sábado, abril 29, 2006

Nossos futuros craques...

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Ricardo Stabolito Junior

Quando olhamos para crianças nas ruas “jogando bola” ou nas escolas em aulas de educação física quase não nos lembramos de que podemos estar vendo rapidamente o nascimento de mais um craque do futebol. Um jogador que fará no futuro o mesmo que os grandes jogadores fizeram e fazem nos campos do mundo inteiro. Talvez o filho do seu vizinho possa ser o próximo Ronaldinho Gaúcho, o garoto que corre na sua rua o próximo Zidane ou, até mesmo, o seu próprio filho o novo Pelé.

Não olhamos com tanta atenção porque, afinal, são apenas crianças. Terão a vida inteira para se divertir e se aprimorar até vir a ser um possível ótimo jogador de futebol. Enfim, são muitos jovens e imaturos.

No entanto, não é assim que pensam os grandes clubes europeus. A competição entre eles chegou à tamanha magnitude que já não adianta ter o melhor time. Tornou-se necessário ter as melhores promessas do amanhã. Assim acabou virando moda entre as agremiações do velho continente vir até, principalmente, Brasil e Argentina em busca das estrelas do amanhã – jogadores de cerca de 13 anos que apresentam, já nas categorias de base, talento fora do comum.

Apesar de ficar em evidência e tornar-se tendência recentemente, essa prática já era realizada mais discretamente antes. No início da década de 90, comumente clubes holandeses e belgas vinham até o Brasil e “recrutavam” garotos de 15 ou 16 anos, que eram levados para jogar por lá. O resultado era visto com facilidade há alguns anos atrás, em transmissões do Campeonato Holandês – todos os times tinham um ou dois brasileiros, mas o telespectador do Brasil raramente já tinha ouvido falar em algum deles.

O que mudou, basicamente, foi a idade do “recrutamento”. Se antes eram levados garotos de 15 e 16 anos, hoje se leva de 12 e 13. Ou seja, a situação passou de ruim para absurda. Com a promessa de um bom contrato para o garoto e emprego para os seus pais, essas famílias, muitas vezes de baixa renda, sentem-se inevitavelmente seduzidas. E, no futuro, esses garotos que foram embora poderão se tornar os astros brasileiros do futebol europeu dos quais o Brasil nunca ouviu falar.

Um exemplo desse processo pode ser visto no atual time do Barcelona, com o argentino Lionel Messi. Ele foi embora da Argentina ainda criança, contratado pelo clube espanhol, e hoje é um dos xodós do time da Catalunha. E caminho parecido esboçava o garoto Neymar – jogador de 14 anos do Santos – que interessava o Real Madrid e já tinha sua transferência quase acertada pelo empresário Wagner Ribeiro. No entanto, no último dia 10 de abril, o Santos conseguiu firmar um contrato - às pressas - com o jogador para que ele continue mais dois anos no time, até se profissionalizar.

E o assustador é que casos como o de Neymar (foto abaixo) só tendem a se proliferar. Isso sem contar que dificilmente transações como essa são noticiadas na mídia – o caso Neymar foi uma exceção. Para cada Neymar que é noticiado na mídia, vários garotos vão para países da Europa fazer “estágio” através das mãos de empresários inescrupulosos e convênios obscuros entre clubes formadores de jogadores daqui e grandes agremiações estrangeiras que levam crianças para fazer testes no exterior.

Se problemas financeiros levam nossos melhores jogadores para campos europeus (grandes salários, necessidades do clube), problemas sociais levam e levarão nossas crianças-promessa daqui (desemprego dos pais, sistema de educação falido). E isso liga diretamente a necessidade dos clubes nacionais se engajarem não apenas na formação “futebolística” do jogador, mas na formação social e profissional do cidadão.

O Brasil já perde seus principais jogadores para o futebol estrangeiro, ou seja, nosso presente em termos de qualidade já está lá fora. Diante de propostas irrecusáveis, clubes nacionais se vêem quase obrigados a vender nossas revelações para os times europeus interessados. Mas o Brasil já se acostumou com isso. O problema será se até o futuro do nosso futebol for jogar lá fora antes que possamos sequer conhecê-lo.

sexta-feira, abril 28, 2006

Previsões/ Raio-X para 2006 (Parte 4)

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Guilherme Ferreira Ceciliano

Parte final do raio-x do Campeonato Brasileiro:


***** Cruzeiro (Paulo César Gusmão/ 4-3-3)
Chances no Brasileirão: Lutando pela Libertadores
Pegue dois bons goleiros, junte com uma zaga respeitável, um meio-campo qualificado e um ataque excepcional. Coloque esses setores para treinar com o discípulo do maior papa-títulos do Brasil. Bem, esse é o Cruzeiro de Belo Horizonte-MG. Repatriou o Élber, ídolo na Europa, Gil, ídolo do Corinthians, Leandro Silva, o substituto de Sorín na campanha do Brasileiro de 2003. Além disso manteve Edu Dracena, capitão do time, e PC Gusmão, o promissor treinador. A equipe celeste tem um onze titular ótimo, um banco de reservas respeitável e é uma das equipes que lutarão pelo título esse ano.
Destaques: Élber, Gil, Leandro Bomfim, Leandro Silva, Edu Dracena, Fábio, Lauro, Alecssandro e Araújo
Promessas: Kérlon, Diego Clementino, Moisés, Luizinho e Thiago Heleno


*** Flamengo (Waldemar Lemos/ 4-4-2)
Chances no Brasileirão: Adivinha? Lutando pra não cair.
Luizão já ganhou tudo o que um atacante pode ganhar nas Américas. Peralta é reconhecido por muitos como o substituto de Recoba no Uruguai. Ramírez tem a raça que a massa gosta. Minhoca levou o Ipatinga ao título mineiro em cima do Cruzeiro em 2005. Além disso, Vinícius Pacheco é destaque da seleção sub-20 do Brasil. No papel, um ótimo time, pronto para brigar pela Libertadores. Porém, por fatores extra-campo, o Flamengo não engrena e tem poucas chances de aspirar a lugares mais altos na competição. A camisa, ultimamente, tem pesado contra os rubro-negros bons de bola.
Destaques: Luisão, César Ramírez, Renato, Peralta, Léo Moura e Wálter Minhoca
Promessas: Vinícius Pacheco, Getúlio Vargas


** Fortaleza (Márcio Bittencourt/ 4-4-2)
Chances no Brasileirão: Na zona de rebaixamento
Um time com alguns bons valores, mas com grandes chances de cair. Em prol do time, a força da torcida que sempre lota dos estádios. Preto Casagrande, que caiu em 2003 pelo Bahia e ganhou o título em 2004 pelo Santos, é o grande destaque do time que perdeu o bom Lúcio, principal jogador do time ano passado. O ex-técnico do Corinthians Márcio Bittencourt assumiu recentemente o comando da equipe.
Destaques: Preto Casagrande, Mazinho Lima, Finazzi
Promessas: Não apresenta

** Paraná (Caio Júnior/ 3-5-2)
Chances no Breasileirão: Lutando pra não cair
O atual campeão paranaense tem Caio Júnior como comandante, aquele mesmo que levou o Cianorte a fazer barulho na Copa do Brasil 2005. A equipe não tem nomes conhecidos, à exceção do goleiro Flávio e procurou se reforçar no interior paulista: o atacante Zumbi, ex-Marília, e o zagueiro Edmílson, ex-Noroeste, chegaram recentemente, e o atacante Leandrinho, também da equipe de Bauru, ainda pode vir.
Destaque: Flávio, Sandro
Promessas: Zumbi


***** Corinthians (Ademar Braga / 4-4-2)
Chances no Brasileirão: Libertadores da América
O Real Madrid do território brasileiro já conseguiu até a proeza de ter um técnico do nível de López Caro. Ademar Braga é peça nula na armação corintiana. Faz feijão com arroz sem tempero algum e é burocrático na hora de substituir. E a falta de pulso pode se tornar um problema para um time recheado e totalmente dependente de estrelas. Dentro de campo, Nilmar e Tevez têm resolvido os jogos pelo alvinegro paulista. Muito pouco para quem aspira ao bicampeonato e conta com jogadores do nível de Ricardinho e Gustavo Nery.
Destaques: Nilmar, Tevez, Ricardinho, Roger Flores, Carlos Alberto, Gustavo Nery, Mascherano e Marcelo Mattos
Promessas: Jí-Paraná, Marcelo, Marcelo Godri, William e Bruno Octávio


Resumo do Raio-x:
***** - Corinthians, Cruzeiro, Goiás, São Paulo, Internacional
**** - Grêmio, Santos, Fluminense
*** - Botafogo, Palmeiras, Atlético, Flamengo, São Caetano
** - Vasco, Fortaleza, Paraná, Santa Cruz
* - Ponte Preta, Juventude, Figueirense


Legenda:
{avaliação - de uma a cinco estrelas} Time (Treinador / esquema)

quinta-feira, abril 27, 2006

Previsões/ Raio-X para 2006 (Parte 3)

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Guilherme Ferreira Ceciliano

O Raio-X do Brasileirão, em sua 3ª parte:


***** Goiás (Geninho/ 3-5-2)
Chances no Brasileirão: Brigando pela Libertadores
O melhor time brasileiro no início Libertadores da América está pronto para encarar o Brasileirão. Não creio que estará na liderança ao final do primeiro turno, porém deverá estar muito bem tendo em vista os grandes jogadores que possui. Jadílson, mais uma vez, está em ótima fase jogando como Paulo Baier, só que do lado esquerdo. O ataque esmeraldino mais uma vez é muito veloz (Roni e Welliton), porém diferentemente daquele de 2004, que tinha Alex Dias e Leandro, não consegue ser tão incisivo.
Destaques: Jadílson, Roni, Romerito, Souza, Nonato, Jefferson Feijão e Vampeta
Promessas: Welliton (foto)


** Santa Cruz (Giba/ 3-5-2)
Chances no Brasileirão: Brigando pra não cair
Um time interessante com alguns bons valores como Carlinhos Bala e Rosembrick. Porém não deve resistir à qualidade dos outros times, até porque perdeu o técnico Givanildo para o Atlético-PR. No ataque, Thiago Gentil, ex-Palmeiras, faz dupla com Bala.
Destaques> Carlinhos Bala (foto), Thiago Gentil, Zada, Rosembrick e Xavier
Promessas: Não apresenta


**** Santos (Vanderlei Luxemburgo/ 3-6-1 ou 4-4-2)
Chances no Brasileirão: Brigando pela Libertadores
Aos trancos e barrancos, o Santos foi campeão paulista esse ano. Porém o Campeonato Brasileiro é mais longo e o time de Luxemburgo terá que apresentar um futebol melhor para tentar levar o tri. Acredito que ele consiga fazer esse time jogar no seu esquema preferido, 4-3-1-2, que fez o Cruzeiro campeão da competição em 2003. Na função de Alex deve jogar Léo Lima que tem contrato até o meio do ano e, como disse na sua chegada, gostaria de voltar para Europa por cima. Rodrigo Tabata ainda esta devendo, mas, assim como Danilo no São Paulo, deve melhorar daqui pra frente.
Destaques: Manzur, Fábio Costa, Kléber, Rodrigo Tabata, Maldonado, Léo Lima e Reinaldo
Promessas: Felipe, Rogério e Jardel


*** Palmeiras (Interino: Marcelo Vilar/ 4-4-2)
Chances no Brasileirão: Brigando na “zona morta” da tabela
Em crise existencial, o Palmeiras começa o campeonato brasileiro sob forte desconfiança. O técnico Leão foi demitido e seu substituto ainda não foi definido. Salvador Hugo Palaia, vice de futebol, reclamava de uma conspiração contra eles e a torcida pega no pé de jogadores que não agüentam a pressão e pedem pra sair (como Lúcio e Alceu). A bem da verdade é que o Palmeiras não ganha títulos desde 2000 (a extinta Copa dos Campeões) e dentro de campo o time é apático, quase que covarde. Apenas Marcos, Edmundo, Juninho e Leão põe a cara para bater com a torcida e, como nem sempre eles jogam em função da idade avançada, o time fica vulnerável e treme sob a pressão da arquibancada.
Destaques: Edmundo (foto), Marcos, Marcinho, Gamarra, Juninho Paulista
Promessas: Willian, Cláudio, Michel, Ilsinho, Roger e Thiago Gomes


*** Atlético-PR (Givanildo Oliveira/ 3-5-2)
Chances no Brasileirão: Entre os desesperados e os classificados da Sul Americana
Trocar um técnico frio como Lotthar Mathäus pelo baiano Givanildo Oliveira parece não ter sido uma boa idéia. Nunca vi treinador nordestino se destacar no sul. E a maldição se estica para o técnico do Furacão que ainda não conseguiu bons resultados com o time vice-campeão da Libertadores. Assim como Hélio dos Anjos no Juventude, terá que impor seu estilo e armar o time durante o primeiro turno. Pelo menos o plantel conta com excelentes valores como Dagoberto, Michel Bastos e Fabrício.
Destaques: Denis Marques, Fabrício, Dagoberto, Pedro Oldoni e Paulo André
Promessas: Jancarlos, Michel Bastos, Caetano, Evandro Goéber e Moreno


Legenda:
{avaliação - de uma a cinco estrelas} Time (Treinador / esquema)

terça-feira, abril 25, 2006

O Adeus do mestre

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Dante Baptista


O futebol ficou mais triste a partir de sexta-feira passada. Aos 74 anos, faleceu Telê Santana, vítima de uma infecção abdominal. O mestre, como era chamado, foi um dos principais técnicos do futebol mundial.

Entre outras conquistas, foi o primeiro técnico a vencer um Campeonato Brasileiro, com o Atlético-MG em 1971, foi o único técnico a dirigir o Brasil em duas Copas do Mundo e, mesmo sem vencê-las, montou dois dos maiores times que o brasileiro viu com a Amarelinha. Mas foi no São Paulo a sua consagração: a geração de Zetti, Cafu, Raí, Leonardo e Juninho conseguiu 11 títulos em quatro anos. Entre eles, um Brasileiro, duas Libertadores e dois Mundiais. Em 1996, foi obrigado a deixar o futebol por conta de uma isquemia cerebral.

Telê pregava o futebol-arte, jogado de forma ofensiva e leal. Era extremamente exigente nos treinamentos e cuidava também do psicológico do atleta. Ficará a lembrança e a certeza de que o futebol deve muito a Telê Santana da Silva!

segunda-feira, abril 24, 2006

Direitos, funcionam pra você?

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Daniele Pechi


Não parece, mas o Estatuto do Torcedor já vai completar 3 anos! Na data do lançamento, ele foi muito comemorado e divulgado, principalmente pelo ministro dos esportes, na época Agnelo Queiroz, que se vangloriava de seu promissor projeto. Hoje, quem se lembra que esse estatuto existe?

Mudanças radicais ocorreriam no futebol segundo sua vigência, principalmente no que diz respeito à segurança, à venda de ingressos e ao atendimento médico caso algum incidente ocorresse.

Mas, como garantir a segurança dos torcedores se a própria polícia apóia as torcidas organizadas? Os mesmos que decidiram acabar com elas foram os que permitiram suas voltas gradativas aos estádios. Hoje, a situação é a mesma de antes, com apenas uma diferença: as brigas não ocorrem mais nos estádios, mas sim nas suas imediações.

Antes de chegar ao jogo propriamente dito, é preciso passar pela humilhação da compra dos ingressos. O torcedor é tratado como gado, enfrenta filas enormes e ainda fica com o resto, afinal, o primeiro lote é sempre dos cambistas.

É, entrar nesse assunto traz a polícia de volta para a conversa, pois ela é a única que não vê esses criminosos agindo. Todo mundo sabe que o esquema existe, como ele funciona e que basta estar perto da bilheteria para surgirem dois ou três oferecendo o ingresso esgotado. Alguém, que não os torcedores, ganham muito com isso...

A morte do jogador Serginho, do São Caetano, em 2004, mostrou o quanto pode ser perigoso precisar de maiores cuidados dentro de um estádio de futebol. Segundo o Estatuto, é obrigação do organizador da partida:

Art. 16 III Disponibilizar um médico e dois enfermeiros-padrão para cada dez mil torcedores presentes à partida.

IV Disponibilizar uma ambulância para cada dez mil torcedores presentes à partida.


A ambulância realmente existia mas não com os equipamentos adequados, e a partida era no Morumbi. Será que numa partida de segunda ou terceira divisão isso existe?

Bom, só para ilustrar, separei outros trechos que se referem ao que já foi comentado:

Art.13 O torcedor tem direito a segurança nos locais onde são realizados eventos esportivos antes, durante e após a realização das partidas.

Art.20

2º A venda (dos ingressos) deverá ser realizada por sistema que assegure a sua agilidade e amplo acesso à informação.

Art. 21 A entidade detentora domando de jogo implementará, na organização da emissão e venda de ingressos, sistema de segurança contra falsificações, fraudes e outras práticas que contribuam para a evasão da receita decorrente do evento esportivo.


Não seria exagero colar todo o texto, pois nem as medidas mais simples como o direito a um número razoável de banheiros decentes e de pessoas que auxiliem os torcedores a encontrarem seus lugares foram cumpridas.

Admiro os que apesar de todo esse desrespeito ainda insistem em ir apoiar o seu time de coração, mesmo sabendo que correm risco de serem atacados pelos animais organizados. Após esses três anos, como torcedora, não queria um estatuto “para inglês ver”, só o básico já me bastaria: queria ter o direito de ir aos estádios e voltar viva para casa.


Para os que se interessaram, o Estatuto pode ser lido integralmente no seguinte endereço:
http://www.presidencia.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.671.htm