quarta-feira, novembro 30, 2005

Ser ídolo do tênis no país do futebol

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Henrique Moretti

20 títulos de simples na carreira. 11 de duplas. 52 semanas como o número 1 do mundo, posição que só perdeu devido a uma contusão. 3 Grand Slams conquistados. Indicado a ser garoto propaganda da campanha de Paris aos Jogos Olímpicos de 2012, superando Zinedine Zidane. Melhor tenista brasileiro de todos os tempos.

Soma-se a isso ter nascido num país como Brasil, sem nenhuma tradição no seu esporte escolhido, o tênis, exceção feita a Maria Esther Bueno nos anos 50 e 60.

É, os números são muitos na carreira de Gustavo Kuerten, o “manezinho da ilha”, o filho de Florianópolis, Santa Catarina, o surfista, o queridinho da capital francesa, o herói brasileiro.

Guga, por seus títulos, por seu passado, por sua grandeza, podia, e devia, ser muito mais reconhecido pela mídia esportiva do país. Diz que não liga mais pra isso, mas na época áurea isso pesava. Com o seu surgimento, na conquista de seu primeiro Roland Garros, em 1997, milhares de pessoas que se diziam jornalistas passaram a opinar em seu esporte. E pior, alguns sem saber nada sobre o assunto o criticavam a cada derrota, achando que tênis era igual a futebol. Quando vencia era idolatrado. Quando perdia, execrado. Bobagens.

Gustavo Kuerten superou a tal desconfiança e a pressão por cada vez mais vitórias na quadra, na raça, amadurecendo. Depois de vencer o Grand Slam francês mais duas vezes em 2000 e 2001, se tornando o número 1 do mundo após a conquista da Masters Cup 2000 (a Copa do Mundo do tênis), o surfista começou a penar.

As derrotas, após o US Open 2001, vieram. E vieram aos montes. Foram 9 em 10 jogos no fim da mesma temporada, o que culminou com a perda da liderança do ranking para o jovem australiano Lleyton Hewitt. Sinais de contusão.

Nova fase para o tenista. Guga passou a lutar contra si mesmo, e após inicio de temporada pífia em 2002, apelou para a temida cirurgia no quadril. As dificuldades chegaram ao clímax e Kuerten pode ter pensado em abandonar a carreira. O que ainda lhe motivava, depois de ter chegado ao ápice do esporte.? No tênis, esporte de muita pressão, é corriqueiro ocorrer aposentadorias precoces, seja devido as severas contusões, seja a cansaço mental, seja ter por ter alcançado a fama muito jovem. Esses foram os casos da suíça Martina Hingis, campeã de um Grand Slam com apenas 16 anos e aposentada aos 24. Caso também do chileno Marcelo Rios, que abandonou o esporte antes também de chegar aos 30.

Gustavo voltou meses antes do prazo estipulado para sua recuperação. As dores não desapareceram e ele não conseguia mais voltar a ser o mesmo. Derrotas em primeiras rodadas dos mais diversos torneios passaram a ser corriqueiras. Conseguir se manter a semana inteira numa mesma cidade, no mesmo torneio, passou a ser fato raro.

Decepções e mais decepções. Guga mesmo assim não era um tenista qualquer. Mesmo com as dificuldades, conseguia manter-se entre os 20 melhores tenistas do mundo, o que não é de modo algum fácil de alcançar. É só perguntar para Flávio Saretta, para Ricardo Mello, para Fernando Meligeni, brasileiros que nunca alçaram vôo tão alto.

Veio 2003 e a esperança ressurgiu. Título logo no primeiro torneio do ano, em Auckland e chegada a uma final de Masters Series, em Indian Wells. Perdeu a final de maneira facílima para Hewitt. Mesmo assim, era um grande feito. Parecia que Guga despontaria novamente. Ledo engano. Veio Roland Garros e o tenista não conseguia mais passar das oitavas, sendo eliminado nessa fase no mesmo ano. Claro que acabou não conseguindo se classificar para a Masters Cup, que só reúne os 8 melhores classificados no Ranking de Entradas, mas ainda assim se mantinha entre os cabeças-de-chave das maiores competições.

Depois de um início de 2004 deprimente, boa campanha em Roland Garros no meio do ano, batendo o número 1 do mundo Roger Federer por incríveis 3 sets a 0 e derrota apenas nas quartas-de-finais. Mesmo com ninguém esperando tal feito, era uma grande chance para o tetra-campeonato em Paris, mas a lesão não permitiu novamente. Kuerten voltou a sentir. Chegando à temporada de quadras rápidas, ele não conseguiu resistir e as derrotas vieram à tona novamente, como na eliminação vexatória na primeira rodada do US Open. Nessa época, o tenista aparecia mais fora da quadra do que dentro, pois tinha liderado o boicote ao presidente da Confederação Brasileira de Tênis, Nelson Nastás, que resultou no boicote de todos os principais jogadores à Copa Davis, competição em que os tenistas jogam por equipes, defendendo as cores de seus países. Novamente, Guga podia ficar ali parado, tranqüilamente, pois já era tenista formado, já tinha muito dinheiro no banco, enfim, já tinha a vida ganha. Mas não, ele preferiu lutar por melhorias na estrutura geral de seu esporte no Brasil, pensando sempre na formação de novos talentos. Esse feito seria comparável a se um grande jogador de futebol brasileiro, como Ronaldo, decidisse boicotar a Seleção Brasileira até o presidente da CBF Ricardo Teixeira resolvesse abandonar o cargo. Está provada aí a grande importância do tenista, também na política.

O resultado provou ao brasileiro que talento ele ainda tinha para competir de igual pra igual com os melhores do mundo, porém faltava condições físicas. Com isso, Guga foi consultar um cirurgião americano pensando em nova cirurgia no quadril. A resposta foi boa e o tenista partiu novamente para o desafio de “entrar na faca”. Ele podia ficar tranqüilamente rondando a zona dos 30 melhores do mundo, ganhando seu dinheirinho, chegando a semifinais, a quartas, mas não. Guga queria mais, queria tentar voltar a ser o que era antes.

A cirurgia, realizada no fim de 2004, prejudicou todo o corrente ano de 2005. Dessa vez, Guga não apressou seu retorno, que só ocorreu às vésperas de seu torneio predileto, Roland Garros. De imediato, Guga sofreu com a já esperada falta de ritmo e foi obrigado a ver sua pior participação no torneio parisiense, perdendo na primeira rodada. Então Guga, ainda em fase de recuperação, preferiu se dedicar aos treinamentos, à fisioterapia, e disputar menos torneios, terminando o ano sem títulos, fato inédito na carreira do tenista, desde sua explosão.

Hoje, Kuerten continua tentando ser aquele tenista campeão, aquela certeza de alegria ao povo brasileiro sempre que entra na quadra, aquele manezinho desleixado e despreocupado, de bem com a vida, de riso fácil, que cativa as crianças (e os adultos também!), enfim, aquele campeão que o Brasil todo se acostumou a ver.

O treinamento é duro. O caminho, cheio de obstáculos, mas Guga, que inclusive desmanchou seu "casamento" com o técnico que o guiava desde os 15 anos de idade, Larri Passos, espera passá-los por eles com muita dedicação e força de vontade. Senão, de que valeria a pena duas cirurgias, mudança de treinador, confusão na política, tudo o que Gustavo Kuerten passou nos difíceis tempos de recuperação. A volta por cima é difícil, mas o campeão quer provar a todos, e a si mesmo, que é possível voltar a vencer no mundo do tênis. Voltar a sorrir. Em todo caso, Guga tem crédito.

Coluna também publicada no site voleio.com - O seu esporte em pauta.

3 comentários:

C. Avgoustopoulos disse...

Justa homenagem ao Guga, que sem duvida foi um dos maiores atletas que já tivemos. É de fato mto dificil ter reconhecimento em um esporte pouco difundido como era o tênis antes do Kuerten.

Grande texto!

Anônimo disse...

Nossa...cadê esse Guga de merda??
o q ele ganhou nos ultimos anos??
esse cara jah era..eh uma farsa...
ídolo da pqp!!!

Anônimo disse...

Linda homenagem ao grande Guga! É bom saber que ainda existem brasileiros que respeitam o grande vencedor que Guga é!