domingo, junho 11, 2006

A Família Scolari

___________________________________________________________
Ricardo Stabolito Junior

É inegável o grande trabalho feito por Luiz Felipe Scolari ao futebol brasileiro na Copa de 2002. O treinador pegou a seleção nacional em um de seus piores revezes da história e conseguiu transformá-la num time vencedor novamente. O grupo que ficou conhecido como “Família Scolari” era um time ciente de suas fraquezas e empenhado em fazer o Brasil vencedor mais uma vez, após a decepção da Copa de 1998 e das eliminatórias para a Copa de 2002.

Injetando confiança nos jogadores, cercando a seleção em um clima de união há muito tempo não visto, Scolari conseguiu recuperar a auto-estima de um grupo que rumava para o fracasso. O treinador ficou alheio à opinião popular – quando o Brasil inteiro clamava pela convocação de Romário, ele apostou na recuperação de Ronaldo, que ninguém sabia se seria concluída com sucesso. O treinador, indo de encontro ao histórico brasileiro em Copas e a própria filosofia do futebol moderno, escalou três zagueiros e dois volantes entre seus onze titulares – um time defensivo – para jogar a Copa do Mundo, identificando e tentando corrigir um problema na defesa que já se tornara crônico na seleção.

No fim, Felipão não poderia ter sido mais bem sucedido, tornando o Brasil campeão mundial e vencendo todos os jogos que disputou. E esse sucesso se deu porque a “Família Scolari” era muito mais do que um time de futebol: era toda uma filosofia de trabalho e convivência.

Qual não foi a minha surpresa quando, ouvindo repórteres portugueses, a expressão “Família Scolari” voltou a ser proferida de forma confiante. Isso mesmo, a “Família Scolari” está de volta.

O treinador, reverenciado pelos bons resultados, implanta fórmula parecida à aplicada em 2002 no Brasil para fortalecer o selecionado português. Os portugueses estão cercados por uma confiança muito grande: um clima muito agradável e tranqüilo impera na concentração lusitana. Mesmo com o regime de poucas entrevistas coletivas (uma por semana) que Felipão cede, os profissionais de imprensa confiam piamente no treinador. Em Portugal, o trabalho de Scolari é muito respeitado e uma pesquisa comprovou que cerca de 80% da população aprovou integralmente a convocação da seleção local.

Em seu episódio mais notório à frente da seleção de Portugal, Scolari barrou o experiente goleiro Vitor Baía (ao lado) para colocar o jovem Ricardo como titular. Se na época, a decisão foi contestada, hoje ela se mostra mais do que acertada, em vista que Baía não passa mais pela fase que fez dele um goleiro respeitado no futebol europeu.

Além disso, o treinador atendeu a uma reivindicação popular e, mostrando o quão coeso e forte ele pretende que esse grupo seja, convocou o machucado e sem condições de disputar a Copa zagueiro Jorge Andrade, do Deportivo La Coruña, fazendo dele o vigésimo quarto integrante do elenco. O jogador, que participou de toda a campanha de Portugal em busca da classificação para o Mundial, se tornou um símbolo de uma nova etapa da “Família Scolari”.

Outro ponto interessante é que, agora, Felipão pode integrar sua “Família Scolari” com muito mais calma. Isso porque ele não tem, como teve no Brasil de 2002, o peso sobre as costas de ser um Salvador da Pátria. Em Portugal, a pressão sobre o treinador é bem menor. Se a chegada às quartas-de-final ou semifinal da Copa era quase uma obrigação quando comandava o Brasil, em Portugal seria conseguir o melhor resultado da sua seleção em 40 anos. Scolari tem em mente que sua meta no Mundial é mais do que possível de ser alcançada.

Assim sendo, não se surpreendam se Portugal chegar mais longe do que imaginam. Afinal, a “Família Scolari” está de volta. O único perigo é que agora ela está contra nós.

Portugal faz sua estréia na Copa 2006 neste domingo, em Colônia, diante de Angola, às 16h00 (de Brasília)

Nenhum comentário: