quinta-feira, junho 15, 2006

O ovo fabergé canarinho

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Luiz Mendes Junior

Faz mais ou menos uma semana que saiu na TV uma reportagem sobre “como vencer o Brasil na copa”, segundo opiniões de cronistas esportivos estrangeiros. Um deles comparava nossa equipe a um ovo fabergé, maravilhosamente bem elaborado, belíssimo, magnânimo e também frágil. Muito frágil.

Estou certo de que qualquer brasileiro, quer torcedor, narrador, comentarista esportivo, técnico ou jogador da seleção, concorda que nossa equipe esteve mal, apesar da recente vitória sobre a Croácia, como também concorda que Ronaldo esteve péssimo, mas decerto divergirá, e muito, ao tentar diagnosticar os motivos da pífia atuação. Já imagino Trajanos, Calazans e PVCs procurando explicar a fraca eficácia do “quarteto mágico” e possíveis soluções ofensivas para o time que o permitiriam fluir melhor, “tocar a bola mais rápido”, colocar Robinho no lugar de Ronaldo, problemas físicos de A, B ou C, e, se alguém porventura cogitar que um atacante precisa sair, decerto clamará por outro. Dia desses, um cronista famoso bradou aos quatro ventos o quão decepcionado ficaria se Parreira abrisse mão se de seu quarteto, “acovardando-se”, jogando um “futebol de resultados”.

Individualmente, a seleção não esteve mal, principalmente atrás. Dida, Cafu, Lúcio e Juan mostraram-se eficazes, Kaká, Zé Roberto e Ronaldinho Gaúcho produziram. Adriano jogou mal, mas colaborou tirando Nico Kovac da partida. Nosso entrosamento ofensivo esteve aquém dos objetivos, mas isso era esperado, pelo menos por quem entende que copa do mundo não é comercial da Nike, que o slogan “joga bonito” nem sempre prevalece em campo ao longo de uma partida. Aliás, encarnar demasiadamente essa campanha publicitária pode arrebentar nosso ovo fabergé de maneira humilhante nessa copa, e bem cedo.

Até entendo a relevância em discutir atuações individuais na análise da estréia canarinho, de questionar Adriano e Ronaldo na escalação titular, mas considero isso menor do que tocar no tabu evitado por grande parte da crônica esportiva nacional. Até onde vale a pena insistir no “quarteto” ? Até onde devemos apostar nessa formação leve e ofensiva demais que deixa espaços sempre que sobe, sobrecarregando Emerson, Zé Roberto e toda o sistema defensivo, que precisa de um entrosamento, uma coordenação, uma fluência muito bem treinada e orquestrada para não sucumbir à tendência natural que possui de vulnerabilizar a equipe sempre que perdemos a bola, deixando nossos defensores no fio da navalha, criando riscos desnecessários em partidas que poderíamos jogar e triunfar com mais tranqüilidade?

O tal “quadrado mágico” surgiu nas eliminatórias, quando Parreira decidiu trocar seu 4-4-2 com um volante fixo e dois “móveis” por outro de um volante fixo e um “móvel”, abrindo brecha para a escalação de um meia leve ou um atacante, buscando melhorar a capacidade ofensiva do time, o que de fato ocorreu. Esta modificação funcionou mal no primeiro teste, mas duas partidas depois, contra o Paraguai, provou-se, no mínimo, um recurso valioso. Dias mais tarde, contra a Argentina em Buenos Aires, desastre: o time leve do Brasil viu-se surpreendido por um adversário pegador, tomando 3 gols no primeiro tempo, e apenas jogando de igual para igual quando trocou um integrante do quarteto por Juninho pernambucano (ou outro volante, não me lembro bem), desfazendo a formação. Questionou-se então a eficácia e a aplicabilidade do “quadrado”, mas era cedo para desistir, e Parreira decidiu testá-lo definitivamente na Copa das Confederações.

A novidade tática soou, para grande parte da imprensa esportiva, como uma “evolução” das “tendências conservadoras” atribuídas ao técnico. Pouco importava a nossos cronistas se a seleção atuasse mal com seu “quadrado” em campo, pois os problemas estariam sempre em outro setor, e sempre haveria uma nova fórmula mágica de fazer o quarteto funcionar. De fato, há, mas cogito se realmente vale a pena correr riscos significativos para busca-las com tão pouco tempo disponível em vez de partir para iniciativas mais simples.

Por fim, a Copa das Confederações chegou e o quarteto, então com Kaká, Robinho, Ronaldinho Gaúcho e Adriano fez seu teste, obtendo certo êxito em alguns confrontos e gerando problemas em outros. Sim, o Brasil venceu sua competição após partida brilhante contra uma Argentina desfalcada, embora perigosa, mas correu riscos idiotas e desnecessários na primeira fase enfrentando equipes medianas e por pouco não se viu eliminado por um Japão oportunista, que apenas soube tirar vantagem de nossas clamorosas deficiências.

Nas semi-finais, também penamos para vencer uma Alemanha que tinha os mesmos defeitos defensivos crônicos do Brasil e era bem inferior tecnicamente. Contra a Argentina, o quadrado pareceu funcionar sem deixar grandes buracos, mas apenas até metade do segundo tempo, quando Juninho Pernambucano (ou outro volante, não me lembro exatamente) entrou em campo para colocar mais “pegada” e ordem no meio. Vencemos, o quarteto foi “aprovado” e a equipe da Copa das Confederações acabaria servindo de base para a Copa de 2006, embora parte de seu elenco (incluindo um membro do quarteto) não fosse mais o mesmo. De novembro para cá, comentaristas esportivos têm se esforçado em debater quem deveria formar o “quadrado mágico”, mas raramente questionam sua real necessidade, temendo o desperdício de talentos que a adoção de um “triângulo” significaria. Eis decerto a problemática do Brasil nesta copa.

O que é melhor? Tentar aproveitar o maior número de talentos possíveis, comprometendo a solidez do time e apostando na “magia” do ovo fabergé ou diminuir um pouco seu brilho em nome da rigidez? Outra pergunta: Até onde tirar um centro-avante para colocar Juninho Pernambucano (em vez de Robinho) seria, de fato, um desperdício de talento? Há quatro anos, Felipão trocou seu esquema sólido de dois volantes por outro com dois “meias” às vésperas da copa do mundo, tornando sua equipe tão frágil quanto este Brasil que jogou ontem, mas numa chave que permitia esse luxo. Quis repetir a fórmula nas oitavas de final e quase foi enxotado pela seleção belga, algo que comprometeria gravemente a história de toda uma geração de atletas, caso ocorresse. Voltou a jogar com dois volantes contra a Inglaterra e vislumbrou sua equipe dando um salto qualitativo impressionante até o fim da competição. O problema é que esses erros nem sempre deixam margem a uma segunda chance, nem sempre nos permitem um jogo seguinte que comprove nosso real potencial, e a imagem do erro vira a imagem de uma era.

Ontem, apesar do adversário forte, tivemos uma segunda chance. Resta saber se Parreira esperará ainda uma terceira ou quarta até fazer o necessário, quer abolindo o quarteto, substituindo Ronaldo ou ambos. O que não se pode é apostar demais no brilho e esquecer a solidez, preocupar-se em abrir brechas na defesa adversária ignorando as próprias deficiências, porque sempre haverá situações numa copa do mundo onde o ataque enfrentará dificuldade para fluir e dependerá da eficácia de uma defesa igualmente destrutiva, evitando que percamos jogos para nossa própria fragilidade em vez do mérito oponente. Se for para sairmos mais cedo desse mundial, que seja sucumbindo ao talento alheio e não a nosso malfadado desleixo defensivo, como tanto aconteceu. Assim teríamos, de certo modo, aproveitado essa geração para fazer história, mesmo sem ganhar o título, em vez de pagar um grande mico.

Ontem, corremos riscos idiotas. A simples substituição de um centro-avante por Juninho Pernambucano teria tornado o jogo completamente diferente do que foi. A Croácia jogou bem, mas só deu tanto trabalho a nosso goleiro porque Parreira permitiu, mantendo Ronado e o quadrado tempo demais em campo, mesmo quando já vencia por 1 x 0.

quarta-feira, junho 14, 2006

A vez dos coadjuvantes

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Renato Bosi de Magalhães

O Brasil não jogou o que dele se esperava. O seu artista principal não foi o badalado Ronaldinho Gaúcho, mas sim Kaká, que fez um belo gol, se livrando de dois defensores croatas antes de chutar de fora da área.

A Inglaterra passou com um magro 1 a 0 pelo Paraguai. Não foi nenhum sufoco, pois os atacantes paraguaios não ofereceram perigo, mas os ingleses jogaram mal. Quem esperava uma bela partida do Gerrard ou do Lampard, por exemplo, se decepcionou. Quem “brilhou” foi Gamarra, com um gol contra na falta cobrada pelo Beckham. Ou seja, não foi um Ferdinand ou um Ashley Cole o coadjuvante que brilhou, mas sim o zagueiro do Palmeiras.

No jogo da Itália contra Gana, o melhor em campo foi Pirlo. Ele marcou o primeiro gol e roubou a bola que resultou no segundo, de Iaquinta. A grande estrela Totti fez um ou outro bom lance, mas ainda está longe daquele jogador que arrebenta na Roma.

O grande astro da Holanda, Van Nistelrooy, viu o seu companheiro de ataque Robben acabar com a defesa de Sérvia e Montenegro e se tornar, até agora, o grande destaque individual da Copa.

Portugal espera que com Deco e Cristiano Ronaldo a equipe possa enfim fazer uma bela Copa do Mundo. Com a ausência do meia do Barcelona, a esperança para o jogo contra Angola estava em Cristiano Ronaldo. Mas ele somente fez algumas firulas e não deu trabalho algum para os angolanos. O melhor em campo foi o veterano Figo, que deu o passe para o gol do Pauleta.

No jogo República Tcheca 3 X 0 Estados Unidos, o craque Nedved jogou bem, mas o destaque ficou por conta de Rosicky, que jogará a próxima temporada no Arsenal, e que foi duas vezes ao gol dos americanos.

A Austrália de Kewell e Viduka conseguiu, de virada, ganhar do Japão, graças aos reservas Cahill e Aloisi, autores dos gols nos últimos minutos do jogo. Já o México contou com o oportunismo de Omar Bravo para vencer os iranianos. Borgetti esteve apagado o tempo inteiro.

Tivemos exceções, claro. A principal delas foi o astro argentino Riquelme, que comprovou em campo a bola que joga no Villarreal e foi a estrela da partida Argentina X Costa do Marfim. Dos seus pés saíram os dois gols na vitória de 2 a 1 contra os africanos.

Portanto, nada mais importante que num jogo coletivo como o futebol, os coadjuvantes apareçam e ajudem suas seleções a vencerem as partidas.

terça-feira, junho 13, 2006

Quando os detalhes fazem toda a diferença

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Luiz Mendes Junior

Há três grupos nessa Copa que serão implacáveis com pequenos erros. A chave C, claro, conhecida como “grupo da morte”, e também as E e F, respectivamente, da Itália e do Brasil. Nossos segundo e terceiro adversários fizeram um jogo de detalhes, de poucos espaços disponíveis, marcação forte e defesas avançando suas linhas, congestionando o meio-de-campo. É certo que não teremos metade da moleza de 2002 na primeira fase. O Brasil não poderá estrear bamba como fez contra os turcos e nem abrir as avenidas das duas partidas subseqüentes. Se passar às oitavas, provavelmente encarará um duelo de vida ou morte com Itália ou República Tcheca.

De volta à chave F, pode-se dizer que o Japão perdeu por detalhes, mas também perdeu na imposição de seu estilo. Não chegou a marcar mal, contudo abriu mais brechas defensivas do que o adversário, e, ao contrario deste, precisou que seu goleiro intervisse freqüentemente a fim de evitar o pior. Viu-se facilitado por dois erros da arbitragem no primeiro tempo, sendo que um impediu um possível gol australiano (impedimento inexistente) e outro propiciou a abertura do placar (falta não marcada do atacante no goleiro).

De qualquer modo, penso que a tônica da partida não esteve só nos vacilos individuais japoneses que impediram sua possível vitória, apesar destes exercerem peso fundamental. Talvez a capacidade maior dos “aussies” em determinar como o jogo seria jogado tenha se constituído no grande diferencial, ponto chave que Parreira sempre enfatiza durante entrevistas. “Austrália e Japão” sucedeu-se mais à cara de Hiddink e do estilo pegador com muito contato, marcação e espaços mínimos disponíveis adotado pelos australianos do que a la Zico, futebol ofensivo, triangulações rápidas e prevalescência da técnica.

Os japoneses não souberam cadenciar quando necessário, recurso que sempre facilita a equipe mais técnica, como também não souberam impor a típica velocidade asiática. Uma Austrália “pesada” fez valer esse peso sobre um Japão “leve”, tornando o jogo sua imagem e semelhança, embora pudesse ter saído com uma derrota se o arqueiro nipônico não errasse feio, posicionando-se mal num escanteio, possivelmente empolgado pela defesa recém-realizada.

Outros detalhes, como um passe impreciso para a conclusão atabalhoada de um contra-ataque, ainda com a partida em “1 x 0”, também pesaram contra Zico e seus pupilos, que foram derrotados, sobretudo, na determinação dos parâmetros do jogo, mas também nesses detalhes individuais. A ótica predominantemente criativa do galinho talvez não se sustente quando desacompanhada de uma igual eficiência destrutiva, problema já evidenciado em amistosos contra Malta e Alemanha. Não nos surpreendamos, todavia, se essa equipe se classificar e tirar pontos do Brasil, pois tem capacidade para isso.

Pelo grupo E, Itália e República Tcheca mostraram a que vieram e decerto não imaginam precisar estar com capacidade inferior a 100% nas fases iniciais da competição para almejarem título. Rosicky e companhia evidenciaram uma fragilidade americana conhecida de seus últimos amistosos, mas também triunfaram pela qualidade técnica de time grande que possuem com Nedved em campo.

Gana, até então uma incógita para mim, mostrou empenho, força, volume de jogo, e pouca objetividade nas conclusões, talvez pela ausência de um grande craque. Não está no nível da Costa do Marfim, mas é bem melhor do que Angola e, decerto, Tunísia e Togo, podendo tirar pontos importantes de República Tcheca, Estados Unidos e até sonhar com a classificação. Seus adversários italianos souberam neutralizá-los - mesmo que conseguissem tornar o jogo rápido como gostam - e souberam contra-atacar como fazem sempre, demonstrando talento e rapidez nos pés de Pirlo, Totti, Camoranesi e outros, aproveitando as aberturas defensivas criadas nas subidas ganesas e os eventuais vacilos dos africanos, como aquele que gerou o segundo gol.

Ao Brasil, um alerta de que nossos primeiros três confrontos deverão ser duelos de espaços curtos, velocidade e pouca chances para errar, onde a imposição do estilo de jogo será fundamental, como também adaptar-se às condições adversas de longos momentos truncados e brigados com entrosamento, triangulações e muita paciência. Capacidade, nossos craques certamente possuem.

Luiz Mendes Junior também escreve no blog:www.noticiasdofront3.blogspot.com

O ataque mais pesado da Copa

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Henrique Moretti


Acompanhando a programação da ESPN Brasil no decorrer da semana que culminou com o início da Copa do Mundo FIFA 2006, me chamou a atenção uma observação de Paulo Vinícius Coelho, na qual, em suporte à tese de que Robinho merece uma vaga no time, o jornalista classificou a dupla de ataque titular da seleção brasileira, composta por Adriano e Ronaldo, como “o ataque mais pesado” entre os favoritos ao título da maior competição do futebol mundial.

Atribuiu assim à dupla o título de “ataque alemão”, mais germânico, curiosamente, que o dos próprios anfitriões do Mundial, que dessa vez apostam em Klose, que apesar de bom cabeceador não é nenhum gigante (1,82m), e Podolski, cuja uma das maiores qualidades que possui é a agilidade.

Adriano, de 1,89m e 87 kg, e Ronaldo, de 1,83 e peso variando entre o dito ideal 82kg, e o dito real, com 5kg a mais. A soma do conjunto, portanto, varia de 169 a 174kg, como destacou PVC, sendo assim, realmente, a mais “de peso” (literalmente) entre as principais favoritas deste Mundial: Itália, Alemanha, Argentina, Inglaterra, França, e o próprio Brasil.

Eu iria além: a dupla da seleção de Parreira pode ser considerada a mais pesada entre todos os times da competição, talvez só sendo derrotada pela parceria tcheca, Koller e Baros. Porém, no caso tcheco, onde a soma dos pesos estaria por volta dos 178kg, uma peculiaridade deve ser destacada: Koller, do alto de seus 2,02m, não teria como ser um jogador leve, convenhamos, com os 100kg de sua massa correspondendo a quase 60% do total da dupla.

Antes que o prezado leitor pense que tudo isso não passa de uma grande bobagem, paremos com números e mais números e vamos ao que realmente interessa.

A verdade é que o ataque brasileiro não vive grande fase. Adriano passou por grande seca de gols durante a temporada na Internazionale, de Milão, enquanto Ronaldo, apesar de ainda fazer bons jogos, não conseguiu atuar em mais que sete partidas consecutivas nessa temporada (número que precisaria fazer caso queira realmente chegar à decisão da Copa). Para piorar, o “Fenômeno” passou por uma semana mais que conturbada: bolhas, febre e até um atrito com o presidente Lula.

O petista indagou Parreira, numa videoconferência com a delegação da seleção brasileira, sobre a situação verdadeira de Ronaldo. Queria saber se, afinal, a eterna discussão do excesso de peso procedia ou não. Como Ronaldo não é flor que se cheire, a declaração acabou tendo repercussão na concentração da equipe, em Königstein. O careca replicou dizendo que “assim como é mentira que ele encontra-se gordo, deve ser mentira o boato de que Lula bebe demais”. Declaração um tanto quanto ofensiva quando o acusado não é nada menos que o Presidente da República.

Em treinos e amistosos vê-se que o ataque, composto por dois centroavantes típicos, além de ser lento, não tem o estilo do futebol brasileiro: da agilidade, da leveza, da arte. O trombador Adriano e o experiente Ronaldo são hoje jogadores que gostam de ocupar a mesma faixa de campo. Logo, o reserva Robinho, no lugar de qualquer um dos dois, daria uma maior mobilidade, como se mostrou recentemente nas partidas ante Nova Zelândia e Lucerna.

Minha opção, para não ficar em cima do muro, seria ainda por Ronaldo, que de uma forma ou de outra ostenta uma trajetória invejável na seleção brasileira e, o mais importante, de muitos títulos, o que não pode ser renegado de uma hora pra outra.

Ainda assim, a declaração recente de Parreira, quando disse que “Ronaldo está fazendo o que se queria dele: gols”, justificando as bolas na rede do combinado de Lucerna, leva a uma imediata reflexão: o jogador do Real Madrid, que sempre foi marcado por arrancadas, dribles, passes e, conseqüentemente, gols, hoje tem a missão de “apenas” colocar a redonda pra dentro?

Então o quanto ainda é imprescindível Ronaldo, quando ele, segundo o próprio treinador, não passa mais do que foram Túlio, Luizão, Guilherme e tantos outros matadores brasileiros?



Cissé, o azarado


O atacante francês Djibril Cissé não precisou mais de que 10 minutos de partida, no amistoso entre França e China (o último da preparação dos Blues para o Mundial), para se machucar gravemente e ficar fora do sonho maior de qualquer jogador: a Copa do Mundo.

Cissé fraturou tíbia e fíbula da perna direita após choque com o meia Zheng Zhi, e acabou cortado da delegação francesa pelo treinador Raymond Domenech. O chinês não teve culpa no lance.

Esta já é a segunda grave contusão do atacante em menos de 2 anos: em outubro de 2004, atuando pelo Liverpool, Cissé passou por cirurgia delicada, após sofrer fratura na perna esquerda, e ficou quase 6 meses longe dos gramados.

O volante Claude Makelele lamentou muito a infelicidade do companheiro e garantiu que a França quer brilhar pelo atacante do Liverpool: "Levaremos ele conosco e tentaremos chegar o mais longe possível para que ele também participe de alguma forma", explicou.

Para o lugar do cortado Cissé, Domenech justificou a fama de tomar decisões polêmicas, chamando o atacante Sidney Govou, do Lyon, ao invés de Anelka e Giuly, que eram considerados favoritos à vaga.


Coluna também publicada no site: www.voleio.com

A seleção brasileira estréia no Mundial 2006 diante da Croácia, nesta terça, às 16h, em Berlim. Já a França abre sua participação um pouco mais cedo, às 13h, desafiando a Suíça, em Stuttgart. Horários de Brasília

segunda-feira, junho 12, 2006

Quem tem boca, responde!

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Daniele Pechi

Depois de tanto tempo de espera, finalmente começou a Copa do Mundo 2006. Com a cerimônia de abertura mais rápida que já se viu, a Alemanha deu as boas vindas para o mundo, que durante um mês respira futebol.

Há muito tempo o brasileiro não era tão brasileiro! O Brasil está estampado nas camisetas, nos brincos e até nos calçados.

Todo mundo feliz: os torcedores que aguardam ansiosamente a estréia da seleção, o comércio, que vende como água os itens utilizados pelo típico torcedor e os bares, dos botecos aos mais refinados, que estarão tomados por essa paixão que inexplicavelmente fazem palmeirenses e corintianos esquecerem que estão na zona de rebaixamento. Se tudo der certo, MSI será um nome que não será pronunciado nos próximos trinta dias, afinal, nada pode ofuscar o brilho de um evento desses... Problemas não combinam com Copa!

Apesar de toda essa expectativa, tenho medo de o Brasil seguir o ritmo em que andam esses primeiros jogos, que realmente não empolgaram.

Foi decepcionante ver seleções como Inglaterra e Portugal se comportando como times pequenos. Contentaram-se e conformaram-se com um magro 1x0. Ambas diminuíram o ritmo, se fecharam e acabaram saindo com a vitória porque seus adversários eram tecnicamente muito inferiores.

Em plena Copa do mundo, abdicar de fazer um placar mais tranqüilo e preferir correr o risco de sofrer um empate a definir logo o jogo é uma atitude digna de eliminação na primeira fase...

Até agora, o jogo mais emocionante foi o da Argentina, nem tanto pelo futebol deles, mas pela audácia e confiança da estreante Costa do Marfim: não tiveram medo, encararam os argentinos de frente e quase saíram com o empate. Deram azar de terem caído no temido “Grupo da Morte”, mas por outro lado, podem torná-lo ainda mais emocionante. Já mostraram que encaram os adversários de igual para igual e, por isso mesmo, podem ser tornar a pedra no sapato dos experientes, arrancando pontos preciosos.

Quando se trata de favoritos ao título, é inevitável não falar mais de Brasil. Quando todos já estavam esquecendo do problema do peso de Ronaldo, o nosso ilustríssimo presidente da República cometeu mais uma de suas gafes e ouviu o que não esperava.

A reação de Ronaldo foi muito compreensível, na verdade, foi uma resposta para todos os que falaram desse assunto. Não é novidade para ninguém que ele é um especialista em superar situações adversas, na hora em que precisamos dele, ele cresce, não se esconde e principalmente não finge que não sabia da existência do problema... se é que você me entende.

Deixem-no trabalhar e só cobrem a partir do momento em que a bola rolar, e olha que nessa disputa com Lula, o Fenômeno já marcou um gol moral: Fenômeno 1x0 Lula!

Como diz o ditado, cada macaco no seu galho, presidente. E que venha a Croácia.

domingo, junho 11, 2006

Elefantes em maus lençóis

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Luiz Mendes Junior

Espero pouco da África nessa copa. Assisti a alguns jogos do campeonato continental, realizado este ano, e não faço fé em seleções como Togo, Tunísia e Angola. Gana, para mim, é uma incógnita, e a Costa do Marfim, se tivesse desfrutado de mais sorte com as bolinhas (Gana também não teve muita), poderia despontar como o grande representante africano na Alemanha, capaz de igualar campanhas históricas como a de Camarões em 90 e Senegal em 2002.

Infelizmente, a roda da fortuna não ajudou. Os "Elefantes", como são mundialmente conhecidos, prepararam-se bem e possuem um elenco com estrelas experientes de calibre internacional, como Didier Drogba, do Chelsea, e Emmanuel Eboué, do Arsenal. Impuseram ritmo forte e frenético contra uma Argentina mentalmente focada em não repetir seu recente fiasco e também ciente de que não podia errar, de que cada jogo de primeira fase precisa ser encarado como uma final.

Mas, como a Nigéria de 2002 (aliás, melhor), os elefantes acabaram injustiçados pelo destino. Possuem um time que se caísse na chave da França ou da Alemanha, certamente chegaria às oitavas, mas cercado por Holanda, Argentina e Sérvia, precisaria, além de jogar muito, errar pouco (ou quase nada) e ter bastante sorte para ir além da fase de classificação.

Com uma derrota já decretada, só um auxílio significativo dos deuses futebolísticos somado a uma extrema competência para evitar que saiam na primeira fase. Foram eficientes contra os argentinos, mas não o bastante, e perderam gols imperdoáveis num confronto deste calibre, ao contrário dos adversários, que já deixaram claro estarem entre os favoritos ao título, tanto em termos técnicos, quanto físicos e psicológicos. Não pretendem deixar que as bolinhas os impeçam de seguir adiante outra vez.

Presenciar tal atitude mental dos jogadores argentinos me fez temer pelo destino do Brasil, que, como os portenhos, possui uma esquadra tecnicamente muito forte (talvez a mais forte da Copa), mas pode ainda não ter adquirido o ar guerreiro que uma seleção campeã precisa ostentar desde a primeira partida.

Croácia, Austrália e Japão não constituem um grupo da morte, mas estão bem acima das babas que pegamos em 2002 durante a primeira fase. Discursos como o de Parreira, alegando que sua seleção não pode estrear com 100% da capacidade podem até fazer sentido, mas são perigosos, pois partem do princípio histórico de que o Brasil "sempre passa" da primeira fase, e isso não existe. Passar da primeira fase requer extrema preocupação em passar da primeira fase.

Como consolo anti-portenho (por mais que eu admire a seleção Argentina, não consigo torcer por ela) resta saber que eles também venceram uma equipe africana na estréia de 2002, também num "grupo da morte", e, ainda assim, caíram antes das oitavas. Ocorrerá de novo? Algo me diz que não.

Agora, pulando para o grupo B, Inglaterra e Paraguai disputaram uma partida razoável, sendo que os sul-americanos pagaram caro pelo mau início e, mesmo evoluindo e "mordendo" no segundo tempo, não conseguiram quebrar a marcação inglesa, usufruindo de pouquíssimas chances de gol. Sem Rooney, os britânicos não encantaram, mas fizeram partida sóbria, souberam assustar e complicar o Paraguai no começo, e também travar seu poderio ofensivo, evitando espaço para boas conclusões. Mesmo na etapa final, quando o oponente teve mais posse de bola e iniciativa, desfrutaram número superior de chances claras em gol.

Alguns comentaristas podem criticar Eriksson e seus pupilos por quererem administrar a vantagem em vez de se arriscar demais buscando ampliá-la, porém, partindo de uma ótica futebolística inglesa e considerando seus focos no título - semelhante àquele nosso de 1994 após jejum de 24 anos -, penso que a turma de Beckham foi inteligente e melhor na maior parte do jogo, apesar das raras pixotadas da defesa e do atrapalhado Crouch. Quem, afinal, pode garantir que sua altura (e o medo que ela provoca em defesas nas bolas aéreas) não fez com que Gamarra se precipitasse um pouco ao interceptar o chute de Beckham de qualquer maneira, marcando contra?

Sobre Trinidad e Tobago, pouco de bom para falar. Time aguerrido, não temeu a camisa sueca, mostrou aplicação, empenho, mas pouco poder de fogo. Pode passar da fase de grupos, e, contando com a divina sorte de cruzar com um Equador nas oitavas (algo pouco provável), sonhar em ficar entre os oito, mas é, indubitavelmente, fraco, e deve menos seu pontinho atual na competição a grandes méritos defensivos do que à falta de mira dos atacantes suecos (Allback em especial), que devem estar possessos em desperdiçar dois pontos quase certos.

Luiz Mendes Junior também escreve no blog:www.noticiasdofront3.blogspot.com

A Família Scolari

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Ricardo Stabolito Junior

É inegável o grande trabalho feito por Luiz Felipe Scolari ao futebol brasileiro na Copa de 2002. O treinador pegou a seleção nacional em um de seus piores revezes da história e conseguiu transformá-la num time vencedor novamente. O grupo que ficou conhecido como “Família Scolari” era um time ciente de suas fraquezas e empenhado em fazer o Brasil vencedor mais uma vez, após a decepção da Copa de 1998 e das eliminatórias para a Copa de 2002.

Injetando confiança nos jogadores, cercando a seleção em um clima de união há muito tempo não visto, Scolari conseguiu recuperar a auto-estima de um grupo que rumava para o fracasso. O treinador ficou alheio à opinião popular – quando o Brasil inteiro clamava pela convocação de Romário, ele apostou na recuperação de Ronaldo, que ninguém sabia se seria concluída com sucesso. O treinador, indo de encontro ao histórico brasileiro em Copas e a própria filosofia do futebol moderno, escalou três zagueiros e dois volantes entre seus onze titulares – um time defensivo – para jogar a Copa do Mundo, identificando e tentando corrigir um problema na defesa que já se tornara crônico na seleção.

No fim, Felipão não poderia ter sido mais bem sucedido, tornando o Brasil campeão mundial e vencendo todos os jogos que disputou. E esse sucesso se deu porque a “Família Scolari” era muito mais do que um time de futebol: era toda uma filosofia de trabalho e convivência.

Qual não foi a minha surpresa quando, ouvindo repórteres portugueses, a expressão “Família Scolari” voltou a ser proferida de forma confiante. Isso mesmo, a “Família Scolari” está de volta.

O treinador, reverenciado pelos bons resultados, implanta fórmula parecida à aplicada em 2002 no Brasil para fortalecer o selecionado português. Os portugueses estão cercados por uma confiança muito grande: um clima muito agradável e tranqüilo impera na concentração lusitana. Mesmo com o regime de poucas entrevistas coletivas (uma por semana) que Felipão cede, os profissionais de imprensa confiam piamente no treinador. Em Portugal, o trabalho de Scolari é muito respeitado e uma pesquisa comprovou que cerca de 80% da população aprovou integralmente a convocação da seleção local.

Em seu episódio mais notório à frente da seleção de Portugal, Scolari barrou o experiente goleiro Vitor Baía (ao lado) para colocar o jovem Ricardo como titular. Se na época, a decisão foi contestada, hoje ela se mostra mais do que acertada, em vista que Baía não passa mais pela fase que fez dele um goleiro respeitado no futebol europeu.

Além disso, o treinador atendeu a uma reivindicação popular e, mostrando o quão coeso e forte ele pretende que esse grupo seja, convocou o machucado e sem condições de disputar a Copa zagueiro Jorge Andrade, do Deportivo La Coruña, fazendo dele o vigésimo quarto integrante do elenco. O jogador, que participou de toda a campanha de Portugal em busca da classificação para o Mundial, se tornou um símbolo de uma nova etapa da “Família Scolari”.

Outro ponto interessante é que, agora, Felipão pode integrar sua “Família Scolari” com muito mais calma. Isso porque ele não tem, como teve no Brasil de 2002, o peso sobre as costas de ser um Salvador da Pátria. Em Portugal, a pressão sobre o treinador é bem menor. Se a chegada às quartas-de-final ou semifinal da Copa era quase uma obrigação quando comandava o Brasil, em Portugal seria conseguir o melhor resultado da sua seleção em 40 anos. Scolari tem em mente que sua meta no Mundial é mais do que possível de ser alcançada.

Assim sendo, não se surpreendam se Portugal chegar mais longe do que imaginam. Afinal, a “Família Scolari” está de volta. O único perigo é que agora ela está contra nós.

Portugal faz sua estréia na Copa 2006 neste domingo, em Colônia, diante de Angola, às 16h00 (de Brasília)