domingo, julho 09, 2006

Um fracasso anunciado

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Henrique Moretti

O fracasso da seleção brasileira na Copa do Mundo 2006 continua repercutindo por aqui. E do pior lado possível.

A equipe, que chegou para disputar a competição na Alemanha cercada de um enorme favoritismo, proveniente da imprensa dos mais diversos países participantes do Mundial, foi vergonhosamente eliminada nas quartas-de-final, para a França, num dos maiores vexames do Brasil na história das Copas.

Porém, as últimas participações do Brasil antes da Copa não justiçavam tamanho “já ganhou”. O time de Parreira alternou várias vezes entre bons e maus momentos. A impressão que ficou para os alemães e resto do mundo (e que teoricamente justificava a “banca brasileira”) era a da Copa das Confederações, onde a seleção só jogou bem a partir da segunda fase. E com um time totalmente diferente.

Veremos: naquela competição, que passa longe do tamanho e da expressão de uma Copa do Mundo, o Brasil sofreu na primeira fase diante de México e Japão, só batendo facilmente a atual campeã européia Grécia. Na segunda fase sim boas partidas, numa vitória por 3x2 diante da Alemanha (por sinal, bem diferente desta do Mundial), e noutra por 4x1 sobre a Argentina na final. Esta talvez tenha sido a pior coisa que poderia acontecer para o Brasil, contraditoriamente. Arredonando um pouco, esta goleada foi a que ofereceu tamanho favoritismo para a seleção, que não soube administra-lo, tranformando-o em “oba-oba”.

Por quê? Primeiro porque o Brasil da Copa é bem diferente daquele: a juventude das laterais, que tinham Gilberto e Cicinho, foi trocada pela suposta experiência de Cafu e Roberto Carlos. Além disso, Robinho foi trocado por Ronaldo, que garantiu sua vaga mais com nome que com futebol.

Segundo: soa como desculpa, mas a Argentina estava muito desfalcada. Nomes como Santana, Figueroa e Lux, que nem foram convocados por Pekerman para o Mundial, participaram daquela competição. Esses desfalques pareciam ser escondidos pela imprensa brasileira à época, que só pensava em exaltar a seleção pelo título e, claro, zombar dos argentinos.

Outra coisa que ninguém parecia enxergar (ou querer enxergar) era a derrota para a mesma Argentina em Buenos Aires, meses antes, pelas Eliminatórias. O 0x3 daquele primeiro tempo (que se transformou em 1x3 no segundo) demonstrou a todos grandes falhas da equipe do Brasil, e as críticas, ao invés de virem, foram encobertas.

Más apresentações em amistosos, como no 1x1 contra a Croácia e no 1x0 ante a Rússia também não eram consideradas na hora de exaltar o pentacampeão mundial. Ou a falta deles também não era comentada, via de regra. Afinal, usar Datas Fifa para jogos contra Kuwait e Emirados Árabes é perfeitamente normal. Poucos dias antes da Copa desafiar fortíssimas equipes como Lucerna e Nova Zelândia também é totalmente aceitável. O Brasil não precisava mesmo provar nada... A resposta veio na Copa.

Copa que o Brasil começou mal, muito mal. As vitórias sobre a Austrália e a mesma Croácia não deveriam enganar. Mas enganaram. Juca Kfouri disse antes do terceiro jogo, que seria contra o Japão, que “o pior que poderia acontecer à seleção era uma boa apresentação sobre a fraca seleção, e com gols de Ronaldo”. E ele estava certo.

O Japão realmente era fraco, mas aqui no Brasil algumas pessoas insistiam em exaltá-lo. Talvez por ter Zico. Mas na realidade era o mais fraco do grupo F. E proporcionou à equipe de Parreira uma vitória “convincente”. Oras, mas convencer contra um Japão, e ainda que entrara já praticamente eliminado é muito duvidoso. Ronaldo conseguiu igualar o recorde de Gerd Müller, e parecia estar satisfeito.

A vitória contra Gana nas oitavas também não foi diferente. Um time brasileiro apático, jogando mal, e vencendo, até tranqüilamente, mais pela mediocridade do adversário que por méritos nossos.

A imprensa e torcida brasileiras continuavam a sonhar. Frases como “olhe aí: Ronaldo apareceu”, “ah, na hora H o Ronaldinho vai arrebentar”, “Cafu ainda joga muita bola” eram facilmente vistas no país líder do Ranking FIFA.

Mas sonhar às vezes é um pecado. Ainda mais se tratando de futebol. O primeiro adversário de nível que o Brasil enfrentou, o primeiro já campeão mundial, a França, que nem um grande Mundial fazia, dominou facilmente as ações na fatídica partida de quartas-de-final.

A moral da história: não era possível o Brasil ir longe com o futebol até ali apresentado. A equipe parecia mais preocupada com os recordes individuais, de Cafu e de Ronaldo. Outros não tinham mais condições de estar ali, como Roberto Carlos. Outros decepcionaram feio, como Ronaldinho, Kaká e Parreira. Outros jogaram o que sempre jogaram, tal qual o fraco Adriano. E por aí vai.

A falta de comprometimento da equipe com os 180 milhões de pessoas que a monitoravam (como dizia a escrita no ônibus da seleção) foi gritante. E o sonho brasileiro acabou em pesadelo. E o pesadelo para o Brasil tem nome e sobrenome iguais aos de 98: Zinedine Zidane.

Coluna também publicada em www.voleio.com

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