terça-feira, julho 18, 2006

O que fica da Copa

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Henrique Moretti

A Copa do Mundo 2006 acabou. A maior competição do Planeta Bola, que durou de 9 de Junho a 9 de Julho deste ano, deixa saudades, como todas. São 30 dias sempre inesquecíveis, com torcidas se confraternizando, belas jogadas e imagens marcantes. Vejamos o que deve ficar desta Copa.


Analisando o futebol jogado na Alemanha, fica uma impressão de que se queria mais. Não chegarei aqui falando que o futebol perdeu, que a competição foi defensivista, “pior de todos os tempos”, como alguns já ousaram comentar. Mas para uma Copa que antes dela começar apresentava tantos craques e bons jogadores é claro que um pouco de decepção ficou, sim.


Atletas como Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Frank Lampard, Steven Gerrard, Francesco Totti, Juan Román Riquelme, Ruud van Nistelrooy, Zlatan Ibrahimovic, entre outros, deixaram a desejar. E muito. Isso fez com que, à exceção do eterno Zinedine Zidane, os futuros das seleções ficassem definidos por jogadores antes tidos como coadjuvantes.


Desde o primeiro dia da Copa isto pode ser percebido. Desde quando o não-badalado Lahm, lateral-esquerdo da anfitriã Alemanha, assinalou o primeiro gol da competição, num chutaço da ponta da área. No mesmo jogo, o volante Frings selou a vitória noutro chute, desta vez de mais longe, no ângulo do goleiro Porras. O mesmo Frings que em outros anos era improvisado, e bem discreto, na lateral-direita da equipe.


Assim, os jogos foram passando e na Argentina se percebeu que quem comandava o time era o meia Maxi Rodríguez, e não Riquelme, muito menos Lionel Messi (este, absolvido, por pouco entrar em campo). Na seleção brasileira, o destaque ficou por conta de Zé Roberto, único jogador canarinho entre os 23 da seleção da Copa; na agora tetracampeã Itália, brilharam Pirlo e os jogadores de defesa, Zambrotta, Cannavaro e Grosso, e claro, o goleiro Buffon.


E junto a Buffon outros de sua posição brilharam, na Copa que pode ficar conhecida como a dos grandes goleiros. De desconhecidos como o próprio costarriquenho Porras, o polonês Boruc e o trinitino Hislop até os já famosos, que foram espetaculares: além do italiano da Juventus, Isaksson, da Suécia, Cech, da República Tcheca e Lehmann, da Alemanha.


Não foi uma Copa de grandes zebras. À exceção de Trinidad & Tobago e Gana, as outras seleções que chegaram às fases decisivas eram mais ou menos àquelas que se esperavam. A decepção na primeira fase ficou com a República Tcheca, que desfalcada nada conseguiu fazer ante os fortes ganeses. Na segunda fase, como já discutido aqui há uma semana, o Brasil, indiscutivelmente, além da azarada Inglaterra, que só conseguiu alinhar Rooney e Owen por minguados minutos da competição, no jogo contra a Suécia (Owen ali sairia machucado, e cortado da Copa).


Copa que provou que quando realizada “na Europa” tem muitas chances de se tornar “da Europa”; dos quatro semifinalistas, todos eram do Velho Continente: Alemanha, França, Itália e Portugal. Este último, comandado por Felipão, trará boas lembranças quando no futuro olharmos para trás.


Os “patrícios” protagonizaram jogos com muita luta e vontade, como raramente se via em sua seleção, e muito disso se deve, claro, ao treinador brasileiro, que acabou com o recorde de vitórias consecutivas para um técnico. Mas recordes e brasileiros não combinaram nesta Copa... então deixemos pra lá.


Em linhas gerais, pode ser dito que o único craque a comparecer ao Mundial foi o 10 francês Zidane, que nos proporcionou momentos mágicos quando muitos já o colocavam no ostracismo. O jogador, filho de imigrantes argelinos, trilhou uma despedida inimaginável para qualquer atleta, literalmente “dos sonhos”. A partida contra o Brasil entrou no rol das maiores atuações individuais de um jogador na história das Copas, e por que não do futebol como um todo.


Não conquistou o bicampeonato mundial, e o sonho quase virou pesadelo em seu último jogo, quando a cabeçada desferida a Materazzi se tornou na imagem mais marcante da Copa do Mundo 2006. Mas digo “quase” porque o que ficará para mim e para outros milhões de fãs do carequinha francês são todas as coisas boas realizadas por este grandíssimo jogador de futebol.


Por fim, é uma pena que o maior espetáculo do planeta tem que acabar. Foram 30 dias especiais para os fãs de futebol. Agora uma longa espera agonizará nossos corações até a chegada da Copa da África, em 2010. Até lá, temos Eurocopa, Copa América e Olimpíadas para tentar amenizar o nosso, desde já, ansioso aguardo.


Coluna também publicada em www.voleio.com

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