quarta-feira, maio 31, 2006

Dois pesos e duas medidas

___________________________________________________________
Henrique Moretti

Na semana passada, o técnico Raymond Domenech surpreendeu após anunciar seus eleitos para representar a França na Copa do Mundo 2006. As ausências de Anelka, Pires e Giuly ficaram em segundo plano diante da declaração de que o dono da camisa 1 será Fabien Barthez (o 1 fica como força de expressão, já que na verdade ele usará a 16, a da sorte).

A longa batalha vencida por Barthez diante de Grégory Coupet, goleiro do Lyon, claramente em melhor fase que o decadente e irregular “carequinha” vem diretamente na contramão ao anúncio de Jurgen Klinsmann quando este convocou a seleção alemã, proclamando o goleiro em melhor momento, Lehmann, titular, e o experiente mas em pior fase, Kahn, reserva. Não há expressão melhor para definir as duas escolhas como “dois pesos e duas medidas”.

A explicação vem a galope: se no caso alemão Klismann optou pelo goleiro que nitidamente vem jogando melhor, Jens Lehmann, do Arsenal, que chegou a ficar quase 900 minutos sem tomar gol na UCL, preterindo o consagradíssimo Oliver Kahn, que já foi à três Mundiais, Domenech optou pela voz da experiência Barthez, titular em nas campanhas francesas de 98 e 2002, deixando Coupet, que brilha no pentacampeão francês Lyon, no banco.

Apesar de Fabien Barthez contar com toda experiência a seu lado, futebol é momento e o goleiro do Marseille não vive boa fase, e não é de hoje. Desde que aterrisou no Manchester United (na temporada 2000/01) ele não consegue manter uma boa regularidade, tanto é que saiu sem deixar muitas saudades na equipe inglesa. Quanto a Coupet, este, como o concorrente, também não é nenhum garotinho. Possui 33 anos, um a menos que Barthez, e uma boa fase de encher os olhos, tanto física quanto técnica.

Pelos lados bávaros, Kahn ameaçou abrir mão de disputar o Mundial por causa do banco de reservas, mas deixou de lado a opção pelos milionários contratos assinados com sua patrocinadora visando o maior evento futebolístico do planeta. Coupet, por outro lado, é acusado de criar confusão na concentração francesa. A imprensa européia chegou a noticiar no decorrer dessa semana uma briga entre o goleiro e o treinador Domenech, quando, reivindicando um lugar entre os 11 titulares, Coupet teria deixado o hotel onde os companheiros se hospedam em um carro particular, para retornar, arrependido, meia hora depois. Sendo assim, além do aparente “prejuízo técnico” da titularidade de Barthez, a opção aparece como problema para a boa harmonia do grupo francês, com a má conduta do futuro reserva.

Assim, os Blues, agora com problemas internos, ficam mais longe da histórica conquista do bicampeonato mundial, que consagraria ainda mais a geração de ouro francesa, de Zidane, Makelele, Vieira, Thuram e do próprio Barthez, que se despede da seleção nessa Copa. Quanto ao gol, resta aos torcedores que a escolha aparentemente errada de Domenech se apresente acertada, com o seu camisa 16 revivendo as grandes atuações da Copa de 98. Enquanto a resposta não vem, não há como se ignorar a impressão de que essas duas batalhas de tamanha importância poderiam ter sido vencidas a partir de critérios idênticos e mais justos. Não foram.

Coluna também publicada em www.voleio.com

Nenhum comentário: