terça-feira, agosto 08, 2006

Virando o jogo

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Ricardo Stabolito Junior

O Campeonato Brasileiro deste ano é cruel com erros: um em cada cinco clubes que o disputam será rebaixado. Assim sendo, o torcedor palmeirense deve ter se aterrorizado ao assistir seu time no período pré-Copa do Mundo da competição. O clube somou apenas quatro pontos nos primeiros dez jogos do campeonato – um desempenho fraquíssimo.

Motivos não faltavam para tal desempenho. O primeiro era a falta de entusiasmo do time, que visivelmente entrava derrotado nos jogos e não esboçava reação aos ataques dos adversários. O segundo era a péssima condição física do elenco, agravado pelo alto número de atletas veteranos que o integram. Por fim, entrava a falta de padrão tático do time comandado por Émerson Leão: a cada jogo a formação mudava e o esquema era alterado, transformando o Palmeiras em um caos dentro de campo.

A chegada de Tite, ainda antes da parada para a Copa do Mundo, não resolveu a situação. Ao herdar o trabalho de Leão e da antiga comissão técnica, Tite manteve a calma mesmo vendo a equipe do Palestra Itália acumular quatro derrotas consecutivas antes da paralisação do campeonato.

E então veio a parada para a Copa do Mundo. Tite parecia consciente de que essa paralisação teria de ser o ponto da virada do Palmeiras. O técnico reuniu todo o elenco, reintegrando o atacante Edmundo e os jogadores que estavam no departamento médico (Nem e Juninho Paulista), e estabeleceu uma intensa rotina que colocou os jogadores em forma. Além disso, Tite conseguiu chegar à conclusão de que o Palmeiras deveria jogar no 3-6-1.

Ao utilizar três zagueiros, Tite reforçou a defesa, que até aquele momento era a mais vazada do campeonato. Ainda mais, liberava o ala Paulo Baier para jogar da mesma forma que o fez se destacar no Goiás e no Criciúma – aberto pela direita e com liberdade para chegar ao ataque. Ao colocar dois volantes no meio-campo, Tite deu condições para que os dois meias pudessem encostar-se ao atacante isolado na frente sem fragilizar o setor. Mas, acima de tudo, o time retornou mais unido, bem disposto e preparado fisicamente para retirar o Palmeiras da zona de rebaixamento.

Além disso, o Palmeiras utilizou o recesso da Copa para realizar algumas contratações. A chegada do zagueiro Dininho, do volante Marcelo Costa, do ala Chiquinho, do meia chileno Valdívia e o retorno do volante Marcinho Guerreiro (cuja negociação com o Olympique de Marselha foi desfeita) mostrou que Tite conseguiu identificar as debilidades do time e fez com que o clube contratasse no intuito de saná-las.

No seu primeiro jogo no período pós-Copa, o Palmeiras venceu o Vasco da Gama por 4 a 2. O torcedor saiu do Palestra Itália com motivos de sobra para comemorar – além de vencer, o time finalmente convenceu, jogando bem e criando diversas oportunidades de gol. No jogo seguinte, a vitória de 1 a 0 contra o Corinthians, em um jogo extremamente “truncado” foi decisiva para alavancar a moral do elenco e dos torcedores, afirmando que tempos melhores haviam chegado para o clube.

Após as duas vitórias, a paz voltou a reinar dentro do clube. Tite promoveu alguns jogadores das divisões de base que entraram bem no time (Francis, Wendell, Vinícius) e conseguiu reabilitar Edmundo. No entanto, o próximo adversário – o Goiás – representava a primeira “prova de fogo” para o time, uma vez que o Vasco não tem um grande elenco (apesar da boa posição no campeonato) e o Corinthians está passando por uma péssima fase.

Mais uma vez jogando bem, o Palmeiras venceu o Goiás no Serra Dourada por 3 a 1, afirmando sua reabilitação de vez e ficando a um ponto de sair da zona de rebaixamento. No jogo seguinte, contra o Paraná (quarto colocado do Campeonato) o time venceu com o Parque Antártica quase lotado por 4 a 2, isso depois de ter feito dois a zero e cedido o empate, mostrando personalidade ao sair da situação difícil. O resultado retirou o Palmeiras da zona da “degola”.

Logo após o jogo contra o Paraná, os jogadores e o treinador falaram que a previsão deles era sair da zona de rebaixamento em cerca de 13 rodadas. Saíram em quatro. Isso mostra não só como o trabalho de Tite é digno de reverência, mas também que nem mesmo o elenco acreditava que podia crescer tanto. Deixa provado aos céticos que o elenco palestrino não era tão ruim como muitos acreditavam, o que lhe faltava era apenas um padrão tático e apoio de torcida e treinador. E, no fator motivacional, Tite é muito bom, como toda a escola gaúcha de treinadores, aliás.

Com a possibilidade de estréia dos reforços contratados, o Palmeiras vai a Fortaleza enfrentar o time local com chances de entrar na zona de classificação para a Copa Sul-Americana. No entanto, uma derrota pode derrubar o clube novamente para a zona da “degola”. Se mantiver o ritmo de bons resultados, esse elenco pode escrever uma das histórias de recuperação mais brilhantes da história do Palmeiras.