copa, o que dirá os times da Segundona. Isso porque, diferente da Europa, onde, por exemplo, na Inglaterra até equipes amadoras podem participar da copa nacional, e porque, numa tentativa de aumentar o peso dos estaduais, os melhores colocados destes vão ao campeonato, sem antes deixar os grandes sempre dentro, num obscuro ranking.

Assim, equipes como Baraúnas e URT roubam vagas de Atlético-PR e Ponte Preta, equipes da Série A, como ocorrido há pouco tempo, e outras do quilate de Paulista de Jundiaí e Santo André sagram-se campeões nacionais, sem ao menos encontrar-se na elite brasileira, e disputando a Libertadores sem brilho algum, como nos dois últimos anos (que fique claro que o colunista nada tem contra os clubes menores, pelo contrário). Além disso, o crescimento dessas equipes pequenas não ocorre, pois uma classificação para um mata-mata como a Libertadores não dá visão a planejamento em longo prazo, como poderia ocorrer no caso de essas equipes alcançarem a primeira divisão nacional. Outro ponto é que estranhamente esses dois “campeões nacionais” não obtiveram sucesso na Série B do Brasileirão (o Paulista não chegou nem entre os 8 em 2005), o que comprova também que a priorização da Copa do Brasil às vezes não deixa tempo para recuperação num campeonato de pontos corridos (ou de um turno com quadrangulares, como era o sistema da Série B na época).

E na atual Copa do Brasil, os técnicos, como conseqüência do “caminho mais curto”, preferem poupar jogadores para o mata-mata de 64 clubes, tirando-os dos confrontos pelo Campeonato Brasileiro, o que deixa uma estranha impressão de que a competição secundária em importância rouba espaço da primária, esvaziando o que era pra ser o principal objetivo dos clubes.

Nos anos recentes, estranhamente também os que chegam às finais da copa não obtém o mesmo êxito no campeonato nacional, o que deixa dúvidas quanto à legitimidade da conquista. Por exemplo o Fluminense, finalista da Copa do Brasil 2005, não obteve classificação entre os quatro primeiros do Brasileirão do mesmo ano, enquanto Corinthians e Internacional, eliminados nas quartas-de-final do mata-mata, alcançaram a liderança e vice, respectivamente, do torneio de pontos corridos. O Corinthians talvez deva, ainda, vários méritos da conquista da Série A para a eliminação precoce na Copa do Brasil, já que esta tirou o técnico Daniel Passarella do clube e ainda ajudou a focar a equipe apenas numa competição, o que possibilitou uma reviravolta após um início ruim; em 2004, num fato ainda mais intrigante, o vice-campeão da Copa do Brasil Flamengo lutou ferozmente contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro.

Pois bem, com os fatos todos devidamente levantados, esperemos para ver o resultado das duas competições nesse ano. O favorito ao título brasileiro, o Santos, já foi eliminado do mata-mata, e o que poderia ser má notícia pode tornar-se em boa, à exemplo de Inter e Corinthians. Dos que seguem, nas semifinais da Copa do Brasil, apenas um pequeno, o Ipatinga, e três grandes do Rio, Flamengo, Vasco e Fluminense. Ninguém ainda garante que, apesar dos bons resultados obtidos por essas três equipes até aqui, alguma delas não estará brigando pelo rebaixamento no Brasileirão ao decorrer do ano, num paradoxo incrível.

Assim, leitor, torço para que mudanças na Copa do Brasil aconteçam (a primeira parece que já vai ocorrer, com a inclusão dos representantes da Libertadores a partir do ano que vem), com pelo menos a adequação do calendário.sem a presença de duas competições nacionais desse porte ao mesmo tempo, pois quem sai perdendo é o futebol brasileiro. E tomara que a distorção seja corrigida, com quem sabe uma utópica vaga à Sulamericana para o campeão do mata-mata (utópica porque dificilmente acontecerá, em curto prazo), o que valorizaria ainda mais o Brasileirão, que é pra ser realmente o campeonato dos sonhos de jogadores, técnicos e torcedores.

Uma outra opção para melhorar o nível da segunda competição brasileira em importância seria inchá-la, fazendo com que ela alcance ao menos todos os times da Série A e B do Campeonato Brasileiro, usando os estaduais para definir quem da Série C participa, abolindo a relevância do Ranking da CBF, mas isso parece algo que os “coronéis” do futebol nacional não estão dispostos a realizar.

A se continuar assim, sou obrigado a refazer a pergunta que abre a coluna: você prefere atingir a Libertadores entre 10 e 12 jogos (subentende-se aqui as fases iniciais da copa, onde se pode eliminar as partidas de volta) ou em 38?

E cabe a réplica: é justo?

Coluna também publicada em www.voleio.com