sábado, setembro 29, 2007

Avante, guerreiras da bola!

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Luiz Mendes Junior

Há trinta anos, quando Pelé aceitou jogar futebol nos Estados Unidos pelo extinto New York Cosmos, a empreitada tinha como objetivo popularizar esse esporte por lá. Não deu certo. Pelo menos não para os homens. Às mulheres, foi sucesso total. Do fim da década "disco" até hoje, nosso soccer virou a opção esportiva light popular do "sexo frágil" em solo yankee. Se na America Latina e boa parte da Europa, o futebol foi esporte bruto, "para macho" até pouco tempo, nos lados do Tio Sam era "jogo de mulherzinha", pois "homem que era homem praticava baseball, futebol americano, hóquei ou basquete."

Tal popularidade precoce tornou os Estados Unidos uma espécie de potência mundial precursora. Se, com os marmanjos, passaram quarenta anos sem ir a uma Copa, com as moçoilas figuraram sempre entre os três primeiros, ostentando dois títulos em quatro dos mundiais disputados. Nomes como Michelle Akers, Joy Fawcett e Shannon McMillan logo alçariam condição de referência global.

Abaixo do equador, o clima era outro. Mulheres jogando bola taxadas de lésbicas ou coisa pior. Falta de incentivo à formação e profissionalização de atletas tornaram a América do Sul terceiro mundo no futebol de saias, e a coisa pouco mudou desde então, exceto por um detalhe.

Um detalhe chamado Seleção Brasileira.

Ocorreu devagar. Lampejos de uma geração prodigiosa e guerreira que, desde sempre, lutou contra tudo e contra todos para não perecer. Marta, Formiga, Pretinha... surgiram como curiosidades, ganharam simpatia pública e viraram ícones de garra e perseverança, heroínas nacionais. No começo, tiravam onda nos trópicos com homéricas goleadas, mas caíam ante as "gigantes" chinesas, norueguesas e americanas. Para cada mundial perdido, um choro por apoio e meses de esquecimento até o próximo compromisso importante. Promessas não cumpridas, mal-entendidos, “crocodilagens” e a eterna superação de um time que de zebra virou "pedreira" e agora quer ser grande. Mereceu ganhar ouro em Atenas, faturou dois Pan-americanos e por fim, enfim, desbancou o antigo carrasco, candidato a freguês. Nosso Brasil também quer ser potência entre as meninas, e pode, se nós aqui deixarmos.

Torcerei por elas na decisão, claro, e ainda mais depois. Torcerei para não serem esquecidas. Para que a TV, empresas, federações, e nós, o público "pagante", não as deixemos de lado, ou viverão sempre comendo migalhas dos rapazes, apesar do esforço e glória alcançados.

Nos "estates", o fenômeno é inverso. A velha zebra yankee da seleção masculina, ressurgida às copas de 90 para cá, mostra sinais evolutivos claros. Fez bonito em 2002, deu azar em 2006 com uma chave difícil e hoje consegue encarar o Brasil de Kaká e Ronaldinho quase de igual para igual. Não duvido que em alguns anos os homens, e não as mulheres, sejam o sexo forte no futebol de lá. A pergunta é: Isso bastaria para popularizar o "soccer for men"? E aqui? Algo inverso ocorreria com um título feminino em copa do mundo?

Bom... vamos aguardar.


Texto também publicado no blog: http://www.noticiasdofront3.blogspot.com

quinta-feira, setembro 27, 2007

Em busca do equilíbrio

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Henrique Moretti

Passadas cinco rodadas do Campeonato Italiano, o Palermo faz uma boa campanha. Tem 10 pontos e está no quinto lugar, empatado em pontuação com terceiro e quarto colocados, Juventus e Napoli. Na rodada do meio de semana, conquistou um grande resultado.

O 2 a 1 diante do Milan não só significou a primeira vitória da temporada no Renzo Barbera, mas também o gostinho especial de bater um grande time e, mais, ter a oportunidade de encaixar um bom histórico recente diante dos rossoneri – já havia conquistado uma vitória e um empate na última Serie A.

Antes, no domingo, a equipe de Stefano Colantuono bateu o Cagliari, mantendo o 100% de aproveitamento quando joga longe da Sicília: são três vitórias, uma na Copa da Uefa, diante do Mlada Boleslav. O placar obtido na Sardenha também foi importante por tirar a pedra Cagliari do sapato palermitano, já que o time que à época tinha David Suazo venceu os dois confrontos do Calcio 2006/07.

Voltando ao jogo contra o Milan, é verdade que o Palermo não passou de uma atuação média. Foi pressionado na maior parte da peleja, especialmente no primeiro tempo. Aliás, os primeiros minutos lembraram os da derrota diante da Roma, na primeira rodada, parecendo que o gol do adversário seria questão de tempo. E foi, com Seedorf, aos 10 minutos. A partir daí, foram vistas boas defesas de Fontana, em tentativas de Kaká, e duas bolas na trave, com Pirlo e Seedorf.

Entretanto, os sicilianos cresceram na partida após a volta do intervalo, quando as substituições de Colantuono mudaram o esquema de jogo – que ainda não foi definido. Este ainda é um dos problemas da equipe, já que o treinador implantou, até aqui, cinco escalações diferentes em seis jogos disputados (dois onze jogadores que alinharam na última quarta-feira, apenas seis foram titulares contra a Roma). Ganhador do prêmio Il Torrazzo, de técnico revelação das Series A e B da temporada passada, Colantuono iniciou a temporada com um 4-2-2-2, com dois volantes e dois externos; depois, resolveu improvisar o atacante Cavani como um desses wingers, pela direita; atualmente, desde a vitória sobre o Cagliari, a equipe joga num 4-3-1-2, com três volantes e apenas Bresciano como homem de ligação, função que não é o seu forte.

Aos 16 minutos do segundo tempo, quando o encontro contra o Milan começou a mudar, Cavani entrou no lugar de Caserta para jogar na externa esquerda, com Bosko Jankovic, substituto de Bresciano, fazendo essa mesma função do outro lado. A partir da velocidade do jovem uruguaio, os rosaneri subiram de produção e passaram a incomodar Kalac – o suficiente para sair os gols de Diana, com uma “mãozinha” de Amauri, e Miccoli, com uma “mãozinha” do goleiro australiano.

Mas nem todos as indecisões do Palermo estão na escolha tática. Outra dor de cabeça para o torcedor continua sendo a lateral-esquerda, em que Cassani, destro, jogou improvisado diante do Milan. Pior, acabou errando muitos passes, além de subir muito ao ataque, o que não combina com sua função de terzino (que tem como prioridade a defesa).

Assim, buscando ainda um equilíbrio ideal, o Palermo pode assustar novamente no Cálcio atual, tendo como trunfo a vantagem de já ter enfrentado dois candidatos ao título. O próximo adversário é o Empoli, na Toscana.