quarta-feira, junho 21, 2006

A fantástica Espanha

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Pedro Galindo

Durante essas últimas semanas, tentei ao máximo escapar da faculdade e de todas as outras obrigações para assistir à tão aguardada Copa do Mundo. Até agora não tive tanto tempo para, realmente, acompanhar todos os jogos, observar táticas e jogadores, mas confesso que fiquei impressionado com a “Fúria”.

A seleção treinada por Luís Aragonés tem todos os pré-requisitos de uma seleção forte e consistente: goleiro altamente confiável – talvez até o melhor do mundo –, dupla de zaga de bons valores individuais, formada por Carles Puyol, destaque do bi-campeão espanhol Barcelona, e Pablo, do Atlético de Madrid. Tem também um meio-campo que pode ser considerado completo, com Alonso, Senna, Xavi e Luis García – um dos mistérios desse 4-3-3. No ataque, duas promessas da Liga Espanhola: David Villa, atacante goleador do Valencia, e Fernando Torres, do Atlético de Madrid, uma das maiores revelações dos últimos tempos, na Espanha, e não menos goleador que seu parceiro de ataque. A equipe conta ainda com excelentes jogadores no banco, como os goleiros Cañizares e Reina, os meias Cesc Fábregas, Joaquín, Albelda e Reyes, e o maior goleador da seleção espanhola em todos os tempos, o atacante merengue Raúl González. Juntos, todos esses jogadores vêm conseguindo excelentes resultados há um bom tempo, e apareceram nessa primeira fase como uma das equipes favoritas ao título mundial.

Apesar de não terem caído num grupo muito complicado, os espanhóis conseguiram um bom resultado logo no primeiro jogo, contra o adversário que todos diziam ser o mais difícil da chave: contrariando a todos que previam um jogo complicadíssimo, a “Fúria” venceu implacavelmente a Ucrânia de Schevchenko por 4x0, já mostrando seu excelente estilo de jogo e seu toque de bola consistente. No segundo jogo, uma surpresa: contra a supostamente fraca Tunísia, os espanhóis tomaram um gol logo no começo da partida, o que tornou um jogo que tinha tudo pra ser fácil em uma partida dificílima. Então, com um toque de bola consciente e uma pressão tranqüila, a equipe conseguiu a virada e terminou vencendo por 3x1, com gols de Fernando Torres (2 vezes) e Raúl, que não marcava havia muito tempo. Agora, eles têm pela frente a fraquíssima Arábia Saudita, e têm tudo para dar um verdadeiro chocolate no time comandado pelo brasileiro Marcos Paquetá.

O que faz desse time da Espanha tão completo é o mesmo fator que, supostamente, tornaria a seleção inglesa, de quem se esperava tanto, tão completa quanto: o meio-campo polivalente. Ambas as seleções tem meias que sabem marcar e armar, chutar de longe e fazer lançamentos. Essa é a principal característica de jogadores como Cesc Fábregas, Gerrard, Xavi e Lampard, entre outros. O diferencial entre as duas equipes está apenas no estilo de jogo: enquanto a seleção do país peninsular se destaca pelo toque de bola diferenciado e pelo estilo de jogo mais cadenciado e paciente, o English Team joga o tempo todo se aproveitando dos lançamentos precisos de David Beckham e Steven Gerrard, que buscam quase sempre a cabeça do grandalhão Peter Crouch. O potencial dos excelentes atacantes Michael Owen e Wayne Rooney quase não é aproveitado, tornando a equipe dependente de apenas um tipo de jogada. É por isso que a seleção espanhola vem dando espetáculo e convencendo a todos, enquanto a equipe da Rainha Elizabeth se classificou em primeira de seu grupo, mas ainda não convenceu de fato.

A seleção do Rei Juan Carlos ainda conta com uma excelente invenção tática de Aragonés: uma espécie de 4-3-3, que pode se contrair a um 4-4-2 a qualquer momento. Isso se explica pelo fato de o meia Luís García, do Liverpool, jogar quase na ponta-esquerda, apesar de ser considerado meia-ofensivo. Portanto, ele fica variando de posição durante o jogo inteiro, tanto formando o meio com os outros três, quanto se juntando a Torres e Villa no ataque.

A tabela das oitavas de final também não previa muitas dificuldades para a seleção espanhola, mas terminou por lhes trazer um obstáculo dificílimo, logo de cara: tudo indica que eles enfrentarão a França, que apesar da má fase, sempre é um adversário a ser temido. Mas é assim que as seleções que se dizem favoritas têm que provar seu valor, eliminando as outras candidatas ao título. Potencial, todos sabemos que a Seleção Espanhola tem de sobra, resta saber se eles vão ter fôlego e grandeza suficiente para chegar até o fim.

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