quinta-feira, dezembro 01, 2005

A “industrialização” do Futebol

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Christian Avgoustopoulos

Nos tempos atuais, a evolução nos diversos segmentos em que o homem atua vem se tornando indispensáveis. Um ponto marcante desse processo, é sem duvida nenhuma a especialização dos profissionais de cada área, onde cada vez mais são exigidos em sua função, que deve ser executada com extrema autoridade, técnica, ciência e competência.

Mas o que isso tem a ver com o futebol? Tudo! Nessa nova era mundial, o futebol também sofreu suas metamorfoses. Não é recente o fato dele ser considerado como uma profissão. Em meados de 60, 70, já era bem nítido isso nos países onde o esporte era mais difundido, principalmente na Europa e América do Sul.

Bem, os parâmetros do atual futebol, no entanto, nos condicionam a uma situação bem mais complexa e profissional do que nas épocas passadas. Os clubes são praticamente empresas, que prestam o serviço do futebol através de seus funcionários, os jogadores, e também vendem seus produtos para todos aqueles que se interessarem em adquirir.

Isso de certa forma é um tanto preocupante, por um simples motivo: esporte não é comércio, nem marketing, nem administração, nem serviço a ser prestado. Esporte é pura e simplesmente esporte. Sua base vem do espírito olímpico, da garra, da raça, da superação de limites, da psicologia, da técnica, da habilidade...dentre outros diversos fatores.

E há também que se levar em conta um dos personagens mais importantes do futebol, o torcedor. Sem o torcedor, o futebol não teria sequer um pouquinho do brilho que tem. Afinal, é o torcedor que propaga o tal esporte, é ele que dedica o seu tempo a algo em que não vai ganhar nada. Nada de material, mas a emoção de se ter um time para torcer e de acompanhar as partidas de futebol é simplesmente indescritível. E esse sujeito aí, o tal de torcedor, tem que ser respeitado e considerado, o que pode ser conflitante com essa idéia “industrial” em que o futebol vive.

Imagine você leitor, ver o principal jogador do seu time transferido para um time mais rico, ou até mesmo para o seu principal rival e adversário. Isso certamente lhe deixará aborrecido, e você não hesitará em dizer que o tal jogador é mau-caráter e outras coisas que nem posso mencionar aqui, para manter o bom nível da matéria.

Como também aceitar que, após ver seu time com uma excelente safra, indo o mais longe possível nas competições que disputa, sofrer o famoso “desmanche” no ano seguinte, com seus principais jogadores migrando para outras equipes, pura e simplesmente por dinheiro?

É verdade que o profissional tem o direito de escolher a empresa onde pretende trabalhar, aquela que lhe dará um maior retorno e melhores condições de serviço, mas meu espírito romantista jamais entenderá o futebol como negócio, “business”. Pra mim, e acredito que também para os torcedores em geral, a fidelidade e o amor à camisa são qualidades imprescindíveis, que talvez possam ser levemente amenizadas se o jogador for um craque, um gênio da bola. Mas quando ele partir do seu clube você ficará com o mesmo sentimento de indignação e de que foi apunhalado pelas costas por aquele que você, debaixo de chuva, frio, as vezes sem dinheiro e até mesmo viajando longínquas distancias, incentivou naqueles 90 minutos em que ele esteve atuando por seu time, ou como sugere a realidade, pura e simplesmente trabalhando.

Os clubes pequenos e médios têm bastante dificuldade em manter os seus medalhões e pratas-da-casa. Esses jogadores, promissores, são seduzidos por ofertas tentadoras de clubes de maior expressão, e muitas vezes antes mesmo de atingir a maioridade, são influenciados por seus empresários (outra palavra que não combina com o futebol) para aceitarem as propostas milionárias que são feitas por outros clubes com mais poder aquisitivo. Os clubes de menor expressão se vêem obrigados a concretizar o negócio, já que também tem dificuldades para gerir o orçamento de sua instituição, e até mesmo por um motivo óbvio, se o jogador não está contente onde joga ele cairá de produção.

Existem alguns raros jogadores espalhados pelo mundo, contudo, que jogam em seu clube por uma identificação pessoal com a instituição, enfim, torcedores do time em que jogam. Alguns exemplos conhecidos são Rogério Ceni e Marcos, respectivamente jogadores de São Paulo e Palmeiras, que estão nesses clubes por ter uma ligação emocional muito fortes com as equipes onde jogam. Na Itália, temos o atacante Cristiano Lucarelli (foto), do Livorno Cálcio, que ostenta uma tatuagem do distintivo do clube no braço, e diz que só sairá do Livorno no dia em que o clube entender que ele não tem mais condições de defender a equipe. Há também Francesco Totti, torcedor do Roma, que vai prolongando seu contrato por mais e mais tempo. Há ainda outros casos espalhados pelo mundo, porém são raros e nem sempre com jogadores da mais alta qualidade.

Outro fator que também merece destaque é o inflacionamento dos atletas e de seus salários. Na busca pelo que há de melhor, os grandes clubes não se importam em gastar quantias estratosféricas por um ou outro jogador. As multas contratuais são cada vez mais altas, para que ambos, clube e jogador, honrem seu compromisso até o final. Recentemente, Ronaldinho Gaúcho, um dos melhores do planeta no esporte, teria recebido um convite do Chelsea pelo valor de 140 milhões de euros por 9 anos de serviço, sem falar no pagamento da multa de 120 milhões que o ligava ao Barcelona, o que foi recusado pelo atleta. Para se ter uma idéia, em 1974, nada menos que Pelé (foto) teria recebido 7 milhões de dólares para defender o Cosmos, dos EUA, na maior transação da história até aquele momento.

Talvez o futebol pudesse ser mais divertido ou emocionante se tivesse mantido seu aspecto romantista, que hoje parece ser utópico. Não temos como saber. O fato é que essa foi a evolução natural do esporte, combinada com as mudanças que o mundo e a forma de vê-lo foram acontecendo. Contudo, mesmo sofrendo essas grandes mudanças, a magia do esporte continua a mesma, e dentro das quatro linhas ainda podemos ver uma das mais belas artes produzidas pelo homem.

2 comentários:

Anônimo disse...

Haaaaa vc eh um romantico puro...eu nao sei se sou um romantico...mas sempre joguei o futebol pelo prazer...a diferença entre os jogadores e os amantes do futebvol eh simples...eles se veem como funcionarios...e nao como amanates...infelizmente...mas fazer uq...sempre honrarei meu time...jamais jgoando do lado adversario =P

salve o AAS

FuiZ

Anônimo disse...

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