sábado, agosto 19, 2006

O Grande Vendedor

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Ricardo Stabolito Junior

O futebol brasileiro é uma vitrine. Os grandes times europeus olham a vitrine, vêem os jogadores que gostam e os compram. Então, os times do Leste Europeu e do Oriente chegam e levam da vitrine o melhor do que sobrou. Depois, ainda chega o pessoal do “mundo árabe” e leva mais um ou outro. O que sobrou dessa venda em massa são os jogadores que assistimos no Campeonato Brasileiro toda semana.

Quando um time brasileiro é campeão de algum torneio importante, a visibilidade aumenta de tal forma que o desmanche do elenco se torna quase uma conseqüência natural do título. É como se o time brasileiro campeão tivesse seus jogadores colocados em destaque na vitrine.

O Internacional acabou de ser campeão da Copa Libertadores da América. Em meio à alegria do título estava também um ar de despedida, já que o zagueiro Bolívar e o meio-campo Tinga (abaixo) já estavam praticamente negociados com clubes europeus (Mônaco e Borussia Dortmund, respectivamente). No São Paulo, adversário do Inter na final, a despedida era do zagueiro Lugano – negociado com o Fenerbahçe. No Inter ainda pairam também os rumores de possíveis saídas de jogadores como Rafael Sóbis (que já estaria em negociações adiantadas com o Milan) e Edinho.

É triste constatar que um time que vá disputar o Mundial de Clubes, no fim do ano, esteja passando por um início de desmonte. Pior, alguns já estavam negociados antes mesmo de a Libertadores acabar. Enquanto reforços começam a ser cogitados para o torneio intercontinental, alguns se esquecem de que os jogadores que conquistaram a vaga para o Mundial para o clube estão sendo vendidos.

Além de triste, não deixa de ser preocupante também a saída desses atletas. O time do Internacional tinha como ponto mais forte seu conjunto, assim como o São Paulo do ano passado tinha. Para quem assistiu a última edição do Mundial ficou claro que o clube paulista não jogou tão bem, ganhou muito mais pela sua harmonia e entrosamento dos jogadores dentro de campo do que, necessariamente, pelo futebol apresentado. Se o desmonte for além dos dois jogadores já citados anteriormente, é muito provável que os aspectos que favoreceram o time na conquista da Libertadores da América já não sejam trunfos na disputa do Mundial de Clubes.

O exemplo para o clube gaúcho estava jogando contra ele na final: o São Paulo não desmontou seu elenco após a conquista do torneio continental ano passado. O clube manteve a base vencedora do primeiro semestre para disputar o Mundial de Clubes. E a prova do bom trabalho dos dirigentes são-paulinos está na venda de Lugano esse ano, pois o mesmo tinha propostas do futebol do exterior desde meados de 2005 e foi “segurado”.

Toda essa situação prova que quando se fala em “planejamento” em um clube do futebol brasileiro, isso vai além de ganhar títulos. Um segundo capítulo, tão ou até mais difícil do que a conquista de um título, se inicia após a competição: a manutenção de um elenco vencedor. E nessa etapa os grandes clubes têm que tomar muito cuidado, para que o Grande Vencedor não se torne também o Grande Vendedor.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Abelão sem vice

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Henrique Moretti

Não sou pontepretano, muito menos já morei em Campinas, mas desde 2003 admiro o técnico Abel Braga. Foi no Campeonato Brasileiro daquele ano que Abelão, como é conhecido, tomou uma atitude demonstrativa de grande caráter. Como muitos se lembram, no comando da Ponte Preta, o treinador foi um dos únicos a não abandonar o barco da equipe campinense no decorrer da competição, já que mais de 15 jogadores saíram acusando salários atrasados.

Mesmo sem receber, Braga honrou seu compromisso até o fim e superou as grandes dificuldades de trabalho, conseguindo manter a Ponte na Série A nacional, na última rodada, após vitória sobre o Fortaleza, em casa, rebaixando os nordestinos, e fazendo a festa da torcida da Macaca. E a imagem dos pontepretanos invadindo o gramado do Moisés Lucarelli para agradecer ao treinador foi muito marcante.

De lá pra cá, o treinador foi colecionando bons trabalhos e mesmo assim não conseguia sair do estigma de ser sempre vice-campeão. O que era meia-verdade, já que conquistou o bicampeonato carioca, com Flamengo e Fluminense, em 2004 e 2005, além dos vices - que o marcaram bastante -, da Copa do Brasil, com os respectivos times e nos respectivos anos.

Penso que um pouco desse estigma de Abel Braga vinha de preconceito por parte da imprensa, principalmente da paulista, que tem lá seus integrantes “bairristas”. O jeito do técnico - meio boleiro, sem papas na língua, e até mesmo boêmio – contribuiu para se criar uma imagem ruim, ou não tão boa, de Abelão. Frases marcantes, como a em que ele elogia indiscretamente a bandeirinha Ana Paula Oliveira, também contribuem para a formação da figura Abel.

Além do bi-vice da Copa do Brasil, seu Fluminense do ano passado rumava bem no Brasileirão, integrando a zona de classificação à Libertadores durante a competição inteira e apresentando por alguns momentos o futebol mais vistoso do país, porém o péssimo fim de returno fez com que a equipe caísse para a quinta posição, fazendo com que todo o bom trabalho realizado por Abel fosse por água abaixo.

Para superar o tabu de não se classificar para a mais importante competição das Américas sempre por muito pouco, o treinador resolveu encarar um clube já garantido na competição, e com uma belíssima estrutura: o Internacional. Mesmo Inter que ele dirigiu em 1989, quando caiu na própria Libertadores em sua reta final, depois de uma eliminação trágica ante o paraguaio Olímpia, em pleno gigante da Beira-rio.

E é em Porto Alegre que Abelão, aos 56 anos de idade, está atingindo o ápice de sua carreira. Porém como tudo na vida do carioca, o trabalho começou duro, e ele quase se viu demitido depois da “derrota” na final do Campeonato Gaúcho, para o rival Grêmio (a derrota vem em aspas porque o título foi perdido com dois empates na decisão, pelo critério de gols marcados na casa do adversário). A pressão da torcida colorada foi grande, e injusta, visto que a campanha na Libertadores e no próprio Gaúchão eram irrepreensíveis até então.

Fernando Carvalho, presidente do Inter, resolveu resistir à torcida, o que se mostrou a decisão realmente mais acertada, agora que ao visitar o Morumbi a equipe bateu o São Paulo por 2x1, ficando muito próxima do que seria (ou será) a maior glória da história colorada, o título sulamericano.

Título que viria também a coroar o trabalho do lutador Abel Braga, para dar um basta em todos os preconceitos e estigmas contra a sua pessoa, e mais, mostrar que quem vos escreve não errou ao colocá-lo como um bom postulante ao cargo de técnico da Seleção Brasileira, nesta mesma coluna, poucas semanas atrás.

Enfim, o treinador mais sincero do futebol brasileiro merece já há um tempo este lugar ao sol; não sou colorado, nem nunca visitei Porto Alegre, mas os torcedores são-paulinos que me perdoem, porque nesta grande decisão estou com Abel Braga e não abro.

terça-feira, agosto 08, 2006

Virando o jogo

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Ricardo Stabolito Junior

O Campeonato Brasileiro deste ano é cruel com erros: um em cada cinco clubes que o disputam será rebaixado. Assim sendo, o torcedor palmeirense deve ter se aterrorizado ao assistir seu time no período pré-Copa do Mundo da competição. O clube somou apenas quatro pontos nos primeiros dez jogos do campeonato – um desempenho fraquíssimo.

Motivos não faltavam para tal desempenho. O primeiro era a falta de entusiasmo do time, que visivelmente entrava derrotado nos jogos e não esboçava reação aos ataques dos adversários. O segundo era a péssima condição física do elenco, agravado pelo alto número de atletas veteranos que o integram. Por fim, entrava a falta de padrão tático do time comandado por Émerson Leão: a cada jogo a formação mudava e o esquema era alterado, transformando o Palmeiras em um caos dentro de campo.

A chegada de Tite, ainda antes da parada para a Copa do Mundo, não resolveu a situação. Ao herdar o trabalho de Leão e da antiga comissão técnica, Tite manteve a calma mesmo vendo a equipe do Palestra Itália acumular quatro derrotas consecutivas antes da paralisação do campeonato.

E então veio a parada para a Copa do Mundo. Tite parecia consciente de que essa paralisação teria de ser o ponto da virada do Palmeiras. O técnico reuniu todo o elenco, reintegrando o atacante Edmundo e os jogadores que estavam no departamento médico (Nem e Juninho Paulista), e estabeleceu uma intensa rotina que colocou os jogadores em forma. Além disso, Tite conseguiu chegar à conclusão de que o Palmeiras deveria jogar no 3-6-1.

Ao utilizar três zagueiros, Tite reforçou a defesa, que até aquele momento era a mais vazada do campeonato. Ainda mais, liberava o ala Paulo Baier para jogar da mesma forma que o fez se destacar no Goiás e no Criciúma – aberto pela direita e com liberdade para chegar ao ataque. Ao colocar dois volantes no meio-campo, Tite deu condições para que os dois meias pudessem encostar-se ao atacante isolado na frente sem fragilizar o setor. Mas, acima de tudo, o time retornou mais unido, bem disposto e preparado fisicamente para retirar o Palmeiras da zona de rebaixamento.

Além disso, o Palmeiras utilizou o recesso da Copa para realizar algumas contratações. A chegada do zagueiro Dininho, do volante Marcelo Costa, do ala Chiquinho, do meia chileno Valdívia e o retorno do volante Marcinho Guerreiro (cuja negociação com o Olympique de Marselha foi desfeita) mostrou que Tite conseguiu identificar as debilidades do time e fez com que o clube contratasse no intuito de saná-las.

No seu primeiro jogo no período pós-Copa, o Palmeiras venceu o Vasco da Gama por 4 a 2. O torcedor saiu do Palestra Itália com motivos de sobra para comemorar – além de vencer, o time finalmente convenceu, jogando bem e criando diversas oportunidades de gol. No jogo seguinte, a vitória de 1 a 0 contra o Corinthians, em um jogo extremamente “truncado” foi decisiva para alavancar a moral do elenco e dos torcedores, afirmando que tempos melhores haviam chegado para o clube.

Após as duas vitórias, a paz voltou a reinar dentro do clube. Tite promoveu alguns jogadores das divisões de base que entraram bem no time (Francis, Wendell, Vinícius) e conseguiu reabilitar Edmundo. No entanto, o próximo adversário – o Goiás – representava a primeira “prova de fogo” para o time, uma vez que o Vasco não tem um grande elenco (apesar da boa posição no campeonato) e o Corinthians está passando por uma péssima fase.

Mais uma vez jogando bem, o Palmeiras venceu o Goiás no Serra Dourada por 3 a 1, afirmando sua reabilitação de vez e ficando a um ponto de sair da zona de rebaixamento. No jogo seguinte, contra o Paraná (quarto colocado do Campeonato) o time venceu com o Parque Antártica quase lotado por 4 a 2, isso depois de ter feito dois a zero e cedido o empate, mostrando personalidade ao sair da situação difícil. O resultado retirou o Palmeiras da zona da “degola”.

Logo após o jogo contra o Paraná, os jogadores e o treinador falaram que a previsão deles era sair da zona de rebaixamento em cerca de 13 rodadas. Saíram em quatro. Isso mostra não só como o trabalho de Tite é digno de reverência, mas também que nem mesmo o elenco acreditava que podia crescer tanto. Deixa provado aos céticos que o elenco palestrino não era tão ruim como muitos acreditavam, o que lhe faltava era apenas um padrão tático e apoio de torcida e treinador. E, no fator motivacional, Tite é muito bom, como toda a escola gaúcha de treinadores, aliás.

Com a possibilidade de estréia dos reforços contratados, o Palmeiras vai a Fortaleza enfrentar o time local com chances de entrar na zona de classificação para a Copa Sul-Americana. No entanto, uma derrota pode derrubar o clube novamente para a zona da “degola”. Se mantiver o ritmo de bons resultados, esse elenco pode escrever uma das histórias de recuperação mais brilhantes da história do Palmeiras.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Técnico tampão?

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Henrique Moretti

Na última segunda-feira a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou o novo técnico da Seleção Brasileira. E surpreendeu no nome. Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga, campeão do mundo em 1994, e ex-jogador de Internacional e Fiorentina, entre outros, foi o escolhido pelo sr. Ricardo Teixeira, o cartola mais importante do futebol nacional.

E a impressão que ficou não fugiu ao panorama lançado por Juca Kfouri em seu blog, há uma semana e meia. Naquele momento, Luiz Felipe Scolari, a primeira opção da CBF para o cargo deixado por Parreira, acabara de rejeitar o convite, alegando que a família não gostaria ainda de deixar a Europa, sem antes deixar as portas-abertas, segundo o próprio jornalista, deixando claro que “um convite do Brasil sempre tem de ser ouvido e estudado”.

Assim, Kfouri declarou ali mesmo sua impressão de que Felipão pensava até em voltar ao comando técnico canarinho, mas sabia que a esta altura não teria “carta branca” para mandar e desmandar como gostaria (e como foi quando trouxe o pentacampeonato, em 2002). Então, o treinador gaúcho esperaria o término de seu contrato recém-renovado com Portugal, daqui a dois anos, para tentar voltar “nos braços do povo brasileiro”, e com liberdade para comandar, isto claro, se lá o cargo estiver vago.

E eis que Teixeira acena com Dunga, outro gaúcho, mas este, ao contrário, não-treinador. O capitão do tetra não tem nenhuma experiência do tipo, nem mesmo como coordenador, o que caracteriza uma pura aposta. E que tem muitas chances de dar errado, à primeira vista, o que acena com uma possível volta de Felipão, quem sabe, tal qual anteviu Juca.

Como a aposta que deu errado com Paulo Roberto Falcão, outro gaúcho, e outro ex-volante, mas que parecia ter mais postura de treinador que Dunga, quando assumiu a seleção logo após o vexame brasileiro na Copa 1990. Sem experiência, Falcão não agüentou mais que 17 jogos e ostentou o maior jejum de partidas sem vitórias da história da amarelinha (10).

Analisando friamente, havia mais técnicos capacitados para a função da maior seleção do mundo, ou pelo menos técnicos que já foram testados, que já detêm algum tipo de experiência. Não há como Luxemburgo não figurar numa possível lista top, mas sua arrogância, e vontade de ter tudo a seu bel-prazer, fariam com que amistosos caça-níqueis, contra Kuwait ou Emirados Árabes, não passassem por sua aprovação. E Teixeira não abriria mão de amistosos tão rentáveis.

Autuori também seria uma boa opção, mas talvez seja sério demais para a banca de “brincalhões” da CBF. Foi anunciado recentemente que Zagallo, por exemplo, ganhava 180 mil reais por mês para fazer “ninguém sabe o quê” na seleção. Por essas e outras, seriedade passa bem longe da turma de Ricardo Teixeira.

Para mim, Muricy Ramalho, Tite, Abel Braga e até Renato Gaúcho (pasmem) seriam melhores opções que o sem-nome Dunga (à beira do campo, porque jogando todos sabem que possui uma grande história).

A vibração e motivação de Dunga como volante foram apontadas pela CBF como os grandes pontos positivos de seu novo treinador, “como o povo queria”, conforme o presidente definiu – alusão clara a Parreira, que não merecia rechaço tão grande. Parece até que no triunfo da Copa 94 ele fugia da “tranqüilidade extrema” que o acompanha até hoje.

Por fim, o cordeirinho Dunga foi o que se encaixou melhor ao estilo de Ricardo Teixeira e seus subordinados. Mesmo sendo brigão no campo, o novo técnico não parece ter porte para bater de frente com a CBF logo em sua primeira experiência no cargo, e assim pode aceitar as imposições do manda-chuva, sem reclamar. Resta saber se Dunga agüentará.

E para o caso de esse momento realmente chegar, a sombra de Felipão estará a postos, pronta para entrar em ação.

terça-feira, julho 25, 2006

Parceria em chamas

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Henrique Moretti

A parceria entre o Sport Clube Corinthians Paulista e a MSI vive o seu pior momento. O alvinegro encontra-se afundado no Campeonato Brasileiro, ocupando a vice-lanterna da competição, e ostenta seis jogos sem marcar gols – conseqüentemente, sem vitórias. A situação no campo só reflete a “fogueira” que se instalou fora dele, no clube de maior torcida de São Paulo.

O homem-forte da parceria, o iraniano Kia Joorabchian, vive em atritos constantes ao interminável presidente Alberto Dualib, que há longos anos reina(va) no comando corintiano. Pior, quem dava a cara pra bater, o vice-presidente Andrés Sanchez, está afastado do cargo, e nem Paulo Angioni, homem de confiança da MSI, nem Dualib conseguem dar respaldo para os jogadores trabalharem em paz.

Vamos voltar ao início da parceria, no fim de 2004. Naquele momento, nem mesmo os mais ferrenhos críticos da parceria corintiana, como o ex-vice Antônio Roque Citadini, ou o jornalista Juca Kfouri, poderiam prever futuro tão ruim para o Corinthians. Estes afirmavam que a MSI prejudicaria o Corinthians em longo prazo, pois deixaria o clube em dívidas monstruosas, como na época da ligação com a norte-americana Hicks Muse. Mas admitiam também que em curto prazo a equipe conquistaria muitos títulos, pela alta qualidade dos jogadores a serem contratados.

Mas a verdade é que nem a parte boa da previsão da dupla se confirmou. Passadas uma temporada e meia do conjunto MSI-Corinthians, a única taça levantada foi a do Campeonato Brasileiro 2005. Muito pouco tendo em vista o grande número de competições disputadas, como o Paulistão 2005 e 2006, a Copa do Brasil 2005, a Taça Libertadores 2006 e a Sulamericana 2005. O Brasileirão desta temporada também já está no lixo: em apenas 12 jogos o Timão já conseguiu repetir a quantidade de derrotas da campanha vitoriosa do ano passado (7), e com apenas 9 pontos conquistados até então, é muito improvável que consiga uma reviravolta capaz de colocá-lo na rota do título nacional.

Para mim, o primeiro grande erro da parceria corintiana aconteceu no Campeonato Paulista passado, vencido pelo São Paulo, quando uma simples derrota para o futuro campeão resultou na demissão do técnico Tite, o mesmo que na temporada 2004 havia feito “milagre” com o modesto time composto em sua maioria por garotos oriundos da categoria de base – naquele ano, o gaúcho pegara um Corinthians afundado na zona de rebaixamento e o trouxera para a quinta posição na tabela, chegando próximo a uma vaga para a Libertadores.

E a demissão veio com atitude mais que amadora de Kia, que se dizia profissional. O iraniano invadiu o vestiário, local considerado “sagrado” por comissão técnica e jogadores ao redor do mundo, atitude digna de quinta ou quarta divisões, ou nem isso.

De lá para cá, a cada tropeço a culpa era sempre do novo treinador, nunca dos jogadores, ou da diretoria, ou de quem quer que seja. Passarella sucedeu Tite, que foi sucedido por Marcio Bittencourt, que foi sucedido por Antônio Lopes, que foi sucedido por Ademar Braga, que agora é sucedido por Geninho, que já se encontra na corda-bamba. Carlos Drummond de Andrade não merecia entrar em salada tão indigesta, mas a lembrança a seu saudoso poema “Quadrilha” torna-se inevitável.

Enfim, o time do Corinthians dentro de campo só reflete o que é o conjunto MSI-Corinthians fora dele. E o glorioso alvinegro paulista vive um calvário que parece não ter fim. E não se sabe se mesmo o fim (da parceria) seria suficiente para mudar os rumos do clube, pois sem Tevez, Mascherano, Nilmar e cia. o pesadelo da Segunda Divisão poderia se tornar realidade.

A verdade é que Alberto Dualib se enfiou numa arapuca onde há apenas uma solução: selar a paz com Kia Joorabchian e se sujeitar ao papel que ele impôs a si próprio ao assinar o contrato de parceria – o de mero coadjuvante.

No fim de semana, o Corinthians empatou com o Fortaleza em 2x2, encerrando assim o jejum de gols, mas não o de vitórias

domingo, julho 23, 2006

Senhores do regresso

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Daniele Pechi

Esta semana aconteceu de novo: torcidas dentro de campo, dando instruções aos jogadores de Flamengo e Corinthians e o pior, com o maior respaldo.

A cena era bizarra e ridícula, num mesmo campo, o presidente do Flamengo, Márcio Braga, o técnico Ney Franco, os jogadores e os desorganizados dando a sua palavra de incentivo para o time que está disputando a final da Copa do Brasil.

A presença até do presidente do clube mostra que a “palestra motivacional gratuita” que os jogadores rubro-negros receberam foi mais do que aprovada pela diretoria.

A partir do momento em que intimidação e ameaças tornam-se fatores motivacionais para uma equipe, é hora de todos reverem seus conceitos! Atitudes como esta só atrasam mais ainda um futebol que já é atrasado quando se fala em organização.

Bem vindos ao regresso!

Se alguém ainda entende a “preleção” dos desorganizados como um incentivo, é bom lembrar que eles são tão torcedores como qualquer um, portanto, o seu lugar é na torcida. Não há maior incentivo do que um estádio lotado.

O Flamengo acabou ganhando a primeira partida da final, mas por saber da importância que este título da Copa do Brasil tem. Além de ser um título, por mais óbvio que isso pareça, é o caminho mais fácil para chegar a Libertadores.

A ineficácia dessas visitas surpresas foi comprovada mais uma vez, pois no Corinthians, Geninho recebeu os torcedores e a equipe continua sem vencer...

Até que tomar medidas como estas não é tão má idéia... Assim, a administração mostra que está preocupada com a situação da equipe e ao mesmo tempo, acalma os ânimos das desorganizadas, que poderiam organizar um protesto que atingiria a própria administração. Para mim isto tem outro nome: politicagem, da mais barata que existe!

É sempre aquele esquema: “a gente finge que ouve vocês, e vocês fingem que concordam com as nossas decisões...”.

No caso do Flamengo, acho que as conseqüências não serão tão graves como podem ser no Timão. Eu explico: O Corinthians tem um time com muitas estrelas (Tevez, Carlos Alberto, Nilmar, Mascherano, Roger), que não precisam mais provar que sabem jogar futebol. Imaginem se eles resolvem fazer corpo mole em campo, por birra mesmo, afinal, estão a pouco de serem agredidos pela “torcida”.

Claro que isso seria uma falta de profissionalismo, mas para uma diretoria que não é profissional, nada mais justo!

Quando se fala em Corinthians, não é preciso ir muito longe para relembrar de várias agressões que os jogadores já sofreram dos desorganizados. Eles vão embora, e os problemas ficam.

Uma administração que não impõe limites de torcedor a torcedor, não tem moral para condenar atitudes como essa, mas condena. Aí é a hora em que a oposição aparece, cheia de moral, de razão, com o mesmo discurso: “Mas é claro que isso aconteceu, a situação não pensa no time” e aquele blá, blá, blá de sempre...

Mais uma vez, a discussão vai, e o clube fica!

Quem está no poder não quer sair (e tem um Estatuto que o garante lá), e quem não está, o quer a qualquer custo. Mas e o torcedor? Aquele verdadeiro, que só quer torcer, que não tem intenção política nenhuma e que além de tudo nem é ouvido?

Este, como eu, torce, mas torce mesmo, para que um dia tudo isso seja diferente.

sexta-feira, julho 21, 2006

Uma sucessão complicada

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Ricardo Stabolito Junior

Quando se discute a renovação da seleção brasileira, as posições que costumam causar mais controvérsias são as laterais direita e esquerda. Nos últimos anos, o Brasil se acostumou a escalar quase que automaticamente os “eternos” Cafu e Roberto Carlos para as posições, o que afastou um pouco a atenção para a busca de sucessores para ambos. Na Copa do Mundo desse ano, os dois veteranos mostraram já não ter condições físicas e técnicas para serem encarados como jogadores indiscutíveis, tornando imprescindível o encontro de substitutos.

Na Copa, os reservas de Cafu e Roberto Carlos foram Cicinho e Gilberto. Não há como negar que ambos são grandes jogadores, mas será que eles são verdadeiramente laterais? Contra o Japão, jogo em que os dois entraram jogando, eram perceptíveis os “corredores” que ficavam expostos para ataques da seleção japonesa. O gol do Japão originou-se de uma falha de Cicinho. A verdade é que Cicinho e Gilberto são grandes apoiadores, mas não são grandes marcadores, o que faz deles muito mais alas do que laterais.

Baseando-se nas concepções do futebol “moderno”, laterais são jogadores que tem, primeiramente, a obrigação de marcar e depois a possibilidade de avançar e apoiar o ataque – explicação dada pelo próprio Cafu em uma de suas entrevistas na Alemanha. É inegável que Cicinho e Gilberto cedem poder ofensivo invejável ao Brasil, no entanto deixam muito a desejar no aspecto primordial de um lateral – o defensivo. Não é a toa que, frequentemente, ambos jogam em seus clubes (Real Madrid e Hertha Berlin) como meias e não como laterais.

O problema da renovação das laterais passa muito pelo desencontro das definições e funções do lateral no futebol brasileiro e europeu. No Brasil, os laterais têm função muito mais ofensiva do que na Europa, muito porque os clubes brasileiros carecem de bons jogadores de criação e articulação no meio-campo. Com um excessivo número de volantes, a subida dos laterais se torna não apenas possível, como essencial para que boas jogadas de ataque sejam tramadas. Já na Europa, o lateral é um agente de defesa, tanto que comumente escalam-se zagueiros para atuarem na posição.

Esse desencontro deriva-se também dos esquemas táticos usados pela maioria dos clubes europeus e brasileiros. No nosso país, se tornou comum jogar com três zagueiros, assim os laterais se tornam alas e ganham caráter definitivamente ofensivo. O atual campeão mundial de clubes – São Paulo – joga com três zagueiros (3-5-2), por exemplo. Já na Europa, a maioria dos times joga com as tradicionais duas linhas de quatro jogadores (4-4-2 ou 4-4-1-1), onde a primeira linha destina-se quase que exclusivamente para a marcação.

Quando os nossos laterais de vocação ofensiva e alas são vendidos ao futebol europeu, poucos são os que se adaptam ao caráter defensivo que a posição ganhou na Europa. Assim sendo, aos técnicos resta a opção de escalá-los como meias, como acontece com Cicinho e Gilberto.

Cafu e Roberto Carlos são realmente os melhores laterais que o Brasil dispõe, porque seus possíveis sucessores e/ou substitutos não são laterais. Cicinho e Gilberto se encaixariam como uma luva nas laterais da seleção se o Brasil jogasse conforme a realidade de seu futebol (times com três zagueiros), mas não se encaixam em uma seleção brasileira que joga conforme uma realidade européia (linha de quatro). Se eles tivessem condições de serem laterais em uma linha de quatro, não teriam de ser meias em seus clubes na Europa.

Os brasileiros acreditam ter encontrado, principalmente com Cicinho na direita, os sucessores para as laterais direita e esquerda, mas é bem possível que essa questão venha a causar ainda muita dor de cabeça no próximo técnico da seleção.

terça-feira, julho 18, 2006

O que fica da Copa

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Henrique Moretti

A Copa do Mundo 2006 acabou. A maior competição do Planeta Bola, que durou de 9 de Junho a 9 de Julho deste ano, deixa saudades, como todas. São 30 dias sempre inesquecíveis, com torcidas se confraternizando, belas jogadas e imagens marcantes. Vejamos o que deve ficar desta Copa.


Analisando o futebol jogado na Alemanha, fica uma impressão de que se queria mais. Não chegarei aqui falando que o futebol perdeu, que a competição foi defensivista, “pior de todos os tempos”, como alguns já ousaram comentar. Mas para uma Copa que antes dela começar apresentava tantos craques e bons jogadores é claro que um pouco de decepção ficou, sim.


Atletas como Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Frank Lampard, Steven Gerrard, Francesco Totti, Juan Román Riquelme, Ruud van Nistelrooy, Zlatan Ibrahimovic, entre outros, deixaram a desejar. E muito. Isso fez com que, à exceção do eterno Zinedine Zidane, os futuros das seleções ficassem definidos por jogadores antes tidos como coadjuvantes.


Desde o primeiro dia da Copa isto pode ser percebido. Desde quando o não-badalado Lahm, lateral-esquerdo da anfitriã Alemanha, assinalou o primeiro gol da competição, num chutaço da ponta da área. No mesmo jogo, o volante Frings selou a vitória noutro chute, desta vez de mais longe, no ângulo do goleiro Porras. O mesmo Frings que em outros anos era improvisado, e bem discreto, na lateral-direita da equipe.


Assim, os jogos foram passando e na Argentina se percebeu que quem comandava o time era o meia Maxi Rodríguez, e não Riquelme, muito menos Lionel Messi (este, absolvido, por pouco entrar em campo). Na seleção brasileira, o destaque ficou por conta de Zé Roberto, único jogador canarinho entre os 23 da seleção da Copa; na agora tetracampeã Itália, brilharam Pirlo e os jogadores de defesa, Zambrotta, Cannavaro e Grosso, e claro, o goleiro Buffon.


E junto a Buffon outros de sua posição brilharam, na Copa que pode ficar conhecida como a dos grandes goleiros. De desconhecidos como o próprio costarriquenho Porras, o polonês Boruc e o trinitino Hislop até os já famosos, que foram espetaculares: além do italiano da Juventus, Isaksson, da Suécia, Cech, da República Tcheca e Lehmann, da Alemanha.


Não foi uma Copa de grandes zebras. À exceção de Trinidad & Tobago e Gana, as outras seleções que chegaram às fases decisivas eram mais ou menos àquelas que se esperavam. A decepção na primeira fase ficou com a República Tcheca, que desfalcada nada conseguiu fazer ante os fortes ganeses. Na segunda fase, como já discutido aqui há uma semana, o Brasil, indiscutivelmente, além da azarada Inglaterra, que só conseguiu alinhar Rooney e Owen por minguados minutos da competição, no jogo contra a Suécia (Owen ali sairia machucado, e cortado da Copa).


Copa que provou que quando realizada “na Europa” tem muitas chances de se tornar “da Europa”; dos quatro semifinalistas, todos eram do Velho Continente: Alemanha, França, Itália e Portugal. Este último, comandado por Felipão, trará boas lembranças quando no futuro olharmos para trás.


Os “patrícios” protagonizaram jogos com muita luta e vontade, como raramente se via em sua seleção, e muito disso se deve, claro, ao treinador brasileiro, que acabou com o recorde de vitórias consecutivas para um técnico. Mas recordes e brasileiros não combinaram nesta Copa... então deixemos pra lá.


Em linhas gerais, pode ser dito que o único craque a comparecer ao Mundial foi o 10 francês Zidane, que nos proporcionou momentos mágicos quando muitos já o colocavam no ostracismo. O jogador, filho de imigrantes argelinos, trilhou uma despedida inimaginável para qualquer atleta, literalmente “dos sonhos”. A partida contra o Brasil entrou no rol das maiores atuações individuais de um jogador na história das Copas, e por que não do futebol como um todo.


Não conquistou o bicampeonato mundial, e o sonho quase virou pesadelo em seu último jogo, quando a cabeçada desferida a Materazzi se tornou na imagem mais marcante da Copa do Mundo 2006. Mas digo “quase” porque o que ficará para mim e para outros milhões de fãs do carequinha francês são todas as coisas boas realizadas por este grandíssimo jogador de futebol.


Por fim, é uma pena que o maior espetáculo do planeta tem que acabar. Foram 30 dias especiais para os fãs de futebol. Agora uma longa espera agonizará nossos corações até a chegada da Copa da África, em 2010. Até lá, temos Eurocopa, Copa América e Olimpíadas para tentar amenizar o nosso, desde já, ansioso aguardo.


Coluna também publicada em www.voleio.com

segunda-feira, julho 10, 2006

A César, o que é de César!

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Daniele Pechi

Zidane perdeu a cabeça, Zidane deu vexame, Zidane deu adeus aos gramados pela porta dos fundos... Zidane, Zidane, Zidane... Mas, quem foi o campeão da Copa do Mundo 2006 mesmo??? Ah sim...A Itália, mas o Zidane, hein??

Concordo que a atitude de Zidane foi totalmente inesperada, principalmente por se tratar de sua última partida como profissional, condená-la também acho muito válida e justa! O título de melhor jogador de Copa pode ter sido jogado fora por ele hoje, ele não precisa disso... mas a taça do mundo não cairia nada mau para uma aposentadoria não?

O que não se pode perder de vista é que a Itália conquistou o seu tetracampeonato e não está recebendo o reconhecimento devido! Não for pura sorte que a Azzurra conquistou este título não, ganhou com louvor!

Não vou dizer que vi um futebol bonito, cheio de firulas, muito menos que ela tinha um grande craque... afinal, essa Copa não foi marcada por seleções com essas características. Marcar muito e sair para o contra-ataque: esta era basicamente a receita para ganhar os jogos!

Por este mesmo motivo é que esta Copa teve uma das piores médias de gols da história. Com uma defesa exemplar, a começar por Buffon, que até a final havia tomado apenas um gol, seguida por Cannavaro, que não seria surpresa se escolhido como melhor da Copa e Materazzi, que foi o autor do gol, mas está sendo lembrado mais por ter tirado Zidane do sério... é de lamentar!

A escolha de um jogador de defesa como o melhor do campeonato seria muito coerente e a homenagem seria muito bem vinda! Além dos atacantes deixarem a desejar, quem não vibrou com as defesas de Ricardo, Lehman e do próprio Buffon? Com as roubadas expetaculares de Cannavaro, é inevitável não falar nele....pelo menos ele foi campeão, não é mesmo?

Mas é bom aproveitar a oportunidade, já que acho que é última vez que falo de Copa 2006 para parabenizar a Alemanha pelo exemplo de organização e aos alemães, que conseguiram fazer o orgulho se ser alemão voltar! Este é mais um exemplo de que o futebol é muito mais do que o acontece dentro de campo.

A eliminação do Brasil revelou que erámos mais portugueses do que pensávamos, Felipão contava com a torcida brasileira, que mostrou que as portas estão abertas... mas parece que é ele quem não quer entrar! Este sim, fez um pequeno milagre levando Portugal para a semi-final: trabalhou, vibrou, brigou, gritou, chamou pela Santa Maria e conquistou a torcida (dessa vez, a lusitana), que agora não quer outro técnico!

Não posso dizer que esta Copa tenha sido uma decepção, talvez a expectativa que se colocava nela tenha sido o grande problema...Agora, esperamos mais quatro anos ansiosamente e olha, que 2010 promete: seleções como Itália, França e Brasil,por exemplo, terão de passar por uma profunda renovação e as especulações logo, logo começam....

O futebol, que fez o mundo parar por mês, agora volta para o seu lugar! Parabenizo a Itália novamente, mas estou indo tirar a poeira da minha tabela do Brasileirão, afinal, é hora de voltar a realidade!

domingo, julho 09, 2006

Um fracasso anunciado

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Henrique Moretti

O fracasso da seleção brasileira na Copa do Mundo 2006 continua repercutindo por aqui. E do pior lado possível.

A equipe, que chegou para disputar a competição na Alemanha cercada de um enorme favoritismo, proveniente da imprensa dos mais diversos países participantes do Mundial, foi vergonhosamente eliminada nas quartas-de-final, para a França, num dos maiores vexames do Brasil na história das Copas.

Porém, as últimas participações do Brasil antes da Copa não justiçavam tamanho “já ganhou”. O time de Parreira alternou várias vezes entre bons e maus momentos. A impressão que ficou para os alemães e resto do mundo (e que teoricamente justificava a “banca brasileira”) era a da Copa das Confederações, onde a seleção só jogou bem a partir da segunda fase. E com um time totalmente diferente.

Veremos: naquela competição, que passa longe do tamanho e da expressão de uma Copa do Mundo, o Brasil sofreu na primeira fase diante de México e Japão, só batendo facilmente a atual campeã européia Grécia. Na segunda fase sim boas partidas, numa vitória por 3x2 diante da Alemanha (por sinal, bem diferente desta do Mundial), e noutra por 4x1 sobre a Argentina na final. Esta talvez tenha sido a pior coisa que poderia acontecer para o Brasil, contraditoriamente. Arredonando um pouco, esta goleada foi a que ofereceu tamanho favoritismo para a seleção, que não soube administra-lo, tranformando-o em “oba-oba”.

Por quê? Primeiro porque o Brasil da Copa é bem diferente daquele: a juventude das laterais, que tinham Gilberto e Cicinho, foi trocada pela suposta experiência de Cafu e Roberto Carlos. Além disso, Robinho foi trocado por Ronaldo, que garantiu sua vaga mais com nome que com futebol.

Segundo: soa como desculpa, mas a Argentina estava muito desfalcada. Nomes como Santana, Figueroa e Lux, que nem foram convocados por Pekerman para o Mundial, participaram daquela competição. Esses desfalques pareciam ser escondidos pela imprensa brasileira à época, que só pensava em exaltar a seleção pelo título e, claro, zombar dos argentinos.

Outra coisa que ninguém parecia enxergar (ou querer enxergar) era a derrota para a mesma Argentina em Buenos Aires, meses antes, pelas Eliminatórias. O 0x3 daquele primeiro tempo (que se transformou em 1x3 no segundo) demonstrou a todos grandes falhas da equipe do Brasil, e as críticas, ao invés de virem, foram encobertas.

Más apresentações em amistosos, como no 1x1 contra a Croácia e no 1x0 ante a Rússia também não eram consideradas na hora de exaltar o pentacampeão mundial. Ou a falta deles também não era comentada, via de regra. Afinal, usar Datas Fifa para jogos contra Kuwait e Emirados Árabes é perfeitamente normal. Poucos dias antes da Copa desafiar fortíssimas equipes como Lucerna e Nova Zelândia também é totalmente aceitável. O Brasil não precisava mesmo provar nada... A resposta veio na Copa.

Copa que o Brasil começou mal, muito mal. As vitórias sobre a Austrália e a mesma Croácia não deveriam enganar. Mas enganaram. Juca Kfouri disse antes do terceiro jogo, que seria contra o Japão, que “o pior que poderia acontecer à seleção era uma boa apresentação sobre a fraca seleção, e com gols de Ronaldo”. E ele estava certo.

O Japão realmente era fraco, mas aqui no Brasil algumas pessoas insistiam em exaltá-lo. Talvez por ter Zico. Mas na realidade era o mais fraco do grupo F. E proporcionou à equipe de Parreira uma vitória “convincente”. Oras, mas convencer contra um Japão, e ainda que entrara já praticamente eliminado é muito duvidoso. Ronaldo conseguiu igualar o recorde de Gerd Müller, e parecia estar satisfeito.

A vitória contra Gana nas oitavas também não foi diferente. Um time brasileiro apático, jogando mal, e vencendo, até tranqüilamente, mais pela mediocridade do adversário que por méritos nossos.

A imprensa e torcida brasileiras continuavam a sonhar. Frases como “olhe aí: Ronaldo apareceu”, “ah, na hora H o Ronaldinho vai arrebentar”, “Cafu ainda joga muita bola” eram facilmente vistas no país líder do Ranking FIFA.

Mas sonhar às vezes é um pecado. Ainda mais se tratando de futebol. O primeiro adversário de nível que o Brasil enfrentou, o primeiro já campeão mundial, a França, que nem um grande Mundial fazia, dominou facilmente as ações na fatídica partida de quartas-de-final.

A moral da história: não era possível o Brasil ir longe com o futebol até ali apresentado. A equipe parecia mais preocupada com os recordes individuais, de Cafu e de Ronaldo. Outros não tinham mais condições de estar ali, como Roberto Carlos. Outros decepcionaram feio, como Ronaldinho, Kaká e Parreira. Outros jogaram o que sempre jogaram, tal qual o fraco Adriano. E por aí vai.

A falta de comprometimento da equipe com os 180 milhões de pessoas que a monitoravam (como dizia a escrita no ônibus da seleção) foi gritante. E o sonho brasileiro acabou em pesadelo. E o pesadelo para o Brasil tem nome e sobrenome iguais aos de 98: Zinedine Zidane.

Coluna também publicada em www.voleio.com

sábado, julho 08, 2006

Miracolo

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Ricardo Stabolito Junior

Se a Itália ostentava algum favoritismo para essa Copa, devia-se em muito (muito mesmo) ao peso de sua camisa. Com atuações fracas e sem energia, a Itália trilhou seu caminho até o Mundial da Alemanha levando consigo descrença e desânimo. Poucos eram aqueles que acreditavam numa Itália finalista, como se confirmou ontem.

A torcida italiana passava por uma fase de profunda depressão. A eliminação da Copa de 2002 nas oitavas-de-final contra a Coréia do Sul, tendo sido prejudicada por uma das piores arbitragens da história das Copas, e a descoberta do escândalo da compra de resultados no “Calcio” fizeram com que o torcedor praticamente “jogasse a toalha” antes mesmo do Mundial se iniciar.

A seleção italiana, mesmo encarando um dos grupos mais tranqüilos das eliminatórias européias (com Noruega, Bielorrússia, Moldávia, Eslováquia e Escócia), conseguiu se complicar em alguns jogos, como na derrota para os eslovacos ou na vitória sofrida contra os bielo-russos em casa por 4 a 3. No entanto, conseguiu se classificar com razoável folga no grupo, cinco pontos à frente dos noruegueses.

Nos amistosos de preparação, as atuações sem energia imperaram. O futebol italiano sempre foi estigmatizado como feio e pragmático, com foco no sistema defensivo e contando com o talento individual de seus atacantes. E, na preparação para essa Copa, o quadro parecia se repetir. Por ironia do destino, o único amistoso em que os italianos mostraram um futebol convincente foi contra a Alemanha, adversário da semifinal, goleando por 4 a 1.

A descrença do torcedor continuou com a convocação do técnico Marcelo Lippi. Muitos jogadores de times pequenos do campeonato nacional foram convocados. O Palermo, por exemplo, cedeu 4 jogadores. Além disso, muitos dos atletas convocados constituíam mais uma aposta arriscada do treinador do que uma certeza, caso de Gattuso, Materazzi, Zaccardo e De Rossi. A verdade é que a única certeza que os italianos tinham era quais eram seus adversários na primeira fase: República Tcheca, Gana e Estados Unidos – para muitos um possível segundo grupo da morte.

Complicava ainda mais o fato de os principais jogadores da seleção italiana já estarem próximos ou com mais de 30 anos de idade, sofrendo com problemas físicos e suscitando desconfiança entre os torcedores. Inclusos nesse grupo estão Cannavaro, Nesta, Del Piero e Totti (que quase ficou fora da Copa por causa de uma grave contusão).

Outro fator que poderia prejudicar a campanha da Itália era a indecisão do técnico Lippi. Desde que assumiu a Azurra, a não-repetição de escalações e mudanças de esquema tático sempre o marcaram. Durante os treinamentos pré-Copa, Lippi treinou o time em uma infinidade de formações, mas a imprensa italiana sabia que aquele comportamento muito mais se devia à indecisão do treinador do que pela versatilidade do elenco.

Na primeira fase, a Itália passou em primeiro lugar no seu grupo com sete pontos. Apesar de a chave ser complicada, a esquadra Azurra mostrou segurança e tranqüilidade na maioria do tempo. Com uma retaguarda bem postada e o goleiro Buffon em grande fase, os italianos sofreram um único gol (contra, por sinal). No entanto, a seleção teve duas baixas: Totti, jogando mal e pouco inspirado, foi para o banco e De Rossi, após uma cotovelada criminosa no atacante norte-americano McBride, foi expulso e suspenso por 4 jogos.

De Rossi era uma das apostas arriscadas de Lippi. O volante da Roma, apesar de ser bastante eficiente, é conhecido por ser violento e se exaltar facilmente. Para substituí-lo, Lippi passou a escalar outro jogador do grupo das “apostas arriscadas”: Gattuso. O volante do Milan é conhecido pelo seu jeito esquentado e briguento, mas consegue conferir ao time em que joga algo que a seleção italiana, apesar da boa campanha, ainda não mostrava – energia.

Nas oitavas-de-final, a Itália encarou a retranca eficiente dos australianos. Jogando com pouquíssima criatividade e dez jogadores o segundo tempo inteiro, o time esteve seriamente ameaçado pela desclassificação. Quando os australianos acertavam a mira (poucas vezes), Buffon estava lá. Já nos descontos, em uma ótima jogada individual de Fabio Grosso, a Itália conseguiu um pênalti duvidoso, convertido por Totti.

Contra a Ucrânia, nas quartas-de-final, o time fez um primeiro tempo muito bom, saindo com a vantagem de 1 a 0. No início do segundo tempo, sofreram forte pressão dos ucranianos, barrados novamente pelo inspirado Buffon. No contra-ataque, o artilheiro Luca Toni fez mais dois gols, selando a vitória italiana.

Contra os alemães, a Itália fez um jogo interessante. Com o retorno de Totti ao time titular, os italianos ganharam criatividade, mas continuaram pecando pela lentidão. Já os alemães mostraram bastante velocidade na saída para o ataque, mas faltava criatividade. No segundo tempo, a diferença entre os times se acentuou ainda mais – Itália tentando ficar mais tempo com a bola e esgotada fisicamente enfrentava a Alemanha muito rápida na subida ao ataque, mas muito mais displicente com a posse da bola. No final, um jogo que parecia destinado aos pênaltis foi decidido em um ótimo passe de Pirlo e em um chute ainda melhor de Fabio Grosso. Nos descontos da prorrogação, Del Piero ainda fez um segundo gol em um passe calmo e inteligente de Totti.

A Itália é um exemplo de um time que evoluiu na fase final, desde o jogo fraco contra os australianos até a atuação segura contra os alemães. Quem previu em algum bolão ou bolsa de apostas que a Itália seria finalista, deve ter ganhado um bom dinheiro, pois a maioria das análises antes e durante a Copa sobre a esquadra Azurra circulava por dois aspectos: a força de sua camisa e a fragilidade de seu time.

O fato de ter a melhor defesa dentre as seleções semifinalistas, tendo levado um único gol, rende elogios ao setor, que sempre é destaque dos italianos. Na falta de Nesta, machucado, a dupla que vem jogando é Cannavaro e Materazzi. O goleiro Buffon mostra a segurança de sempre em atuações brilhantes. Outro destaque é o lateral Fabio Grosso, que defende e apóia com segurança e propriedade, impondo velocidade rara aos ataques italianos.

Lippi parece ter se decidido quanto à formação do time. Ele vem jogando com duas linhas de quatro jogadores, Totti a frente da segunda linha armando para Luca Toni que joga isolado na frente. Mais do que isso, Lippi conseguiu a aprovação entre os torcedores e especialistas italianos, que eram em maioria descrentes quanto ao trabalho do treinador.

O que se conclui com a chegada na final dos italianos é que esse time venceu muito mais do que seus adversários nessa Copa. A Itália venceu também a desconfiança, descrença do torcedor, dificuldades técnicas e indecisões com um time mediano – um verdadeiro miracolo!


França finalista

A França fará a final da Copa do Mundo contra os italianos. Os franceses venceram por 1 a 0 Portugal, gol de pênalti de Zidane. Embora tenha feito o gol, Zizou foi bem marcado e fez apenas um bom jogo, brilhando em algumas oportunidades. Os destaques dessa vez foram a linha defensiva francesa – Sagnol, Thuram, Gallas e Abidal – que se apresentaram com segurança e encobriram quase totalmente as falhas proporcionadas pelo veterano goleiro Fabien Barthez, e o volante Patrick Vieira, que novamente fez um grande jogo, se firmando como o mais constante jogador da seleção francesa na Copa.

Portugal, por sua vez, mostrou uma de suas limitações: a falta de poder de fogo. Nenhuma das substituições do técnico brasileiro Luís Felipe Scolari para avançar o time conseguiram surtir efeito e proporcionar grande perigo aos franceses. O único que conseguia ser, esporadicamente, bem sucedido era Cristiano Ronaldo, apesar de suas peripécias. No sábado, os portugueses enfrentam a anfitriã Alemanha na disputa pelo terceiro lugar do Mundial.

quinta-feira, julho 06, 2006

A final

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Renato Bosi de Magalhães

Antes de começar a Copa do Mundo na Alemanha, a mídia esportiva apontava como favoritos ao título Brasil, Alemanha e Inglaterra. Alguns comentaristas citavam a Itália. A Azzurra entrava nesse rol mais pela tradição do que pelo futebol que vinha apresentando. Agravava mais a sua situação o escândalo das arbitragens que o país da bota vem passando, e que pode rebaixar times como Milan e Juventus. Pois bem, a Itália está na final.

A defesa comandada por Buffon e Cannavaro só tomou um gol. E não foi nenhum adversário que o fez, mas sim ela própria. No empate contra os Estados Unidos, o lateral Zaccardo marcou contra. Merecem destaque também os volantes Gattuso e Pirlo. O primeiro vem demonstrando a raça de sempre, com a vantagem de chegar sempre na bola e não no jogador, como às vezes acontece no seu time – o Milan. Já o segundo está sendo o grande armador da seleção italiana, posição que se esperava ser ocupada por Totti ou por Del Piero. A maioria dos gols italianos nesse Mundial passa por Pirlo. É de se destacar também o bom jogo coletivo da equipe comandada por Marcello Lippi. Dos onze gols marcados – melhor ataque, ao lado da Alemanha – apenas o atacante Toni marcou mais de um (dois). O restante foi convertido por jogadores diferentes.

Se a Itália não era considerada como uma das favoritas, menos ainda é seu adversário na final - a França. A equipe de Zidane começou muito mal a Copa do Mundo, empatando com Suíça e Coréia do Sul. A vitória sobre Togo por 2 a 0, com grande atuação de Vieira, levou o time às oitavas-de-final. A partir daí Henry e Zidane, que vinham apagados na competição, começaram a desequilibrar. Eu vinha sempre escrevendo que Trezeguet merecia uma vaga nesse time. Agora não sei mais. O esquema de cinco jogadores no meio está funcionando muito bem. Malouda e Ribery podem não se destacar com belíssimas jogadas individuais, mas são de suma importância taticamente. Eles sempre saem substituídos, pois as funções que eles exercem são muito cansativas. Eles devem marcar os laterais e ainda ajudar Zidane e Henry lá na frente.

E, por último, longe de ser menos importante, os zagueiros Thuram e Gallas e os volantes Makelele e Vieira, que fazem um Mundial impecável. Sobraram três titulares: Barthez e os laterais Sagnol e Abidal. Não gosto muito do goleiro francês. Ele não demonstra muita segurança, principalmente nas bolas chutadas de fora da área. Quanto aos laterais, são razoáveis defensivamente e fracos no apoio ao ataque. Enfim, nessa final Itália x França, não aponto um grande favorito, mas acredito que a seleção italiana vem com um pouco mais de força depois da vitória sobre os donos da casa.

E quem será o craque da Copa? Zidane? Cannavaro? Vieira? Buffon? Façam as suas apostas.

terça-feira, julho 04, 2006

Síndrome de Maradona

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Henrique Moretti

E a Argentina caiu de novo em Mundiais. E de novo caiu cedo, antes das semifinais. Para “los hermanos”, a mesma história se repete desde a Copa de 90, na Itália, quando, contando com Maradona (e principalmente naquele Mundial, com o “tapa-penales” Goycoechea), chegaram à final. Mesmo sem jogar bem, é verdade, mas chegaram.

A partir da competição em solo italiano a sorte argentina não é mais a mesma. Em 1994, obtiveram a classificação apenas na repescagem, contra a Austrália (com direito a derrota por 5x0 ante a Colômbia, nas Eliminatórias). Assim mesmo, estrearam com a banca toda contra a Grécia, num 4x0 com bom futebol e que marcaria o último gol de Diego Maradona com a camisa albiceleste. Como todos sabem, Dieguito caiu ao ser pego no dopping e a seleção também não resistiu, quando nas oitavas nem os gols de Batistuta adiantaram para parar a Romênia, de Hagi: 3x2.

Para o Mundial da França, de 98, a Argentina tinha um timaço. Verón, Ortega e Batistuta estavam no auge da forma. Redondo era outro que estava, considerado o melhor volante do mundo na época, mas o ex-atleta do Real Madrid ficou de fora da Copa por não se sujeitar às regras do treinador Daniel Passarella, que mandara os jogadores não usarem cabelos compridos. Apesar de tudo, o grupo fácil, com a companhia de Jamaica, Japão e Croácia foi um prato cheio para a equipe, que avançou tranqüilamente para enfrentar, e vencer, os arqui-rivais ingleses. O goleiro Carlos Roa surgiu bem nas cobranças de pênaltis para levar os argentinos às quartas-de-final, onde sucumbiram contra a Holanda, no finzinho do tempo regulamentar, num gol histórico de Dennis Bergkamp.

Na Copa de 2002 veio a maior decepção. A Argentina, de campanha impecável nas eliminatórias, apareceu como grande favorita ao título, junto à França. Ambas acabaram caindo ainda na primeira fase, e o time de Bielsa, que ainda tinha remanescentes de fracassos anteriores, como Batistuta, Caniggia e Veron, fez a torcida argentina chorar pela eliminação quando todos consideravam que aquela seria a grande chance. O grupo em que a seleção caiu também não ajudou: um dos mais difíceis da história das Copas, com Nigéria, Suécia e Inglaterra.

E agora, no Mundial da Alemanha, quando nossos vizinhos chegaram discretamente, de mansinho, e foram pouco a pouco construindo um favoritismo (chegando a encostar no Brasil nas casas de apostas), com boa vitória sobre as perigosos marfinenses, goleada sensacional de 6x0 sobre sérvios e virada no coração pra cima dos mexicanos.

Porém, novamente os argentinos sucumbiram, agora diante dos anfitriões alemães, numa partida muito disputada, em que até começaram bem, controlando o ímpeto inicial da Alemanha, que foi característico durante a competição. E ainda saíram ganhando, gol de Ayala, mas depois não souberam segurar o resultado. Pekerman efetuou substituições equivocadas e Klose empatou. A Argentina ainda teve o azar de perder o goleiro Abbondanzieri, machucado, quando o jogo ainda estava 0x0.

E nos pênaltis, o mesmo Ayala, talvez o melhor jogador argentino na Copa, desperdiçou a cobrança, como fez Cambiasso, fazendo com que a albiceleste voltasse pra casa mais cedo, de novo, ampliando o jejum de semifinais por mais quatro anos.

A verdade é que a Argentina parece estar vivendo uma “síndrome de Maradona”, como a que o Brasil viveu nas décadas seguintes à aposentadoria de Pelé, quando ficou por 24 anos sem títulos em Mundiais, de 1970 a 1994.

“Los hermanos” têm bons jogadores, bom ambiente, união, torcida que participa e incentiva, técnicos renomados, mas não conseguem chegar ao ponto máximo do futebol mundial como feito quando puderam usufruir do talento de Dieguito. Talvez seja em 2010, quando com Messi mais maduro, e melhor aproveitado, a equipe encontre um substituo à altura do antigo ídolo.

Enquanto isso o povo argentino, fanático, chora por mais uma eliminação precoce de sua seleção.


Ucrânia, zebra às avessas

A história das Copas do Mundo são marcadas por zebras. Nas competições mais recentes então, o aparecimento do mamífero listrado é mais constante ainda. Porém poucas vezes se viu uma surpresa com um futebol tão pobre quanto o da Ucrânia.

Shevchenko e seus companheiros foram a única seleção sem tradição a se infiltrar entre os oito primeiros da Copa 2006, onde todos os seis campeões mundiais participantes estiveram, mais Portugal, de Felipão.

Mas o futebol apresentado pelo país da ex-União Soviética não é digno de se figurar no rol dos oito mais de uma competição desse porte, já que em praticamente nenhum momento a Ucrânia apresentou alguma coisa, salvo no jogo contra a Arábia Saudita, quando goleou por 4x0. Mas, convenhamos, é a Arábia Saudita...

De resto, derrota acachapante sofrida para a Espanha, vitória polêmica diante da fraca Tunísia e triunfo nos pênaltis após um fraco 0x0 contra a Suíça.

O fato é que a Ucrânia chegou bem mais pela facilidade que apareceu em seu caminho do que por seus próprios méritos. É claro que os comandados de Oleg Blokhin não têm culpa disso, mas até então zebras como Turquia, Senegal, Croácia, Camarões e tantas outras mostraram bem mais futebol que os ucranianos.

Apesar de tudo, a estreante Ucrânia termina a campanha na Alemanha chegando já nas quartas-de-final, e o craque Shevchenko conseguiu deixar sua marca em redes de uma Copa do Mundo (duas vezes), mediante a outros grandes jogadores que nunca anotaram na maior competição do futebol do planeta, ou que sequer participaram dela. Valeu, Sheva!

Coluna também publicada em www.voleio.com

segunda-feira, julho 03, 2006

Brasil X França. A ressurreição do pesadelo

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Luiz Mendes Junior

(Texto escrito em 3 de julho de 2006)

Eis, amigos, a “encoberta” verdade sobre 1998! O grande segredo por trás de uma final de copa que suscitaria, pelo menos até anteontem, o imaginário de milhões de torcedores, incrédulos na legitimidade do futebol pífio apresentado por nossa seleção, convictos na existência de alguma trama escusa – possivelmente ligada à “suspeita” convulsão de Ronaldo horas antes da partida começar – que nos tivesse feito entregá-la em troca de qualquer favor idiota oferecido pela FIFA, Adidas, Nike, ou sabe-se lá quem, e, desta incapacidade de lidar com o óbvio, folclores e teorias sobre arranjos de resultados nasceram, mesmo fora do Brasil, afinal, o “grande time” que jogara “tão maravilhosamente bem” contra a Holanda nas semi-finais não podia perder como perdeu: apático, confuso, incapaz de reagir, e o problema de Ronaldo viraria desculpa para Zagallo, Bebeto e outros protagonistas do infame episódio na hora de justificar seus fracassos. Dunga, claro, seria exceção, e não hesitaria em enfatizar a relevância dos méritos adversários como elemento determinante do “desastre”. Desastre que, de algum ponto perdido no limbo esportivo, resolveu ressurgir, revivendo máculas e glórias de uma decisão até então questionada, talvez para desfazer mal-entendidos, remover nossas vendas de narcisismo ferido, castigar a empáfia de uma nação que só consegue analisar futebol olhando o próprio umbigo, repetir uma lição que nunca foi e dificilmente será aprendida, a lição de que estrelas nem sempre resolvem campeonato, de que ostentar um bom time transcende ter um plantel de craques, de que podemos possuir os melhores jogadores (será?), mas não necessariamente o melhor futebol, e de que este esporte também envolve estratégia, estudo, racionalidade, repetição, planejamento, treino, opções de jogo, prevalescência tática, física, emocional, de que “se deu certo anteontem e ontem”, não significa que ocorrerá de novo, de que se erramos e consertamos em cima da hora em alguns torneios onde triunfamos, não precisaremos errar outra vez para repetir a mesma “mística” vencedora.

Como em 1998, perdemos anteontem para um time mais inteligente, com uma estratégia superior à nossa, com um “maestro” intelectualmente mais capaz de compreender e manipular o jogo do que qualquer Kaká, Cafu ou Ronaldinho. Se capengamos e tropeçamos até a decisão de 98, sobrevivendo mais do talento individual do que de qualquer capacidade estratégica ou tática que Zagallo pudesse possuir na manga (ainda que proporcionássemos esporádicas exibições mais convincentes); em 2006, fomos além na mediocridade, e, de novo, os “azuis” de Zidane apareceram dos céus para mostrar ao Brasil que nosso suposto “melhor futebol do mundo” não pode mais sobreviver de improvisos, nomes, Marketing, brados, folclores, místicas, lampejos intuitivos e supertições, que se a alguns adversários sempre faltou o tal “brilho a mais” que fizesse diferença nos momentos decisivos, que se a essa mesma França faltara magia até anteontem e decerto faltará quando Zidane se aposentar, a nós carece inteligência, capacidade analítica, e, claro, fundamentos básicos de outras seleções onde atacantes sabem jogar sem bola e meio-campistas conseguem completar um passe longo e ligar contra-ataques sem grandes dificuldades. Isso, claro, sem mencionar nosso velho caos organizacional de bastidores futebolísticos, malogrado por ervas daninhas que usam o esporte preferido da nação como pretexto para enriquecer, vampiros da bola lucrando alto com cada transação, negociata escusa, patrocínio, saída ou entrada de jogador, mandando e desmandando dentro e fora do país, protegidos e legitimados pelo escudo dos clubes e federações que representam. O grande segredo de 98, revelado anteontem ao mais incrédulo dos incrédulos, pouco teve a ver com supostas convulsões de Ronaldo e certamente não envolveu qualquer entrega de resultado; o segredo foi uma mistura de talento e inteligência, de aliar qualidade técnica à estratégia, foi ter um amplo conhecimento sobre nós, nossos padrões, fraquezas, nossa terrível incapacidade de reagir e reorganizar quando surpreendidos e encurralados em nosso “modus-operandi”. Como em 98, o Brasil se deparou com um antídoto e não conseguiu se transformar ao longo de noventa minutos, ler a partida, utilizar opções, desenvolver alternativas sobressalentes para o caso de problemas com o “plano A”. Zagallo não tinha “planos B” em 98, e tampouco Parreira em 2006, apenas idéias vagas desenvolvidas ao longo do mundial, “pôr esse ou aquele jogador”, “um volante a mais ou um atacante a menos”. O segredo de 98 foi que apostar demais no jeitinho brasileiro pode nos fazer cair de joelhos ante a inexorabilidade racional dos europeus, especialmente se estiver ela aliada ao talento diferenciado de dois ou três jogadores, simbolizados anteontem por uma mistura de África com “Velho continente”, uma autêntica legião estrangeira pós-globalização encabeçada por general “Zizou”, seus tenente Henry e Vieira, sargentos Makelele, Thuram e Ribery, e todo um exército azul, branco e vermelho a marchar incólume sob o som da marselhesa enquanto enterrava cabeças verde-amarelas de mauricinhos e pop-stars sem comando ou qualquer noção do que ocorria em combate. Como Napoleão, Zidane fez seu exército dividir nossos apáticos representantes, isolá-los, anula-los no âmbito coletivo até torná-los quase inofensivos, atabalhoados, desesperados ante a morte anunciada. Não houve batalha, resistência ou honrarias. Fomos, como em 98, escurraçados da copa por nêmesis imbuídos em anunciar ao mundo que o futebol brasileiro era uma farsa. Se em Paris podíamos ser parcamente redimidos pela atuação satisfatória das semi-finais contra uma Holanda que nos sobrepujara por cerca de 70 minutos, perdera gols quase impossíveis, mas também nos brindara com um desgaste físico de prorrogação que ofereceria chances para mudarmos a imagem histórica de uma partida; anteontem, não houve atenuantes ou desculpas esfarrapadas, nenhum jogo anterior que nos consolasse, nenhum mistério que nos fizesse acreditar em conspirações folclóricas. Perdemos em campo e perdemos para o mundo inteiro saber da copa em que fomos um time de várzea, do mundial em que sucumbimos à arrogância da CBF, a uma preparação mal elaborada capaz de dispensar amistosos importantes para depois reclamar da falta deles quando o navio afundasse, a um grupo covarde, técnico e jogadores incapazes de contextualizar um problema e elaborar soluções ao longo de noventa minutos ou mesmo entre um jogo e outro. Parreira não perdeu porque quis jogar feio ou bonito; Parreira não adotou sua filosofia “pragmática” de 94, como tanto anunciaria a seus críticos, mas apenas a utilizou como pretexto para endossar vitórias fortuitas, quase casuais, onde estivemos a beira do gol de empate ou da derrota o tempo inteiro, gol que, por capricho e muito esforço dos pobres Dida, Juan e Lucio, não nos surpreendeu enquanto podia, deixando para aparecer justamente quando não mais fosse possível mudar, ousar ou arriscar. Se Parreira foi sensato ao colocar Juninho em campo, mesmo tendo esta escalação falhado além de minhas pobres e talvez enganosas expectativas, foi incoerente ao deixar Robinho por tanto tempo no banco, mesmo diante do óbvio, mesmo depois do gol, preferindo restabelecer seu time predileto com Adriano, talvez para calar a crítica com mais um golzinho espírita, prorrogando assim uma reação que poderia ao menos atenuar nosso vexame, garantir uma derrota digna ou até um empate em tempo normal, sucedido (Por que não?) de uma semi-final que nos possibilitasse enterrar Brasil X França de 2006 como Brasil X Inglaterra fez com Brasil X Bélgica em 2002, evitando que um erro de escalação marcasse uma era em nosso futebol, pois, em copa do mundo, o que ocorre durante 90 minutos de uma decisão ou ao longo de uma campanha, fica para sempre, acima de trocentos jogos de eliminatória, Copa das confederações ou comerciais da Nike. A humilhação de anteontem não sucedeu apenas por erros de escalação, mas coroou uma série de equívocos que permanecerão entranhados em nosso futebol, protegidos esporadicamente entre um título e outro, esquecidos a cada euforia e reavivados a cada comprovação de nosso eterno desleixo. Essa copa será marcada para nós como a copa da vergonha, a copa que humilhou nosso futebol como tanto temi ao longo de “reflexões” escritas neste blog, reflexões ingenuamente esperançosas de um milagre, mas profeticamente temerosas de um mico anunciado e confirmado. Esse time francês que nos venceu dificilmente voltará a brilhar como anteontem, pois, apesar da inesperada evolução que apresentara desde sua estréia, apesar de Henry e “Zizou”, ostenta ainda vestígios claros de mediocridade, que, mesmo diante de um oponente tão inexpressivo, mesmo diante de inquestionáveis méritos em nos sufocar por quase noventa minutos, ameaçaram reaparecer, e talvez reluzissem fortes, especialmente no pobre Barthez, se Robinho adentrasse o campo mais cedo, mas em futebol e na vida não existem “ses”, apenas a história, a irreversível história de um ovo fabergé que se estatelou e apagou o futebol brasileiro por quatro longos anos.

Perder é normal, mas não perdemos anteontem, fomos cuspidos do mundial pela porta dos fundos. E isso é vexaminoso!

Luiz Mendes Junior também escreve no blog:www.noticiasdofront3.blogspot.com