(Parte 1, escrita em 24/06 as 11 da manhã, antes de Alemanha x Suécia)
Esta Copa começou muito boa, e parece ter aliviado seu ritmo na terceira rodada em virtude da classificação prematura de alguns favoritos. República Tcheca e Itália foram exceções, visto que ainda precisavam brigar pela vaga no último jogo antes das oitavas. Outros participantes, já eliminados, preocuparam-se em realizar honrosas despedidas, como no caso da Costa do Marfim, que apesar de se revelar grande surpresa no mundial, apresentando um futebol tecnicamente superior ao de times como Equador e Gana, viu-se eliminada na fase preliminar, e por razões óbvias. Cair num grupo com Holanda e Argentina não lhe deu muita chance. Fez excelentes partidas, mas não teve sorte suficiente e cometeu pecados inadmissíveis nestes dois confrontos, pecados que Gana e Equador também praticaram, mas em chaves e jogos onde era permitido.
Os alemães de Klismann evoluíram substancialmente quando comparados a si mesmos meses atrás perdendo feio para Estados Unidos e Itália. Demonstraram fragilidade na estréia, mas se solidificaram defensivamente em seguida, evidenciando também uma empolgação e um volume de jogo incomum ao país em copas recentes. Sem dúvida, jogar em casa também pesa bastante nesse contexto, e a equação “jogadores jovens, aplicados e empenhados + filosofia ofensivista de Klismann + fator campo + adversários medianos ou fracos até agora” vem resultando numa Alemanha empolgante que contradiz sua imagem de time frio e calculista. Frios talvez sejam os suecos ante a problemática de encará-los como donos do espetáculo. Alemanha e Suécia duelarão uma hora após eu escrever esta coluna e tal confronto representará um teste definitivo para a torcida germânica saber se realmente pode sonhar com o título. Seus jovens representantes podem ter melhorado muito desde a preparação, mas ainda não provaram força contra oponentes mais duros, visto que pegaram uma chave tranqüila. A seleção equatoriana surpreendeu vagamente com duas largas vitórias, mas, além de jogar sua terceira partida desfalcada, está longe de ter valido aos alemães como um grande teste. Caísse num grupo mais complicado, decerto estaria fazendo as malas agora. Claro que ver os sul-americanos nas quartas após vencerem os ingleses não é impossível, mas bastante improvável, mesmo com os defeitos apresentados pelo “English Team”, que ainda não encantou nessa copa.
O único grupo a classificar uma equipe considerada zebra antes do início do torneio foi a chave E. Gana começou frenética contra os italianos, mas também errando em conclusões e na marcação. Vacilou semelhantemente contra a República Tcheca, perdendo gols impossíveis, mas sua maciça prevalescência técnica, aliada à superioridade numérica em virtude de expulsão, garantiu um triunfo que a colocaria diante do Brasil nas oitavas. Seus jogadores são rápidos como manda a tradição africana em copas e destoam do estereótipo “alegres, desleixados e dribladores” característico de Camarões em 90 e Nigéria em 94, preferindo um estilo de muita força física, pegada, toques rápidos, marcação na saída de bola e numero excessivo de faltas. Possui média de dribles baixa quando comparada à Costa do Marfim e Brasil. 7,7 dribles por jogo, segundo o instituto Datafolha, contra 25,3 do Brasil e 29,3 da Costa do Marfim. Sua média de faltas é a maior da copa. 25 por jogo contra 11,7 dos brasileiros.
Portugal e Holanda prometem um duelo menos físico e de técnica apurada, enquanto a França, que dificilmente brilhará nessa copa (embora possa apresentar um ataque melhor com Trezeguet em campo), terá sua defesa duramente testada pela primeira vez. Ostenta um time limitadíssimo que, ao menos, não parece frágil. O favoritismo, todavia, será da fúria.
Brasil e Japão realizaram um interessante duelo
Estranha foi a tímida comemoração de certos jogadores australianos e de Gus Hiddink com a vaga obtida após um jogo marcado pela mais estapafúrdia arbitragem da copa até agora, pois pareciam menos contentes com a classificação do que decepcionados por não serem líderes do grupo, já que, pensam, poderiam ter vencido o Brasil com um pouco mais de sorte, e, assim, evitar a “Azzurra”, super favorita contra eles. Diferentemente de certos selecionados tradicionais, ganeses e australianos não parecem muito humildes ante os penta-campeões. De certo, é saber que a copa entrará num desenlace interessante com grandes seleções se cruzando em embates dramáticos e épicos até o grande campeão ser decretado. O nível técnico deste mundial deve crescer e muito a partir de agora.
(Parte 2, escrita em 24/06 as 2 da tarde, antes de Argentina x México)
Jogo a jogo, os alemães mostram saber aproveitar seu mando de campo para acuar adversários e, com 15 minutos passados, já complicaram a vida dos suecos com dois gols. Torcerei para a Argentina ante os mexicanos porque os donos do espetáculo precisam de um freio nesse mundial, e, penso, os favoritos portenhos serão seu maior obstáculo até a decisão. Depois disso, só com muita reza e macumba para segurá-los, por mais limitados que possam ser. Um time grande jogando em casa e bem preparado é sempre um problema, e, não por acaso, à exceção do Brasil, todos os campeões mundiais possuem ao menos um título no próprio solo.
Falando em Brasil, um possível desastre pode provocar desfechos melancólicos ao sonho do Hexa. Robinho não é a grande estrela do time, mas sua presença em campo vale como elo propulsor importantíssimo para fazer o tal “quadrado” funcionar. Se sua recente dor na coxa for contusão séria, Parreira terá três opções para administrar uma possível sobrevida sem ele. Abolir o quarteto e escalar Juninho no lugar de Adriano, rezando para não precisar colocar coringas ao longo da partida, visto que não possuirá cartas adicionais na manga; isso até pode melhorar a seleção, solidificando o meio-de-campo e diminuindo a fragilidade demonstrada até aqui, mas talvez também prejudique o dinamismo das subidas ao ataque, descaracterizando aquele futebol alegre e dinâmico que muita gente quer ver do Brasil. Parreira também pode testar seu “quadrado” com Fred, buscando manter as características da equipe que deseja montar, ou fazer o mais provável, voltando à escalação original com dois atacantes “pesados”, atitude que decerto representaria um retrocesso fatal em termos de brilho ofensivo e eficiência.
Que os Deuses futebolísticos nos sejam benevolentes e preservem Robinho, para que, pelo menos, mostremos algo próximo a nosso real potencial nessa copa! Se já não bastassem as trapalhadas da CBF e do próprio treinador, o destino parece também estar indisposto a colaborar conosco. Copa é assim mesmo, vide ausências de Maradona em 94 (dopping) e Zidane em 2002 (contusão). Felizmente vencemos os alemães no Japão, e eles só poderão ser tetra em 2006, para desespero do reserva mais bem-humorado da copa.
Luiz Mendes Junior também escreve no blog:www.noticiasdofront3.blogspot.com
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