terça-feira, julho 04, 2006

Síndrome de Maradona

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Henrique Moretti

E a Argentina caiu de novo em Mundiais. E de novo caiu cedo, antes das semifinais. Para “los hermanos”, a mesma história se repete desde a Copa de 90, na Itália, quando, contando com Maradona (e principalmente naquele Mundial, com o “tapa-penales” Goycoechea), chegaram à final. Mesmo sem jogar bem, é verdade, mas chegaram.

A partir da competição em solo italiano a sorte argentina não é mais a mesma. Em 1994, obtiveram a classificação apenas na repescagem, contra a Austrália (com direito a derrota por 5x0 ante a Colômbia, nas Eliminatórias). Assim mesmo, estrearam com a banca toda contra a Grécia, num 4x0 com bom futebol e que marcaria o último gol de Diego Maradona com a camisa albiceleste. Como todos sabem, Dieguito caiu ao ser pego no dopping e a seleção também não resistiu, quando nas oitavas nem os gols de Batistuta adiantaram para parar a Romênia, de Hagi: 3x2.

Para o Mundial da França, de 98, a Argentina tinha um timaço. Verón, Ortega e Batistuta estavam no auge da forma. Redondo era outro que estava, considerado o melhor volante do mundo na época, mas o ex-atleta do Real Madrid ficou de fora da Copa por não se sujeitar às regras do treinador Daniel Passarella, que mandara os jogadores não usarem cabelos compridos. Apesar de tudo, o grupo fácil, com a companhia de Jamaica, Japão e Croácia foi um prato cheio para a equipe, que avançou tranqüilamente para enfrentar, e vencer, os arqui-rivais ingleses. O goleiro Carlos Roa surgiu bem nas cobranças de pênaltis para levar os argentinos às quartas-de-final, onde sucumbiram contra a Holanda, no finzinho do tempo regulamentar, num gol histórico de Dennis Bergkamp.

Na Copa de 2002 veio a maior decepção. A Argentina, de campanha impecável nas eliminatórias, apareceu como grande favorita ao título, junto à França. Ambas acabaram caindo ainda na primeira fase, e o time de Bielsa, que ainda tinha remanescentes de fracassos anteriores, como Batistuta, Caniggia e Veron, fez a torcida argentina chorar pela eliminação quando todos consideravam que aquela seria a grande chance. O grupo em que a seleção caiu também não ajudou: um dos mais difíceis da história das Copas, com Nigéria, Suécia e Inglaterra.

E agora, no Mundial da Alemanha, quando nossos vizinhos chegaram discretamente, de mansinho, e foram pouco a pouco construindo um favoritismo (chegando a encostar no Brasil nas casas de apostas), com boa vitória sobre as perigosos marfinenses, goleada sensacional de 6x0 sobre sérvios e virada no coração pra cima dos mexicanos.

Porém, novamente os argentinos sucumbiram, agora diante dos anfitriões alemães, numa partida muito disputada, em que até começaram bem, controlando o ímpeto inicial da Alemanha, que foi característico durante a competição. E ainda saíram ganhando, gol de Ayala, mas depois não souberam segurar o resultado. Pekerman efetuou substituições equivocadas e Klose empatou. A Argentina ainda teve o azar de perder o goleiro Abbondanzieri, machucado, quando o jogo ainda estava 0x0.

E nos pênaltis, o mesmo Ayala, talvez o melhor jogador argentino na Copa, desperdiçou a cobrança, como fez Cambiasso, fazendo com que a albiceleste voltasse pra casa mais cedo, de novo, ampliando o jejum de semifinais por mais quatro anos.

A verdade é que a Argentina parece estar vivendo uma “síndrome de Maradona”, como a que o Brasil viveu nas décadas seguintes à aposentadoria de Pelé, quando ficou por 24 anos sem títulos em Mundiais, de 1970 a 1994.

“Los hermanos” têm bons jogadores, bom ambiente, união, torcida que participa e incentiva, técnicos renomados, mas não conseguem chegar ao ponto máximo do futebol mundial como feito quando puderam usufruir do talento de Dieguito. Talvez seja em 2010, quando com Messi mais maduro, e melhor aproveitado, a equipe encontre um substituo à altura do antigo ídolo.

Enquanto isso o povo argentino, fanático, chora por mais uma eliminação precoce de sua seleção.


Ucrânia, zebra às avessas

A história das Copas do Mundo são marcadas por zebras. Nas competições mais recentes então, o aparecimento do mamífero listrado é mais constante ainda. Porém poucas vezes se viu uma surpresa com um futebol tão pobre quanto o da Ucrânia.

Shevchenko e seus companheiros foram a única seleção sem tradição a se infiltrar entre os oito primeiros da Copa 2006, onde todos os seis campeões mundiais participantes estiveram, mais Portugal, de Felipão.

Mas o futebol apresentado pelo país da ex-União Soviética não é digno de se figurar no rol dos oito mais de uma competição desse porte, já que em praticamente nenhum momento a Ucrânia apresentou alguma coisa, salvo no jogo contra a Arábia Saudita, quando goleou por 4x0. Mas, convenhamos, é a Arábia Saudita...

De resto, derrota acachapante sofrida para a Espanha, vitória polêmica diante da fraca Tunísia e triunfo nos pênaltis após um fraco 0x0 contra a Suíça.

O fato é que a Ucrânia chegou bem mais pela facilidade que apareceu em seu caminho do que por seus próprios méritos. É claro que os comandados de Oleg Blokhin não têm culpa disso, mas até então zebras como Turquia, Senegal, Croácia, Camarões e tantas outras mostraram bem mais futebol que os ucranianos.

Apesar de tudo, a estreante Ucrânia termina a campanha na Alemanha chegando já nas quartas-de-final, e o craque Shevchenko conseguiu deixar sua marca em redes de uma Copa do Mundo (duas vezes), mediante a outros grandes jogadores que nunca anotaram na maior competição do futebol do planeta, ou que sequer participaram dela. Valeu, Sheva!

Coluna também publicada em www.voleio.com

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