domingo, junho 11, 2006

Elefantes em maus lençóis

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Luiz Mendes Junior

Espero pouco da África nessa copa. Assisti a alguns jogos do campeonato continental, realizado este ano, e não faço fé em seleções como Togo, Tunísia e Angola. Gana, para mim, é uma incógnita, e a Costa do Marfim, se tivesse desfrutado de mais sorte com as bolinhas (Gana também não teve muita), poderia despontar como o grande representante africano na Alemanha, capaz de igualar campanhas históricas como a de Camarões em 90 e Senegal em 2002.

Infelizmente, a roda da fortuna não ajudou. Os "Elefantes", como são mundialmente conhecidos, prepararam-se bem e possuem um elenco com estrelas experientes de calibre internacional, como Didier Drogba, do Chelsea, e Emmanuel Eboué, do Arsenal. Impuseram ritmo forte e frenético contra uma Argentina mentalmente focada em não repetir seu recente fiasco e também ciente de que não podia errar, de que cada jogo de primeira fase precisa ser encarado como uma final.

Mas, como a Nigéria de 2002 (aliás, melhor), os elefantes acabaram injustiçados pelo destino. Possuem um time que se caísse na chave da França ou da Alemanha, certamente chegaria às oitavas, mas cercado por Holanda, Argentina e Sérvia, precisaria, além de jogar muito, errar pouco (ou quase nada) e ter bastante sorte para ir além da fase de classificação.

Com uma derrota já decretada, só um auxílio significativo dos deuses futebolísticos somado a uma extrema competência para evitar que saiam na primeira fase. Foram eficientes contra os argentinos, mas não o bastante, e perderam gols imperdoáveis num confronto deste calibre, ao contrário dos adversários, que já deixaram claro estarem entre os favoritos ao título, tanto em termos técnicos, quanto físicos e psicológicos. Não pretendem deixar que as bolinhas os impeçam de seguir adiante outra vez.

Presenciar tal atitude mental dos jogadores argentinos me fez temer pelo destino do Brasil, que, como os portenhos, possui uma esquadra tecnicamente muito forte (talvez a mais forte da Copa), mas pode ainda não ter adquirido o ar guerreiro que uma seleção campeã precisa ostentar desde a primeira partida.

Croácia, Austrália e Japão não constituem um grupo da morte, mas estão bem acima das babas que pegamos em 2002 durante a primeira fase. Discursos como o de Parreira, alegando que sua seleção não pode estrear com 100% da capacidade podem até fazer sentido, mas são perigosos, pois partem do princípio histórico de que o Brasil "sempre passa" da primeira fase, e isso não existe. Passar da primeira fase requer extrema preocupação em passar da primeira fase.

Como consolo anti-portenho (por mais que eu admire a seleção Argentina, não consigo torcer por ela) resta saber que eles também venceram uma equipe africana na estréia de 2002, também num "grupo da morte", e, ainda assim, caíram antes das oitavas. Ocorrerá de novo? Algo me diz que não.

Agora, pulando para o grupo B, Inglaterra e Paraguai disputaram uma partida razoável, sendo que os sul-americanos pagaram caro pelo mau início e, mesmo evoluindo e "mordendo" no segundo tempo, não conseguiram quebrar a marcação inglesa, usufruindo de pouquíssimas chances de gol. Sem Rooney, os britânicos não encantaram, mas fizeram partida sóbria, souberam assustar e complicar o Paraguai no começo, e também travar seu poderio ofensivo, evitando espaço para boas conclusões. Mesmo na etapa final, quando o oponente teve mais posse de bola e iniciativa, desfrutaram número superior de chances claras em gol.

Alguns comentaristas podem criticar Eriksson e seus pupilos por quererem administrar a vantagem em vez de se arriscar demais buscando ampliá-la, porém, partindo de uma ótica futebolística inglesa e considerando seus focos no título - semelhante àquele nosso de 1994 após jejum de 24 anos -, penso que a turma de Beckham foi inteligente e melhor na maior parte do jogo, apesar das raras pixotadas da defesa e do atrapalhado Crouch. Quem, afinal, pode garantir que sua altura (e o medo que ela provoca em defesas nas bolas aéreas) não fez com que Gamarra se precipitasse um pouco ao interceptar o chute de Beckham de qualquer maneira, marcando contra?

Sobre Trinidad e Tobago, pouco de bom para falar. Time aguerrido, não temeu a camisa sueca, mostrou aplicação, empenho, mas pouco poder de fogo. Pode passar da fase de grupos, e, contando com a divina sorte de cruzar com um Equador nas oitavas (algo pouco provável), sonhar em ficar entre os oito, mas é, indubitavelmente, fraco, e deve menos seu pontinho atual na competição a grandes méritos defensivos do que à falta de mira dos atacantes suecos (Allback em especial), que devem estar possessos em desperdiçar dois pontos quase certos.

Luiz Mendes Junior também escreve no blog:www.noticiasdofront3.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Fazendo uma pesquisa, por acaso encontrei seu blog e dei uma lida em algumas coisas.

Só pra retificar: a frase "o futebol é a coisa mais importante das coisas sem importância" é do jornalista Matinas Suzuki, ex-editor da Folha de São Paulo.

Se o Milton Nevez disse que criou tal definição, é mais um de seus já famosos embustes.