domingo, março 26, 2006

Bola na rede

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Ricardo Stabolito Junior

Em 1997, Gustavo Kuerten se tornou o primeiro tenista brasileiro a ganhar um torneio de Grand Slam – Roland Garros. Ele foi para a França quase como um desconhecido no país e voltou como um herói nacional, impulsionando uma grande moda entre os garotos e garotas do Brasil: praticar tênis.

Acreditava-se que o empurrão de Guga serviria para colocar definitivamente o Brasil no mapa do esporte, criando uma nova geração de campeões. Quando o tenista chegou ao seu terceiro e último título em Roland Garros (2001), jogar tênis já não era mais frisson que fora um dia.

Hoje, três tenistas se revezam na briga pelo posto de melhor do Brasil: Flávio Saretta, Ricardo Mello e Marcos Daniel. No entanto, nenhum alçou vôos mais longos do que meados da posição 50 no ranking da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) em seus melhores momentos. Além disso, quando os melhores tenistas do Brasil se rebelaram contra o presidente da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), Nelson Nastás (foto acima), e não disputaram a Copa Davis, as jovens promessas do esporte assumiram a seleção, mas não conseguiram vencer jogadores de países de terceiro escalão do tênis no continente.

Esses fatos nos permitem concluir que aquela nova geração que acreditávamos estar em formação no país provavelmente não existe, ou, se existe, não se desenvolveu de maneira correta. Mas por que será que ela não se desenvolveu?

O principal motivo parece ser a não interferência do governo, através do ministério dos esportes, na época áurea de Guga. Quando não se interfere no ciclo de uma “moda” (como foi o tênis entre os jovens no Brasil) é inevitável seu prematuro final e ela não se torna uma tendência. Ao invés do ministério buscar formas de profissionalizar o esporte no país, criar um forte e estruturado circuito nacional ou dar apoio financeiro para os jovens talentos para que eles não abandonassem o esporte, a única ação ligada ao tênis foi o início de uma campanha (bem sucedida, por sinal) para trazer um torneio do ATP Tour ao país - o Brasil Open. Assim, o que se iniciou como uma moda, acabou como uma moda.

Outro motivo, de natureza incontrolável, foi a própria carreira de Gustavo Kuerten. O tenista conseguiu se manter competitivo por, mais ou menos, cinco anos – de 1997 (primeiro torneio de Roland Garros) até 2002. Uma sucessão de contusões que o persegue até hoje fez com que ele não conseguisse mais se manter entre os melhores e mais constantes desde tal época tenistas do circuito desde tal época. No fim, cinco anos parecem não ter sido tempo suficiente para que se criasse uma geração de campeões.

Além disso, o tênis é um esporte que requer equipamentos muito caros para a maioria da população brasileira. Diferente do futebol, que pouco os exige e pode ser jogado em praticamente qualquer local, o tênis é um esporte de caráter elitista praticado em clubes e campos especializados. Logo, o tênis se mostra fora da realidade econômica brasileira.

Não é possível dizer com certeza que o Brasil “desperdiçou passivamente” uma geração de campeões porque faz apenas nove anos que a “explosão” do tênis no Brasil ocorreu. É possível que uma safra de talentos que insistiram no esporte esteja agora competindo em torneios juvenis por aqui ou aproveitando um patrocínio e treinando no exterior. Mas, o mais provável, é que a bola do tênis brasileiro parou na rede.

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