sexta-feira, junho 23, 2006

Coisas curiosas do futebol

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Ricardo Stabolito Junior

O Brasil entra em todos os torneios de futebol que disputa com um time, no mínimo, competitivo. Isso é muito bom, afinal, todos gostam de torcer por um time forte e campeão. Mas pensem: e se o Brasil não fosse a potência no futebol que é, se ela fosse uma mera coadjuvante na Copa do Mundo?

Neste ano, em vista da seleção brasileira ter a obrigação de passar pela primeira fase com o time que tem, resolvi eleger um outro time para quem torceria na primeira fase do Mundial. Mas não seria um time qualquer – seria um com pouca tradição no futebol. E não seria uma torcida de momento, assistiria com atenção a todos os jogos dessa seleção, assim como faria com a do Brasil.

Minha escolha não foi difícil. Lembrando dos tempos em que ainda jogava Fifa 97 no “jurássico” console Mega-Drive, escolhi a estreante Trinidad e Tobago. Quando organizava Copas do Mundo no jogo, sempre pegava a seleção caribenha. Lembrei-me com carinho de craques como Yorke (que na época jogava no Manchester United – fato no mínimo estranho para mim naquela época), Wise, Latapy e John. Detalhe: só os conhecia por sobrenome, pois o jogo só informava a inicial do primeiro nome do jogador.

A conquista da vaga por Trinidad já havia sido muito sofrida. Após conseguir o quarto lugar no hexagonal final das eliminatórias da Concacaf, passando a Guatemala nas últimas rodadas, conseguiu uma vaga na repescagem contra o quinto colocado da Ásia – o Bahrein. No primeiro jogo, realizado em Trinidad, um “péssimo” empate de 1 a 1, o que concedia ao time asiático a vaga caso empatasse sem gols o segundo jogo. E, com um gol do grandalhão Lawrence no segundo jogo, conseguiu a vaga inédita para a Copa do Mundo.

A opinião entre os especialistas era unânime: se Trinidad e Tobago fizer pontos nessa Copa, será uma grande surpresa. No seu grupo estavam uma das favoritas ao título do Mundial (Inglaterra), um dos melhores “coadjuvantes” (Suécia) e uma seleção que já não era mais surpresa em Mundiais (Paraguai).

Quase em todos os dias da primeira fase perdi parte do jogo das dez da manhã, só assisti inteiro ao jogo de estréia de Trinidad e Tobago. Abrindo o segundo dia de Mundial, enfrentou a Suécia e algumas coisas já me tocaram profundamente. Tirando Yorke, era a primeira vez que vi as faces de muitos dos jogadores que me fizeram campeões no vídeo-game. Muitos deles já eram veteranos – e como não seriam – já que em 97 já integravam a seleção nacional.

Quando o jogo começou, entendi que sofreria muito com a seleção caribenha. O time não tinha ataque, a ponto do grande ídolo e atacante Dwight Yorke jogar praticamente como volante. Mesmo que com falta de competência, a Suécia atacou o jogo inteiro. Mas, com um homem a menos, o time de Trinidad e Tobago se segurava contando com a barreira Shaka Hislop no gol – único jogador do elenco que jogava na primeira divisão da Inglaterra. E eu vibrava, como raramente em um jogo do Brasil, a cada vez que aquele selecionado de jogadores de terceira, quarta divisão da Inglaterra, barrava o ataque dos consagrados Ibrahimovic, Larsson e Ljungberg.

Na jogada de maior perigo da partida, o atacante Glenn (que joga nos Estados Unidos), num dos raros chutões da zaga trinitina que gerou um contra-ataque, colocou a bola na trave do gol sueco. Nesse momento, quase explodi. E, de resto, só ataques cada vez mais desesperados da Suécia.

Quando estava nos descontos do segundo tempo, me dei conta que estava levantado, apreensivo e com minhas mãos entrelaçadas, implorando pelo apito final do juiz. E quando ele o fez, estourei em alegria. Todos os jogadores indo abraçar o heróico goleiro de 37 anos, Hislop, que garantiu o empate com grandes defesas. Todos estavam rindo e muitos felizes sabendo que fizeram o melhor que podiam e conseguiram algo quase inacreditável. Na torcida, todos agitavam bandeiras e gritavam com orgulho o nome do país e dos jogadores.

Depois do jogo, fiz questão de ver todos os comentaristas falarem que estavam errados sobre Trinidad e Tobago, que ele não seria um saco de pancadas e era de uma resistência admirável. Ciente do seu papel na Copa, o time soube valorizar o que podia fazer e o fez com grande excelência.

Fiquei extremamente feliz, até mais do que com a vitória do Brasil sobre o Japão “jogando bonito”. Fiquei feliz porque, naquele dia, os meus heróis do vídeo-game se tornaram heróis para uma nação inteira e todos puderam ver o potencial da seleção caribenha que vi no antigo Fifa 97, já há muito tempo atrás.

Contra a Inglaterra, o time novamente mostrou resistência sobrenatural segurando o empate por 80 minutos. No final, acabou sendo vazada num gol irregular do grandalhão Peter Crouch, favorecido com uma das faltas mais bizarras que já vi – ele puxou o longo cabelo do volante Sancho, o impedindo de saltar – e por um chute de fora da área de Gerrard. Contra o Paraguai, a defesa ruiu ainda no primeiro tempo com um infeliz gol contra do mesmo Sancho.

Após o empate contra os suecos, percebi algo importante: o futebol é algo bem curioso. Não que já não soubesse isso, mas consegui percebê-lo mais do que nunca. É muito curioso pensarmos como nesse esporte um mísero empate (como o de Trinidad contra a Suécia) pode ser mais emocionante e, até mesmo, importante do que uma taxativa vitória (como a do Brasil contra o Japão). Porque, para mim, ele foi.

quinta-feira, junho 22, 2006

Impressões

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Renato Bosi de Magalhães

Começo pela Argentina, óbvio. O futebol que a seleção portenha vem apresentando é de encher os olhos. A poucos dias da Copa, o técnico José Pekerman ainda vinha procurando o time ideal. Agora tem um time talentoso, pronto para buscar o terceiro título da história.

A respeito do Brasil, não esperava partidas tão burocráticas e confesso que não vejo uma seleção sensacional, capaz de golear quem vier pela frente. Parreira é o técnico, que diz “show é ganhar a Copa” e, segundo, porque a seleção que encantou naquele jogo contra a Argentina, na Copa das Confederações, era outra. Jogavam Cicinho, Gilberto e Robinho. São jogadores de uma movimentação e um potencial ofensivo muito maior do que Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo.

A Itália, do apagado Totti e do aceso Pirlo, não me surpreende, nem me desaponta. Pode tanto ser eliminada na primeira fase (se perder para a República Tcheca), quanto ser campeã, com seu ferrolho defensivo. Não nos esqueçamos que a Itália campeã de 82 empatou seus três jogos na primeira fase.

A Espanha é a seleção que proporcionou a maior surpresa, ao golear a boa Ucrânia por 4 a 0. Ela possui um meio-campo que alia a marcação e o bom toque de bola, e tem na frente Luis García e o “matador” Fernando Torres, enquanto para a Alemanha eu não dava nada antes do início do Mundial. Mas, com o apoio da torcida, jogando com sua conhecida disciplina tática, e contando com a boa fase de Lahm e Schweinsteiger, além de Ballack e dos gols de Klose, é uma forte candidata ao título.

A França é a que mais decepciona. Com os bons marcadores Makelele e Vieira na contenção, e contando lá na frente com Zidane e Henry, contava com um melhor futebol. E Trezeguet não jogar de titular é brincadeira.

Holanda e Portugal são seleções organizadas, possuem jogadores capazes de decidir uma partida, além de excelentes técnicos, mas não enxergo nelas potencial para serem campeãs. As equipes da Ásia não evoluíram. Esperava mais principalmente do Japão e do Irã. Já das que representam a África, gostei. Costa do Marfim apresentou um futebol alegre, vistoso. Deu azar ao cair no “grupo da morte”. Gana, que basta vencer os Estados Unidos para se classificar, também foi bem. Já de Tunísia, Angola e Togo, não esperava muita coisa. E, se não apresentaram um futebol de encher os olhos, mostraram alguns bons jogadores. Destaco a dupla de ataque togolês, formada por Kader e Adebayor.

Estou um pouco decepcionado com esse início de Copa. Quem sabe daqui para frente melhora.

quarta-feira, junho 21, 2006

A fantástica Espanha

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Pedro Galindo

Durante essas últimas semanas, tentei ao máximo escapar da faculdade e de todas as outras obrigações para assistir à tão aguardada Copa do Mundo. Até agora não tive tanto tempo para, realmente, acompanhar todos os jogos, observar táticas e jogadores, mas confesso que fiquei impressionado com a “Fúria”.

A seleção treinada por Luís Aragonés tem todos os pré-requisitos de uma seleção forte e consistente: goleiro altamente confiável – talvez até o melhor do mundo –, dupla de zaga de bons valores individuais, formada por Carles Puyol, destaque do bi-campeão espanhol Barcelona, e Pablo, do Atlético de Madrid. Tem também um meio-campo que pode ser considerado completo, com Alonso, Senna, Xavi e Luis García – um dos mistérios desse 4-3-3. No ataque, duas promessas da Liga Espanhola: David Villa, atacante goleador do Valencia, e Fernando Torres, do Atlético de Madrid, uma das maiores revelações dos últimos tempos, na Espanha, e não menos goleador que seu parceiro de ataque. A equipe conta ainda com excelentes jogadores no banco, como os goleiros Cañizares e Reina, os meias Cesc Fábregas, Joaquín, Albelda e Reyes, e o maior goleador da seleção espanhola em todos os tempos, o atacante merengue Raúl González. Juntos, todos esses jogadores vêm conseguindo excelentes resultados há um bom tempo, e apareceram nessa primeira fase como uma das equipes favoritas ao título mundial.

Apesar de não terem caído num grupo muito complicado, os espanhóis conseguiram um bom resultado logo no primeiro jogo, contra o adversário que todos diziam ser o mais difícil da chave: contrariando a todos que previam um jogo complicadíssimo, a “Fúria” venceu implacavelmente a Ucrânia de Schevchenko por 4x0, já mostrando seu excelente estilo de jogo e seu toque de bola consistente. No segundo jogo, uma surpresa: contra a supostamente fraca Tunísia, os espanhóis tomaram um gol logo no começo da partida, o que tornou um jogo que tinha tudo pra ser fácil em uma partida dificílima. Então, com um toque de bola consciente e uma pressão tranqüila, a equipe conseguiu a virada e terminou vencendo por 3x1, com gols de Fernando Torres (2 vezes) e Raúl, que não marcava havia muito tempo. Agora, eles têm pela frente a fraquíssima Arábia Saudita, e têm tudo para dar um verdadeiro chocolate no time comandado pelo brasileiro Marcos Paquetá.

O que faz desse time da Espanha tão completo é o mesmo fator que, supostamente, tornaria a seleção inglesa, de quem se esperava tanto, tão completa quanto: o meio-campo polivalente. Ambas as seleções tem meias que sabem marcar e armar, chutar de longe e fazer lançamentos. Essa é a principal característica de jogadores como Cesc Fábregas, Gerrard, Xavi e Lampard, entre outros. O diferencial entre as duas equipes está apenas no estilo de jogo: enquanto a seleção do país peninsular se destaca pelo toque de bola diferenciado e pelo estilo de jogo mais cadenciado e paciente, o English Team joga o tempo todo se aproveitando dos lançamentos precisos de David Beckham e Steven Gerrard, que buscam quase sempre a cabeça do grandalhão Peter Crouch. O potencial dos excelentes atacantes Michael Owen e Wayne Rooney quase não é aproveitado, tornando a equipe dependente de apenas um tipo de jogada. É por isso que a seleção espanhola vem dando espetáculo e convencendo a todos, enquanto a equipe da Rainha Elizabeth se classificou em primeira de seu grupo, mas ainda não convenceu de fato.

A seleção do Rei Juan Carlos ainda conta com uma excelente invenção tática de Aragonés: uma espécie de 4-3-3, que pode se contrair a um 4-4-2 a qualquer momento. Isso se explica pelo fato de o meia Luís García, do Liverpool, jogar quase na ponta-esquerda, apesar de ser considerado meia-ofensivo. Portanto, ele fica variando de posição durante o jogo inteiro, tanto formando o meio com os outros três, quanto se juntando a Torres e Villa no ataque.

A tabela das oitavas de final também não previa muitas dificuldades para a seleção espanhola, mas terminou por lhes trazer um obstáculo dificílimo, logo de cara: tudo indica que eles enfrentarão a França, que apesar da má fase, sempre é um adversário a ser temido. Mas é assim que as seleções que se dizem favoritas têm que provar seu valor, eliminando as outras candidatas ao título. Potencial, todos sabemos que a Seleção Espanhola tem de sobra, resta saber se eles vão ter fôlego e grandeza suficiente para chegar até o fim.

terça-feira, junho 20, 2006

Time que desce quadrado

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Luiz Mendes Junior

Terminado este segundo desafio do selecionado brasileiro, prontificam-se “entendidos” de plantão – incluindo quem vos escreve – a diagnosticar prós e contras da partida, emitir veredictos, sugestões, e, claro, criticar o que “deve” ser criticado.

Indignações, ufanismos, homenagens, premeditações, alertas e pedidos desesperados a parte, confesso sentir um misto de esperança e desespero, de Copa das Confederações e Olimpíadas de Atlanta, embora deva confessar a prevalescência do segundo presságio ante o primeiro. Vitórias tranqüilizam, mas performances atabalhoadas ainda preocupam, e também os sinais de que Parreira permanecerá desafiando a lógica e ignorando o óbvio. Até quando?

Ronaldo esteve melhor do que na estréia, e isso é consenso na imprensa esportiva, mas, se uns globais aqui e ali preferem focar atenções na “micro-evolução” do fenômeno e demais pontos positivos da performance de anteontem, mantendo a visão predominantemente ufanista da emissora, outros permanecem céticos, quer insistindo nos óbvios defeitos do time, quer apelando ao “espírito do futebol-arte de 82”, quer insistindo em análises individuais de jogadores e esquecendo um pouco o âmbito coletivo.

Freqüentemente assisto ao badalado debate “Linha de Passe - Mesa Redonda” na ESPN Brasil, que conta com alguns dos mais bem vistos comentaristas futebolísticos da mídia nacional, incluindo Juca Kfouri, Fernando Calazans e o “expert” Paulo Vinícius Coelho. Sou fã do programa e de alguns participantes, mas admito discordar de inúmeros pontos por eles levantados. Penso que, tal qual nossos “entendidos” da CBF, da comissão técnica e futebol brasileiro em geral, também estes ocasionalmente contribuem com certos vícios opinativos não mais condizentes com o futebol como ele é jogado hoje, mas isto é assunto para outra resenha.

Retomando o programa em si, Juca Kfouri questionou anteontem a pertinência das opiniões “indulgentes” que havia emitido a quase todos os jogadores brasileiros após perceber ter também depreciado o time no âmbito conjunto, mas seu paradoxo era absolutamente sensato e pertinente, pois possuímos uma equipe que mal se entende em campo, com problemas táticos crônicos, e que consegue contrabalançar tais defeitos com marcantes esforços individuais. A “defesa”, tão elogiada por todos, pode até ir bem quando analisada individualmente, embora, num contexto geral, permaneça fraca, porque “lá atrás” os jogadores precisam se desbaratar para compensar os problemas defensivos (e ofensivos também) gerados “na frente” com a falta de movimentação e de combate. Por melhor que atuem Lúcio, Juan, Zé Roberto e companhia, estarão sempre eles no “fio da navalha”, precisando fazer mil estripulias – vide os monumentais carrinhos de Zé Roberto – para compensar uma flagrante fragilidade da seleção, evidenciada tão logo nossos dois primeiros adversários precisaram atacar depois que abrimos o marcador.

Outro ponto dissidente entre eu e os integrantes da mesa está na análise da atitude aparentemente pragmática de Parreira em relação aos resultados obtidos até agora. Trajano, Kfouri e Calazans enfatizam e criticam os discursos do técnico quando este enaltece a importância de vencer e marcar pontos em detrimento de tudo, como em 1994. Todavia, diferentemente da mesa, penso que Parreira não está repetindo sua filosofia “um a zero” de 1994 em 2006, mas apenas usando esse discurso para encobrir a ineficácia de não conseguir o que deseja desse time. Apostar no quarteto em si já deixa clara uma estratégia predominantemente ofensiva de velocidade e triangulações em vez de investir num meio-de-campo sólido e menos dinâmico como o de 1994, que marcava bem com seus quatro integrantes e contava com dois volantes pouco ofensivos, embora um deles contribuísse constantemente com passes longos a Bebeto e Romário. O meio-de-campo atual tem apenas um volante fixo e seus dois “meias-atacantes”, apesar de se esforçarem em contribuir defensivamente, são bem menos eficazes nesse quesito do que eram Raí e Zinho (ou Zinho e Mazinho).

Não me desagradaria ver Parreira adotando uma filosofia conservadora como a de 1994, mesmo que isso diminuísse o poder do ataque e o “show” proporcionado, mas meu desespero maior está em vê-lo perdido entre o que diz fazer mas não faz, e o que quer fazer e não consegue. Se Parreira pretende apostar na leveza e virtuosidade ofensiva do time, que tire então Ronaldo e facilite a vida de Adriano, colocando Robinho em campo. Não é minha escalação preferida, mas é inegável o fato dela ao menos fazer este quarteto funcionar devidamente e a equipe jogar mais ou menos como Parreira deseja, arriscando-se além da conta, mas também criando várias oportunidades de gol.

Contra uma Argentina, isso pode ser suicídio, contra a Croácia, foi perigoso, mas contra a Austrália, valeria a pena se Robinho começasse atuando. Como diria Paulo Vinícius Coelho, durante a transmissão do jogo, a diferença do time com Robinho em campo é flagrante, embora Parreira permaneça insistindo no “Fenômeno”. Acho impossível que apenas ele não perceba a “ululância” da questão. Mas Robinho pode também ter contribuído com sua permanência no banco ao tomar um cartão amarelo gratuito. Por quê? Porque nosso próximo confronto seria uma oportunidade perfeita para testar o rei das pedaladas por noventa minutos e também o quarteto em sua melhor formação. Pendurado, Robinho talvez fique de fora, pois imagino que Parreira o considere, mesmo na reserva, mais importante do que Ronaldo, que também tem um amarelo, mas deve entrar em campo contra o Japão.

Ruim é saber que o primeiro teste do “quadrado mágico” em sua melhor formação desde a final da Copa das Confederações pode ser um batismo de fogo contra Itália ou República Tcheca. Lembremos que este selecionado canarinho só fez dois grandes clássicos com seu quarteto (ou três, se considerarmos a Alemanha da Copa das Confederações), ambos contra a Argentina, e este quadrado falhou feio na primeira oportunidade enquanto funcionou razoavelmente bem na segunda, pelo menos por um tempo e meio, e com o adversário desfalcado de 6 titulares. Com Ronaldo no lugar de Robinho, o quarteto jamais encarou um clássico.

Antes de fechar a resenha de hoje, gostaria de insinuar algo provavelmente inverídico a partir de uma pergunta que até pode valer boas reflexões e futuras observações. Alguém por acaso reparou que os maiores destaques desta seleção em termos de empenho e dedicação advém justamente de jogadores que não eram titulares em 2002?

Luiz Mendes Junior também escreve no blog:www.noticiasdofront3.blogspot.com

domingo, junho 18, 2006

Enfim, uma grande Copa

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Luiz Mendes Junior

(este texto foi redigido em 16 de junho, horas depois do jogo Holanda e Costa do Marfim)


Não tenho dúvidas de que este mundial será o melhor tecnicamente desde 1982 e selará um fim a grande parte daquele mar cético de pseudo-analistas que clamam aos quatro ventos a mediocridade do futebol apresentado em copas desde 1986, mesmo quando se referem à de 98, um campeonato de bom nível, em minha opinião.

Sucedida uma semana de jogos, quase todos os grandes fizeram valer o peso da camisa em campo e no placar. A Alemanha começou ofensiva, mas também frágil contra um adversário que permitia esse capricho. Colocou os pés no chão contra a Polônia, expondo menos o setor defensivo sem diminuir demais o volume das subidas ao ataque e sem apelar muito para o chuveirinho, merecendo sua dramática vitória e fazendo jus àquele velho slogan de que “alemães não desistem nunca”.

Os ingleses ainda não brilharam e, apesar de não estarem, pelo menos por enquanto, entre os três mais fortes da competição, demonstraram solidez, garra e preparo para lutar pelo título nos jogos que fizeram. Infelizmente, não pude assistir à magistral goleada espanhola sobre os ucranianos, mas partindo do que vi, li e ouvi a respeito, podemos considerar a “fúria” uma favorita, apesar do velho jargão de que sempre morre na praia. Em 2002, quem a matou não foram os coreanos, mas os juízes.

A chave E também mostrou que suas duas grandes forças estão preparadas para dar exibições consistentes. Itália e República Tcheca devem realizar um dos melhores jogos da primeira fase e prometem problemas monstruosos a seus respectivos adversários do grupo F, caso concretizem uma provável classificação às oitavas. Portugal pode ter começado aquém da capacidade contra Angola, mas ainda tem potencial e possibilidades visíveis de crescimento. A França, por outro lado, até pode ir longe, mas dificilmente apresentará muito mais futebol do que na estréia, algo amarrado, burocrático e sem objetividade como na última Euro, apesar de Henry e Zidane. Talvez Togo os propicie chances para uma boa performance, mas qualquer adversário de prestígio deverá trazê-los de volta a mediocridade, mesmo quando triunfarem.

Já o grupo da morte justificou sua fama. A Argentina começou bem, mesmo sob pressão e já mostrou avassaladores recursos contra Servia e Montenegro. Holanda e Costa do Marfim protagonizaram um dos melhores confrontos da copa até aqui, sendo que os africanos podem, tal qual Camarões em 82, sair aplaudidíssimos, mesmo eliminados na primeira fase, visto que encararam dois gigantes de cabeça erguida e não mereceram perder para os holandeses. Terão chances para uma bela despedida contra os sérvios.

Surpresas boas também vieram do Equador com duas largas vitórias, mas os sul-americanos ainda precisam provar que não encolherão diante dos poderosos. Terão um excelente teste segunda-feira contra a Alemanha, e, caso peguem a Inglaterra nas oitavas, precisarão jogar mais do que vêm jogando para seguir adiante.


O grupo F vem mostrando ao Brasil as conseqüências drásticas das apostas que fez no período de preparação, pois enquanto boa parte dos trinta e dois participantes passaram o ano realizando amistosos significativos para testar suas forças, corrigir erros e afiar qualidades, a CBF preferiu uma política de marketing e preservação física de nossos atletas, evitando situações que pudessem contundi-los ou duelos mais competitivos, temendo uma eventual perda do rumo otimista conquistado na eliminatória e na copa das confederações. Em suma, o que ocorreu com os alemães meses atrás ao perceber sua fragilidade numa derrota de 4 a 0 para a Itália e em vitórias magras contra oponentes pífios, sucede hoje com o Brasil, que escolheu se preparar durante o mundial, baseando-se numa filosofia de “crescer dentro da competição”, apostando na histórica capacidade verde e amarela de superar obstáculos nas piores situações e “encontrar seu futebol”. O que nossos experts da CBF e da comissão técnica esquecem é que copa do mundo não é campeonato de pontos corridos e que um simples tropeço na primeira fase (ou nas oitavas) pode interromper esse crescimento, calcificando uma impressão enganosa de nossa seleção para os próximos quatro anos, simplesmente porque o time não se preparou adequadamente.

2006 será uma copa forte e, ao contrário de 2002, contará com um bom número de seleções tradicionais nas fases decisivas e também duelos memoráveis. Fico sentido em ver que poderíamos (e ainda podemos) exercer um papel importante e digno nessa grande festa, mesmo sem conquistar título, mas a CBF sucumbiu à soberba de apegar-se à imagem vencedora do selecionado, vendê-la a quem quisesse, desperdiçar datas fifa com amistosos desnecessários de cunho político, promocional ou financeiro (vide Brasil e Rússia no inicio do ano a 15 graus abaixo de zero para promover uma marca de cerveja), tornar a amarelinha um grande caça-níqueis que pode culminar com uma participação humilhante dentro do mundial, transformando o slogan “Joga bonito” em piada internacional e até manchando o brilho do penta, visto que seus principais protagonistas (à exceção de Rivaldo) não foram capazes de endossar os méritos do título obtido há quatro anos quando estiveram na copa em que os grandes times realmente foram grandes.

Sinceramente, espero estar enganado e ver a história se repetindo com outra bela virada da seleção, mas isso também faria a CBF cometer os erros de sempre, não?

Luiz Mendes Junior também escreve no blog:www.noticiasdofront3.blogspot.com