segunda-feira, julho 10, 2006

A César, o que é de César!

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Daniele Pechi

Zidane perdeu a cabeça, Zidane deu vexame, Zidane deu adeus aos gramados pela porta dos fundos... Zidane, Zidane, Zidane... Mas, quem foi o campeão da Copa do Mundo 2006 mesmo??? Ah sim...A Itália, mas o Zidane, hein??

Concordo que a atitude de Zidane foi totalmente inesperada, principalmente por se tratar de sua última partida como profissional, condená-la também acho muito válida e justa! O título de melhor jogador de Copa pode ter sido jogado fora por ele hoje, ele não precisa disso... mas a taça do mundo não cairia nada mau para uma aposentadoria não?

O que não se pode perder de vista é que a Itália conquistou o seu tetracampeonato e não está recebendo o reconhecimento devido! Não for pura sorte que a Azzurra conquistou este título não, ganhou com louvor!

Não vou dizer que vi um futebol bonito, cheio de firulas, muito menos que ela tinha um grande craque... afinal, essa Copa não foi marcada por seleções com essas características. Marcar muito e sair para o contra-ataque: esta era basicamente a receita para ganhar os jogos!

Por este mesmo motivo é que esta Copa teve uma das piores médias de gols da história. Com uma defesa exemplar, a começar por Buffon, que até a final havia tomado apenas um gol, seguida por Cannavaro, que não seria surpresa se escolhido como melhor da Copa e Materazzi, que foi o autor do gol, mas está sendo lembrado mais por ter tirado Zidane do sério... é de lamentar!

A escolha de um jogador de defesa como o melhor do campeonato seria muito coerente e a homenagem seria muito bem vinda! Além dos atacantes deixarem a desejar, quem não vibrou com as defesas de Ricardo, Lehman e do próprio Buffon? Com as roubadas expetaculares de Cannavaro, é inevitável não falar nele....pelo menos ele foi campeão, não é mesmo?

Mas é bom aproveitar a oportunidade, já que acho que é última vez que falo de Copa 2006 para parabenizar a Alemanha pelo exemplo de organização e aos alemães, que conseguiram fazer o orgulho se ser alemão voltar! Este é mais um exemplo de que o futebol é muito mais do que o acontece dentro de campo.

A eliminação do Brasil revelou que erámos mais portugueses do que pensávamos, Felipão contava com a torcida brasileira, que mostrou que as portas estão abertas... mas parece que é ele quem não quer entrar! Este sim, fez um pequeno milagre levando Portugal para a semi-final: trabalhou, vibrou, brigou, gritou, chamou pela Santa Maria e conquistou a torcida (dessa vez, a lusitana), que agora não quer outro técnico!

Não posso dizer que esta Copa tenha sido uma decepção, talvez a expectativa que se colocava nela tenha sido o grande problema...Agora, esperamos mais quatro anos ansiosamente e olha, que 2010 promete: seleções como Itália, França e Brasil,por exemplo, terão de passar por uma profunda renovação e as especulações logo, logo começam....

O futebol, que fez o mundo parar por mês, agora volta para o seu lugar! Parabenizo a Itália novamente, mas estou indo tirar a poeira da minha tabela do Brasileirão, afinal, é hora de voltar a realidade!

domingo, julho 09, 2006

Um fracasso anunciado

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Henrique Moretti

O fracasso da seleção brasileira na Copa do Mundo 2006 continua repercutindo por aqui. E do pior lado possível.

A equipe, que chegou para disputar a competição na Alemanha cercada de um enorme favoritismo, proveniente da imprensa dos mais diversos países participantes do Mundial, foi vergonhosamente eliminada nas quartas-de-final, para a França, num dos maiores vexames do Brasil na história das Copas.

Porém, as últimas participações do Brasil antes da Copa não justiçavam tamanho “já ganhou”. O time de Parreira alternou várias vezes entre bons e maus momentos. A impressão que ficou para os alemães e resto do mundo (e que teoricamente justificava a “banca brasileira”) era a da Copa das Confederações, onde a seleção só jogou bem a partir da segunda fase. E com um time totalmente diferente.

Veremos: naquela competição, que passa longe do tamanho e da expressão de uma Copa do Mundo, o Brasil sofreu na primeira fase diante de México e Japão, só batendo facilmente a atual campeã européia Grécia. Na segunda fase sim boas partidas, numa vitória por 3x2 diante da Alemanha (por sinal, bem diferente desta do Mundial), e noutra por 4x1 sobre a Argentina na final. Esta talvez tenha sido a pior coisa que poderia acontecer para o Brasil, contraditoriamente. Arredonando um pouco, esta goleada foi a que ofereceu tamanho favoritismo para a seleção, que não soube administra-lo, tranformando-o em “oba-oba”.

Por quê? Primeiro porque o Brasil da Copa é bem diferente daquele: a juventude das laterais, que tinham Gilberto e Cicinho, foi trocada pela suposta experiência de Cafu e Roberto Carlos. Além disso, Robinho foi trocado por Ronaldo, que garantiu sua vaga mais com nome que com futebol.

Segundo: soa como desculpa, mas a Argentina estava muito desfalcada. Nomes como Santana, Figueroa e Lux, que nem foram convocados por Pekerman para o Mundial, participaram daquela competição. Esses desfalques pareciam ser escondidos pela imprensa brasileira à época, que só pensava em exaltar a seleção pelo título e, claro, zombar dos argentinos.

Outra coisa que ninguém parecia enxergar (ou querer enxergar) era a derrota para a mesma Argentina em Buenos Aires, meses antes, pelas Eliminatórias. O 0x3 daquele primeiro tempo (que se transformou em 1x3 no segundo) demonstrou a todos grandes falhas da equipe do Brasil, e as críticas, ao invés de virem, foram encobertas.

Más apresentações em amistosos, como no 1x1 contra a Croácia e no 1x0 ante a Rússia também não eram consideradas na hora de exaltar o pentacampeão mundial. Ou a falta deles também não era comentada, via de regra. Afinal, usar Datas Fifa para jogos contra Kuwait e Emirados Árabes é perfeitamente normal. Poucos dias antes da Copa desafiar fortíssimas equipes como Lucerna e Nova Zelândia também é totalmente aceitável. O Brasil não precisava mesmo provar nada... A resposta veio na Copa.

Copa que o Brasil começou mal, muito mal. As vitórias sobre a Austrália e a mesma Croácia não deveriam enganar. Mas enganaram. Juca Kfouri disse antes do terceiro jogo, que seria contra o Japão, que “o pior que poderia acontecer à seleção era uma boa apresentação sobre a fraca seleção, e com gols de Ronaldo”. E ele estava certo.

O Japão realmente era fraco, mas aqui no Brasil algumas pessoas insistiam em exaltá-lo. Talvez por ter Zico. Mas na realidade era o mais fraco do grupo F. E proporcionou à equipe de Parreira uma vitória “convincente”. Oras, mas convencer contra um Japão, e ainda que entrara já praticamente eliminado é muito duvidoso. Ronaldo conseguiu igualar o recorde de Gerd Müller, e parecia estar satisfeito.

A vitória contra Gana nas oitavas também não foi diferente. Um time brasileiro apático, jogando mal, e vencendo, até tranqüilamente, mais pela mediocridade do adversário que por méritos nossos.

A imprensa e torcida brasileiras continuavam a sonhar. Frases como “olhe aí: Ronaldo apareceu”, “ah, na hora H o Ronaldinho vai arrebentar”, “Cafu ainda joga muita bola” eram facilmente vistas no país líder do Ranking FIFA.

Mas sonhar às vezes é um pecado. Ainda mais se tratando de futebol. O primeiro adversário de nível que o Brasil enfrentou, o primeiro já campeão mundial, a França, que nem um grande Mundial fazia, dominou facilmente as ações na fatídica partida de quartas-de-final.

A moral da história: não era possível o Brasil ir longe com o futebol até ali apresentado. A equipe parecia mais preocupada com os recordes individuais, de Cafu e de Ronaldo. Outros não tinham mais condições de estar ali, como Roberto Carlos. Outros decepcionaram feio, como Ronaldinho, Kaká e Parreira. Outros jogaram o que sempre jogaram, tal qual o fraco Adriano. E por aí vai.

A falta de comprometimento da equipe com os 180 milhões de pessoas que a monitoravam (como dizia a escrita no ônibus da seleção) foi gritante. E o sonho brasileiro acabou em pesadelo. E o pesadelo para o Brasil tem nome e sobrenome iguais aos de 98: Zinedine Zidane.

Coluna também publicada em www.voleio.com