terça-feira, julho 25, 2006

Parceria em chamas

___________________________________________________________
Henrique Moretti

A parceria entre o Sport Clube Corinthians Paulista e a MSI vive o seu pior momento. O alvinegro encontra-se afundado no Campeonato Brasileiro, ocupando a vice-lanterna da competição, e ostenta seis jogos sem marcar gols – conseqüentemente, sem vitórias. A situação no campo só reflete a “fogueira” que se instalou fora dele, no clube de maior torcida de São Paulo.

O homem-forte da parceria, o iraniano Kia Joorabchian, vive em atritos constantes ao interminável presidente Alberto Dualib, que há longos anos reina(va) no comando corintiano. Pior, quem dava a cara pra bater, o vice-presidente Andrés Sanchez, está afastado do cargo, e nem Paulo Angioni, homem de confiança da MSI, nem Dualib conseguem dar respaldo para os jogadores trabalharem em paz.

Vamos voltar ao início da parceria, no fim de 2004. Naquele momento, nem mesmo os mais ferrenhos críticos da parceria corintiana, como o ex-vice Antônio Roque Citadini, ou o jornalista Juca Kfouri, poderiam prever futuro tão ruim para o Corinthians. Estes afirmavam que a MSI prejudicaria o Corinthians em longo prazo, pois deixaria o clube em dívidas monstruosas, como na época da ligação com a norte-americana Hicks Muse. Mas admitiam também que em curto prazo a equipe conquistaria muitos títulos, pela alta qualidade dos jogadores a serem contratados.

Mas a verdade é que nem a parte boa da previsão da dupla se confirmou. Passadas uma temporada e meia do conjunto MSI-Corinthians, a única taça levantada foi a do Campeonato Brasileiro 2005. Muito pouco tendo em vista o grande número de competições disputadas, como o Paulistão 2005 e 2006, a Copa do Brasil 2005, a Taça Libertadores 2006 e a Sulamericana 2005. O Brasileirão desta temporada também já está no lixo: em apenas 12 jogos o Timão já conseguiu repetir a quantidade de derrotas da campanha vitoriosa do ano passado (7), e com apenas 9 pontos conquistados até então, é muito improvável que consiga uma reviravolta capaz de colocá-lo na rota do título nacional.

Para mim, o primeiro grande erro da parceria corintiana aconteceu no Campeonato Paulista passado, vencido pelo São Paulo, quando uma simples derrota para o futuro campeão resultou na demissão do técnico Tite, o mesmo que na temporada 2004 havia feito “milagre” com o modesto time composto em sua maioria por garotos oriundos da categoria de base – naquele ano, o gaúcho pegara um Corinthians afundado na zona de rebaixamento e o trouxera para a quinta posição na tabela, chegando próximo a uma vaga para a Libertadores.

E a demissão veio com atitude mais que amadora de Kia, que se dizia profissional. O iraniano invadiu o vestiário, local considerado “sagrado” por comissão técnica e jogadores ao redor do mundo, atitude digna de quinta ou quarta divisões, ou nem isso.

De lá para cá, a cada tropeço a culpa era sempre do novo treinador, nunca dos jogadores, ou da diretoria, ou de quem quer que seja. Passarella sucedeu Tite, que foi sucedido por Marcio Bittencourt, que foi sucedido por Antônio Lopes, que foi sucedido por Ademar Braga, que agora é sucedido por Geninho, que já se encontra na corda-bamba. Carlos Drummond de Andrade não merecia entrar em salada tão indigesta, mas a lembrança a seu saudoso poema “Quadrilha” torna-se inevitável.

Enfim, o time do Corinthians dentro de campo só reflete o que é o conjunto MSI-Corinthians fora dele. E o glorioso alvinegro paulista vive um calvário que parece não ter fim. E não se sabe se mesmo o fim (da parceria) seria suficiente para mudar os rumos do clube, pois sem Tevez, Mascherano, Nilmar e cia. o pesadelo da Segunda Divisão poderia se tornar realidade.

A verdade é que Alberto Dualib se enfiou numa arapuca onde há apenas uma solução: selar a paz com Kia Joorabchian e se sujeitar ao papel que ele impôs a si próprio ao assinar o contrato de parceria – o de mero coadjuvante.

No fim de semana, o Corinthians empatou com o Fortaleza em 2x2, encerrando assim o jejum de gols, mas não o de vitórias

domingo, julho 23, 2006

Senhores do regresso

___________________________________________________________
Daniele Pechi

Esta semana aconteceu de novo: torcidas dentro de campo, dando instruções aos jogadores de Flamengo e Corinthians e o pior, com o maior respaldo.

A cena era bizarra e ridícula, num mesmo campo, o presidente do Flamengo, Márcio Braga, o técnico Ney Franco, os jogadores e os desorganizados dando a sua palavra de incentivo para o time que está disputando a final da Copa do Brasil.

A presença até do presidente do clube mostra que a “palestra motivacional gratuita” que os jogadores rubro-negros receberam foi mais do que aprovada pela diretoria.

A partir do momento em que intimidação e ameaças tornam-se fatores motivacionais para uma equipe, é hora de todos reverem seus conceitos! Atitudes como esta só atrasam mais ainda um futebol que já é atrasado quando se fala em organização.

Bem vindos ao regresso!

Se alguém ainda entende a “preleção” dos desorganizados como um incentivo, é bom lembrar que eles são tão torcedores como qualquer um, portanto, o seu lugar é na torcida. Não há maior incentivo do que um estádio lotado.

O Flamengo acabou ganhando a primeira partida da final, mas por saber da importância que este título da Copa do Brasil tem. Além de ser um título, por mais óbvio que isso pareça, é o caminho mais fácil para chegar a Libertadores.

A ineficácia dessas visitas surpresas foi comprovada mais uma vez, pois no Corinthians, Geninho recebeu os torcedores e a equipe continua sem vencer...

Até que tomar medidas como estas não é tão má idéia... Assim, a administração mostra que está preocupada com a situação da equipe e ao mesmo tempo, acalma os ânimos das desorganizadas, que poderiam organizar um protesto que atingiria a própria administração. Para mim isto tem outro nome: politicagem, da mais barata que existe!

É sempre aquele esquema: “a gente finge que ouve vocês, e vocês fingem que concordam com as nossas decisões...”.

No caso do Flamengo, acho que as conseqüências não serão tão graves como podem ser no Timão. Eu explico: O Corinthians tem um time com muitas estrelas (Tevez, Carlos Alberto, Nilmar, Mascherano, Roger), que não precisam mais provar que sabem jogar futebol. Imaginem se eles resolvem fazer corpo mole em campo, por birra mesmo, afinal, estão a pouco de serem agredidos pela “torcida”.

Claro que isso seria uma falta de profissionalismo, mas para uma diretoria que não é profissional, nada mais justo!

Quando se fala em Corinthians, não é preciso ir muito longe para relembrar de várias agressões que os jogadores já sofreram dos desorganizados. Eles vão embora, e os problemas ficam.

Uma administração que não impõe limites de torcedor a torcedor, não tem moral para condenar atitudes como essa, mas condena. Aí é a hora em que a oposição aparece, cheia de moral, de razão, com o mesmo discurso: “Mas é claro que isso aconteceu, a situação não pensa no time” e aquele blá, blá, blá de sempre...

Mais uma vez, a discussão vai, e o clube fica!

Quem está no poder não quer sair (e tem um Estatuto que o garante lá), e quem não está, o quer a qualquer custo. Mas e o torcedor? Aquele verdadeiro, que só quer torcer, que não tem intenção política nenhuma e que além de tudo nem é ouvido?

Este, como eu, torce, mas torce mesmo, para que um dia tudo isso seja diferente.