sábado, março 04, 2006

Quem pega esse rebote?

___________________________________________________________
Ricardo Stabolito Junior

Nos últimos anos, o esporte brasileiro vem sendo “passado a limpo”. Fora dos campos e quadras, escândalos e investigações são os protagonistas de um complicado processo de “moralização esportiva nacional”.

Apesar de o futebol receber uma maior cobertura da imprensa, nenhum outro esporte sofreu uma ruptura tão significativa quanto o basquete. Isso porque seu primeiro resultado foi a criação de uma Liga independente desvinculada da Confederação Brasileira de Basketball (CBB) batizada Nossa Liga de Basquete (NLB).O líder da NLB, Oscar Schmidt, intenta fazer no Brasil o mesmo que já acontece em vários países – uma liga profissional independente da confederação nacional. Argentina, Itália e EUA (com a famosa NBA) já possuem ligas em tal formato e, ao que parece, esse é um dos fatores que contribuíram para a evolução do basquete nesses países.

A CBB é radicalmente contra a proposta da NLB. Durante o processo de criação da liga independente, Schmidt esteve aberto a conversações com o presidente da confederação, Gerasime Nicolas Bozikis (vulgo Grego). No entanto, Bozikis se limitou a ameaçar os times que se aliassem à Nossa Liga e a ignorar a possível existência da NLB. Em uma das suas últimas ações, chegou a impedir jogadores de times pertencentes à NLB de defender a seleção brasileira.

O receio de Bozikis tem motivo. O Campeonato Brasileiro de Basquete é o único torneio realmente rentável que a CBB possui em seu calendário anual. Um campeonato nacional sem interferência direta da confederação representaria renegá-la quase totalmente às práticas amadoras, porque os torneios estaduais e regionais, com exceção do paulista, possuem pouquíssima visibilidade.

Mas existem outras diferenças entre as duas propostas de certame. O Nacional da CBB sempre primou por uma exclusão do norte e nordeste do país, pois os times das regiões mais ricas do país atraem, logicamente, mais publicidade; na NLB acontece um processo de integração nacional, com a inclusão de alguns times dessas regiões outrora esquecidas.

Enquanto o formato do Nacional da CBB se mantém nos padrões clássicos onde todos jogam contra todos e os melhores classificam-se aos playoffs, a NLB adota uma mescla dos regulamentos da NBA e do Campeonato Italiano onde além das fases clássicas é instituída a chamada Liga de Verão – um tipo de repescagem que mantém todos os times jogando por mais tempo e com mais chances de classificação.

Além disso, NLB e CBB confrontam os dois canais esportivos fechados de maior audiência do país. Enquanto o Campeonato Nacional da CBB é transmitido pela SporTV (e, conseqüentemente, pela Rede Globo), a Nossa Liga tem ao seu lado o canal ESPN Brasil (e a gigante mundial ESPN).

O que assistimos aqui se assemelha muito a um jogo de basquete. A bola está no ar, após um arremesso mal feito e NLB e CBB estão prontos para pegar o rebote. Agora só o tempo dirá quem ficará com ele.

quarta-feira, março 01, 2006

Frio desnecessário em dia quente

_____________________________________________________________
Bruno de Oliveira

Realmente não dá para aceitar. Enquanto seleções tradicionais se enfrentam, nesta quarta, na última data Fifa antes da Copa, o Brasil vai à Moscou encarar uma temperatura extremamente fria e uma equipe extremamente fraca. O jogo serve, mais uma vez, para encher os cofres da CBF e da Ambev, patrocinadora da Confederação.

Com os termômetros atingindo os quinze graus negativos, a possibilidade de um bom jogo é mínima. Se preparação é a desculpa, essa é enterrada quando analisamos o confronto. A Rússia sequer classificou-se para a repescagem, nas eliminatórias européias para a Copa. Ficou atrás de Portugal e Eslováquia. Sem nenhum grande destaque, o time da casa será comandado pelo ex-jogador Alexandr Borodiuk, já que nem técnico possuem. O último foi demitido após não conseguir a classificação para o Mundial.

Outro fator que pode piorar a situação é a rodada de volta das oitavas-de-final da Uefa Champions League, que será disputada na semana que vem. Jogadores como Kaká, Adriano, Ronaldo e Roberto Carlos dificilmente correrão riscos em um amistoso que nada vale, disputado em um campo péssimo graças à temperatura local. Tocar a bola de lado e deixar o tempo correr será, possivelmente, a estratégia dos craques. O resultado pouco importará. O importante, na verdade, será sair ileso.

Mas, para compensar o frio da Rússia e as previsões do jogo do Brasil, esta data Fifa promete ser bem quente. Dando total sentido à palavra preparação, Itália e Alemanha fazem, em Florença, o jogo de maior destaque. Os donos da casa aproveitarão o amistoso para sentir a real falta que Totti fará, caso não se recupere a tempo para a disputa da Copa. Já os alemães continuam na busca da formação ideal. A equipe tem se mostrado irregular nos amistosos realizados até agora, e precisa se acertar.

Em Valladolid, a Espanha recebe os vice-campeões da CAN 2006, a Costa do Marfim. Apesar da boa fase, os africanos podem ficar de fora do Mundial. É o que promete o presidente da Federação Marfinense de Futebol, caso a guerra civil não termine até o início da competição. Enquanto isso, bem mais calmos, os espanhóis lamentam as contusões de Baraja e Guti, cortados do amistoso. Quem deve estar feliz é o volante Marcos Senna, que pode ganhar a chance de atuar pela primeira vez com a camisa da Fúria.

Outra potência que entra em campo é a Inglaterra, apontada por muitos como a mais forte seleção depois do Brasil. O time da Rainha recebe o Uruguai, em Liverpool, e estreará seu novo uniforme. Mas não poderá contar com Lampard e Owen, lesionados. A Holanda, de van Bommel, também jogará nesta quarta. Contra o Equador, em Amsterdã, terá mais uma chance de provar que pode surpreender na Alemanha.

E por falar em surpresa, Messi será titular, hoje, contra a Croácia. Os adversários do Brasil no Grupo F enfrentam a Argentina em campo neutro, na Basiléia, Suíça. Riquelme, que era dúvida, deve jogar. Uma grande oportunidade pra ver como reagirão os europeus diante de um futebol superior e mais técnico. Aliás, valeria mais a pena assistir esse jogo do que enfrentar a Rússia.

Amistosos Internacionais - 1° de Março (Data Fifa)
Rússia x Brasil (Moscou)
Itália x Alemanha (Florença)
Espanha x Costa do Marfim (Valladolid)
Inglaterra x Uruguai (Liverpool)
Holanda x Equador (Amsterdã)
Croácia x Argentina (Basiléia)
França x Eslováquia (Saint-Denis)
Escócia x Suíça (Glasgow)
Turquia x República Tcheca (Izmir)
Irlanda x Suécia (Dublin)
País de Gales x Paraguai (Cardiff)
Estados Unidos x Polônia (Kaiserslautern)
Arábia Saudita x Portugal (Dusseldorf)
Tunísia x Sérvia e Montenegro (Tunis)
Áustria x Canadá (Viena)
Senegal x Noruega (Dacar)
Israel x Dinamarca (Tel Aviv)
Irlanda do Norte x Estônia (Belfast)
Luxemburgo x Bélgica (Luxemburgo)
Albânia x Bósnia (Tirana)
Macedônia x Bulgária (Skopje)
México x Gana (Dallas)
Irã x Costa Rica (Teerã)
Coréia do Sul x Angola (Seul)

domingo, fevereiro 26, 2006

O Péssimo Domingo Esportivo da Tv Brasileira


___________________________________________________________
Dante Baptista

Domingo, 20h, final de mais uma rodada de futebol. É a hora de assistir aos programas esportivos e se aprofundar no que aconteceu durante o fim de semana. Ver resultados, análises, comentários e entrevistas. Você liga a TV e... o resultado é péssimo. Todos os programas do gênero são iguais em forma e equivalentes no fraco conteúdo. O sensacionalismo impera e a discussão não passa do básico rebatido em qualquer bar do país.

Começa com o Show do Esporte Interativo, comandado por Roberto Avallone, "exclamação"! O caricato apresentador é mais notado por suas expressões do que por seu conhecimento de futebol. O time de comentaristas também deixa a desejar. Não por Marilia Ruiz, tampouco por Mauro Beting, Não por Marilia Ruiz, tampouco por Mauro Beting, mas por Cacá Rosset, o ator de teatro que se aventura no mundo do jornalismo esportivo. Seu lugar definitivamente não é esse!

Já o Bola na Rede parece ter sentido a falta de Avallone. Mesmo com Fernando Vanucci no comando, o programa peca pela falta de conteúdo, tanto que apelava descaradamente para as imitações de Alexandre Porpettone, ex-Provollone, hoje na Record. O fanatismo de José Calil pelo Santos torna o programa ainda pior. Mas pelo menos, Alex Muller mostra ter talento e demonstra ter sobriedade e inteligência em seus comentários.

O mais tradicional programa que dá nome ao gênero parou no tempo. O Mesa-Redonda, da Gazeta, é o mais antigo e o pior de todos. Produção, cenário e comentaristas são péssimos. Chico Lang beira a insanidade com seus comentários totalmente parciais e pró-Corinthians. Wanderlei Nogueira é o mais sóbrio e ponderado dos comentaristas. Mas o programa afundou também no 'merchan'. Gol Ypioca, Sodesp e outros anunciantes de menor porte acabam tirando o pouco brilho que o Mesa-Redonda tinha. O comando de Flavio Prado decepciona. Quem o viu com Juca Kfouri e José Trajano no Cartão Verde não o reconhece.

O Terceiro Tempo é, de longe, o programa com melhor produção, os melhores convidados e o mais sóbrio time de comentaristas. Mas, por outro lado, torna-se um dos menos suportáveis dos programas esportivos. O que acontece com o Terceiro Tempo?

A mesa-redonda da Rede Record tem mais de quatro anos sob o comando de Milton Neves e, desde o começo, sempre foi um proveitoso espaço para as empresas anunciarem. Milton não mostra nenhum pudor em lotear minutos de seu programa para os anunciantes, e se preciso, pára uma discussão no meio para fazer o famoso 'merchan'. Com isso, o programa perde o conteúdo, e o que tinha tudo pra ser o melhor do gênero neste horário passa a ser muito difícil de se assistir.

O apresentador é sim um dos responsáveis pela baixa qualidade do programa. PVC acerta em seu livro "Jornalismo Esportivo", quando diz que o apresentador parou no tempo, que prefere lembrar de alguma equipe da década de 60 a se aprofundar mais sobre o futebol de hoje. Para mim, fica a impressão que antes, era o jornalista, agora quem apresenta o Terceiro Tempo é o publicitário Milton Neves.

Todos os programas estão 'nivelados por baixo', jargão comum no meio esportivo (de dentro de campo). Nenhum deles se aprofunda em táticas e análises. Tratam o futebol como qualquer pessoa no bar, no trabalho ou na discussão da faculdade. Por isso, no senso comum, é fácil ser jornalista esportivo, porque fala o que todo mundo sabe falar. Porém, jornalismo esportivo é muito mais do que isso, exclamação!