quinta-feira, julho 05, 2007

Wimbledon parado no tempo

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Henrique Moretti

Que o torneio de Wimbledon é o mais tradicional de um dos mais tradicionais esportes de todos os tempos, ninguém duvida. O Grand Slam da grama foi criado em 1877, na primeira competição de tênis de que se tem notícia, e tem como supercampeões lendas como o sueco Bjorn Borg (cinco títulos seguidos), o norte-americano Pete Sampras (sete troféus ao todo) e tcheca naturalizada americana Martina Navratilova (novo conquistas). Que o torneio londrino é um dos mais atrasados do mundo do tênis, também poucos duvidam.

Neste ano, com chuvas e mais chuvas rondando o complexo do All England Lawn Tennis Club, o evento chega à sexta-feira com todas as partidas de quartas-de-final ainda a fazer, sendo que o certo seria a disputa das semis, para a final acontecer no próximo domingo, dia 8. Apesar da correria, a organização do charmoso torneio preferiu não mandar jogos no primeiro domingo de competição, o chamado “mid-Sunday”, dia de descanso dos atletas, por pura tradição – apenas três vezes na história a data sagrada foi utilizada. O pior é que o último dia 1º de julho amanheceu com sol em Londres, enquanto a previsão para as próximas datas era de chuva. Nada feito, o mau tempo se confirmou, e o imenso atraso aconteceu.

Para se ter uma idéia, a partida entre Robin Soderling e Rafael Nadal precisou ser interrompida nada menos que oito vezes em virtude do mau tempo. Assim, o confronto de terceira rodada, que se iniciou na segunda-feira, só pôde ser terminado na última quarta. O espanhol, com razão, não poupou críticas à organização de Wimbledon, ao ver o rival Roger Federer descansar por cinco dias seguidos. “Terei de jogar vários dias seguidos. E o Roger parece que está tirando uma semana de férias", afirmou.

Por essas e outras, a verdade é que parece que o Grand Slam da grama está parado no tempo. Foi, por exemplo, o último dos torneios desse nível a igualar a premiação entre homens e mulheres – apenas neste ano se fez justiça, com ambos os campeões recebendo cerca de 650 mil libras. Demorou muito, também, para enxergar o que não podia ser mais nítido: a necessidade de se instalar um teto retrátil na quadra central do All England, por causa das constantes chuvas que assolam Londres no verão. Ainda obriga, por incrível que pareça, os tenistas a usarem roupas predominantemente brancas, sendo que outros eventos do circuito eliminaram essa rega na década de 1980. Outra peculiaridade em Wimbledon é na escolha dos cabeças-de-chave. O torneio é o único do circuito que não respeita o Ranking de Entradas da ATP, utilizando um ranqueamento próprio que leva em conta o histórico dos jogadores em piso de grama, critério que já recebeu várias críticas de tenistas sul-americanos, dentre eles Gustavo Kuerten.

Com tradições que, a rigor, de nada acrescentam e só servem para atrasar a vida dos atletas, o mais tradicional torneio de tênis do mundo segue. Em 2007, jogos de cinco sets serão programados em dias consecutivos, e é provável que a final aconteça, pela quarta vez em 120 anos de história, numa segunda-feira, como não manda a tradição. A última vez que isso ocorreu foi em 2001, quando o croata Goran Ivanisevic se sagrou campeão ao bater o australiano Patrick Rafter.


foto: www.wimbledon.org

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