O fato é que a Libertadores, desde que o futebol brasileiro acordou para ela (basicamente a partir de 1992, com o próprio São Paulo, de Telê), é objeto de desejo de 10 entre 10 clubes nacionais. Chegar na competição já foi dificílimo (aqui no Brasil apenas o campeão do Brasileirão e o da Copa do Brasil tinha direito às vagas), sendo que ela contava apenas com 16 times. Passar para a segunda fase então, mais complicado ainda era, já que no início da década de 90 apenas o líder da chave se classificava, e nada menos que 3 equipes voltavam pra casa mais cedo. Em 96 o regulamento já começou a mudar, passando a exatamente o contrário: 3 se classificavam.
A partir de 2000, a competição passou a contar com 32 times, num inchaço totalmente desnecessário, que provocou a presença de equipes um tanto quando bizarras dentro da tradicional competição, tal qual Blooming (Bolívia) Atlético Colegiales (Paraguai), Bella Vista (Uruguai), Taquary (Paraguai), entre outros. A competição outrora dificílima tornou-se de mais fácil entrada e qualificação para fase mata-mata.
É importante lembrar também do começo da participação dos clubes mexicanos, a partir de 98, na competição da Conmebol, como convidados, já que fazem parte da Concacaf e, assim sendo, não podem disputar o Mundial de Clubes como representante da América do Sul (regulamento um tanto quanto confuso).
Mas deixando o passado de lado, vamos ao que realmente interessa. A edição 2006, portanto, vem relembrando tempos áureos da Libertadores, com mais equipes de qualidade e representatividade.
Uma amostra dessa mudança foi vista na primeira fase da copa, quando por exemplo o Palmeiras não foi líder de seu grupo, o 7. Vencido pelo Atlético Nacional, e ainda por cima não venceu dois de seus jogos como mandante; o milionário Corinthians, apesar de ter terminado em primeiro na chave 4, teve que suar muito para superar o bom time chileno Universidad Católica, de Dario Cuenca, que acabou ainda surpreendentemente eliminado pelo mais fraco Tigres, do México.
O atual campeão São Paulo também venceu seu grupo, o 1, mas perdeu os dois jogos que fez contra o mexicano Chivas Guadalajara, o que fez com que um tabu de mais de 30 jogos sem perder no Morumbi caísse por terra; o Goiás foi a equipe brasileira que mais surpreendeu no início dos jogos, realizando uma campanha impecável no primeiro turno da fase de grupos, depois caindo de produção, mas mesmo assim garantindo a liderança do Grupo 3, à frente do Newell´s Old Boys, de Ariel Ortega, enquanto o Internacional teve chave mais tranqüila e ganhou com facilidade o grupo 6, com o tradicional porém fraco Nacional, do Uruguai, em segundo.
No Grupo 8, o Paulista de Jundiaí foi eliminado e o poderoso River Plate surpreendido. O líder do grupo foi o Libertad, do Paraguai, uma das surpresas da competição, com a equipe de Buenos Aires na vice-liderança; e poderoso mesmo foi o Vélez Sarsfield, do destaque Leandro Somoza (ao lado, em primeiro plano), também equipe portenha, que só perdeu o 100% de aproveitamento quando já era líder de seu grupo e já estava garantido como o melhor time da primeira fase.
A fase mata-mata, onde realmente o bicho pega, teve início no último meio de semana, com o Goiás entrando em situação difícil diante do Estudiantes de la Plata, o Internacional passando bem pelo Nacional fora de casa, o Corinthians conseguindo resultado razoável versus o River Plate, fora de casa; no clássico paulista, Palmeiras e São Paulo ficaram no empate. O Vélez goleou o rival local Newell´s como visitante e o LDU fez o mesmo com o Atlético Nacional, só que como mandante. Por fim, O Libertad arrancou bom empate no México contra o Tigres e o Chivas praticamente garantiu classificação, obtendo boa vantagem diante do Independiente da Colômbia.
Daqui pra frente, as coisas tendem a ficar ainda mais difíceis para as equipes brasileiras, que de modo algum encontrarão moleza para chegar à final. Vélez, São Paulo e Internacional despontam como favoritos, seguidos de perto por Corinthians e Guadalajara. No meio do caminho, LDU, provável próximo rival colorado, costuma sempre complicar nas alturas de Quito, e o Libertad, que vem surpreendendo, pode manter-se em ascensão.
Assim, chega-se à conclusão de que a Libertadores, mesmo sem seus super-campeões Independiente e Boca Juniors, ambos da Argentina, pode vir a estar tomando novamente seu rumo como uma grande e difícil competição, onde luta, garra e fibra valem muito. Novos “Onces Caldas” chegarem à decisão, portanto, será difícil, e um mexicano tem boas chances, de enfim, conquistar a América a qual ele não pertence geograficamente.
As cartas estão na mesa, a Taça Libertadores está pegando fogo. Jogue suas fichas!
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