terça-feira, maio 02, 2006

Libertadores à moda antiga

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Henrique Moretti


A edição 2006 da Taça Libertadores da América, diferentemente de anos anteriores, empolga. E antes que o torcedor são-paulino venha a ficar irritado comigo, saio com a explicação. Não que a competição do ano passado não tenha sido vencida com méritos pelo tricolor do Morumbi, pelo contrário, afinal o tri foi merecidíssimo. O que tento tocar aqui é o nível técnico do campeonato e o número de postulantes ao título, ambos mais elevados que nos tempos recentes.

O fato é que a Libertadores, desde que o futebol brasileiro acordou para ela (basicamente a partir de 1992, com o próprio São Paulo, de Telê), é objeto de desejo de 10 entre 10 clubes nacionais. Chegar na competição já foi dificílimo (aqui no Brasil apenas o campeão do Brasileirão e o da Copa do Brasil tinha direito às vagas), sendo que ela contava apenas com 16 times. Passar para a segunda fase então, mais complicado ainda era, já que no início da década de 90 apenas o líder da chave se classificava, e nada menos que 3 equipes voltavam pra casa mais cedo. Em 96 o regulamento já começou a mudar, passando a exatamente o contrário: 3 se classificavam.

A partir de 2000, a competição passou a contar com 32 times, num inchaço totalmente desnecessário, que provocou a presença de equipes um tanto quando bizarras dentro da tradicional competição, tal qual Blooming (Bolívia) Atlético Colegiales (Paraguai), Bella Vista (Uruguai), Taquary (Paraguai), entre outros. A competição outrora dificílima tornou-se de mais fácil entrada e qualificação para fase mata-mata.

É importante lembrar também do começo da participação dos clubes mexicanos, a partir de 98, na competição da Conmebol, como convidados, já que fazem parte da Concacaf e, assim sendo, não podem disputar o Mundial de Clubes como representante da América do Sul (regulamento um tanto quanto confuso).

Mas deixando o passado de lado, vamos ao que realmente interessa. A edição 2006, portanto, vem relembrando tempos áureos da Libertadores, com mais equipes de qualidade e representatividade.

Uma amostra dessa mudança foi vista na primeira fase da copa, quando por exemplo o Palmeiras não foi líder de seu grupo, o 7. Vencido pelo Atlético Nacional, e ainda por cima não venceu dois de seus jogos como mandante; o milionário Corinthians, apesar de ter terminado em primeiro na chave 4, teve que suar muito para superar o bom time chileno Universidad Católica, de Dario Cuenca, que acabou ainda surpreendentemente eliminado pelo mais fraco Tigres, do México.

O atual campeão São Paulo também venceu seu grupo, o 1, mas perdeu os dois jogos que fez contra o mexicano Chivas Guadalajara, o que fez com que um tabu de mais de 30 jogos sem perder no Morumbi caísse por terra; o Goiás foi a equipe brasileira que mais surpreendeu no início dos jogos, realizando uma campanha impecável no primeiro turno da fase de grupos, depois caindo de produção, mas mesmo assim garantindo a liderança do Grupo 3, à frente do Newell´s Old Boys, de Ariel Ortega, enquanto o Internacional teve chave mais tranqüila e ganhou com facilidade o grupo 6, com o tradicional porém fraco Nacional, do Uruguai, em segundo.

No Grupo 8, o Paulista de Jundiaí foi eliminado e o poderoso River Plate surpreendido. O líder do grupo foi o Libertad, do Paraguai, uma das surpresas da competição, com a equipe de Buenos Aires na vice-liderança; e poderoso mesmo foi o Vélez Sarsfield, do destaque Leandro Somoza (ao lado, em primeiro plano), também equipe portenha, que só perdeu o 100% de aproveitamento quando já era líder de seu grupo e já estava garantido como o melhor time da primeira fase.

A fase mata-mata, onde realmente o bicho pega, teve início no último meio de semana, com o Goiás entrando em situação difícil diante do Estudiantes de la Plata, o Internacional passando bem pelo Nacional fora de casa, o Corinthians conseguindo resultado razoável versus o River Plate, fora de casa; no clássico paulista, Palmeiras e São Paulo ficaram no empate. O Vélez goleou o rival local Newell´s como visitante e o LDU fez o mesmo com o Atlético Nacional, só que como mandante. Por fim, O Libertad arrancou bom empate no México contra o Tigres e o Chivas praticamente garantiu classificação, obtendo boa vantagem diante do Independiente da Colômbia.

Daqui pra frente, as coisas tendem a ficar ainda mais difíceis para as equipes brasileiras, que de modo algum encontrarão moleza para chegar à final. Vélez, São Paulo e Internacional despontam como favoritos, seguidos de perto por Corinthians e Guadalajara. No meio do caminho, LDU, provável próximo rival colorado, costuma sempre complicar nas alturas de Quito, e o Libertad, que vem surpreendendo, pode manter-se em ascensão.

Assim, chega-se à conclusão de que a Libertadores, mesmo sem seus super-campeões Independiente e Boca Juniors, ambos da Argentina, pode vir a estar tomando novamente seu rumo como uma grande e difícil competição, onde luta, garra e fibra valem muito. Novos “Onces Caldas” chegarem à decisão, portanto, será difícil, e um mexicano tem boas chances, de enfim, conquistar a América a qual ele não pertence geograficamente.

As cartas estão na mesa, a Taça Libertadores está pegando fogo. Jogue suas fichas!

Publicada também em www.voleio.com

segunda-feira, maio 01, 2006

Profissão: Jornalista esportivo

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Daniele Pechi

Num primeiro de maio de alguns anos atrás, minha mãe me fez a pergunta clássica: Filha, o que você quer ser quando crescer?

Eu na hora respondi: Jornalista esportiva!

De início ela tomou um susto, a filhinha mais nova, delicadinha, entrar nesse meio, tão “machista”.

Bom, na época queria entrar nesse meio simplesmente por ser fanática por esportes.

Hoje, sou muito consciente de que isso não basta! Claro que a parte boa inclui estar de camarote assistindo aos jogos, presenciar lances que podem entrar para a história, conhecer os ídolos de um país ou do mundo quem sabe.

Mas acho que a parte mais fascinante de tudo isso é atingir a um número tão grande de pessoas. Todos sempre dão uma olhadinha em algum programa esportivo e está comprovado, a seção de esportes do jornal é disparada a mais lida: do patrão ao empregado, do faxineiro ao presidente da empresa, todos discutem a rodada no dia seguinte.

Justamente por esse motivo é que muitos jornalistas se tornam marqueteiros e publicitários... e como vendem! A televisão aberta está contaminada de programas que dedicam boa parte de seu tempo para propagandas. Às vezes penso estar por engano assistindo a um canal de vendas, mas são apenas as mesas redondas de domingo à noite.

Outro grande problema está na “vulgarização” do termo jornalista, afinal, hoje em dia todo mundo é, né? Modelos que nada sabem do assunto e nem se quer passaram na porta de uma faculdade andam tirando vagas de muita gente competente.

Num meio como o esporte onde muitas fusões, parcerias acontecem, o trabalho investigativo é primordial. Na busca de uma notícia, às vezes, descobre-se esquemas muito lucrativos e principalmente foras da lei e é nessa hora que o verdadeiro jornalista aparece! Sua função é de repassá-la, sem omissão de informações, afinal ele deve estar do lado do público.

Trabalhar para grandes meios coloca-os em situação delicada, existe um editor que realmente corta o que não é interessante a seus patrocinadores. Daí surge o grande dilema da profissão: trabalhar para a grande massa ou escolher um meio alternativo, portanto mais liberal, mas falando para poucos?

Apesar de todas as dificuldades, desde a mais simples como encarar técnicos e jogadores mal humorados, até as mais pesadas, como a escolha entre se manter em um bom emprego ou prezar pela ética, não desisti da idéia. Aliás, ela está mais forte do que nunca. Afinal, como diria Caetano, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é!