O Brasil entra em todos os torneios de futebol que disputa com um time, no mínimo, competitivo. Isso é muito bom, afinal, todos gostam de torcer por um time forte e campeão. Mas pensem: e se o Brasil não fosse a potência no futebol que é, se ela fosse uma mera coadjuvante na Copa do Mundo?
Neste ano, em vista da seleção brasileira ter a obrigação de passar pela primeira fase com o time que tem, resolvi eleger um outro time para quem torceria na primeira fase do Mundial. Mas não seria um time qualquer – seria um com pouca tradição no futebol. E não seria uma torcida de momento, assistiria com atenção a todos os jogos dessa seleção, assim como faria com a do Brasil.
Minha escolha não foi difícil. Lembrando dos tempos em que ainda jogava Fifa 97 no “jurássico” console Mega-Drive, escolhi a estreante Trinidad e Tobago. Quando organizava Copas do Mundo no jogo, sempre pegava a seleção caribenha. Lembrei-me com carinho de craques como Yorke (que na época jogava no Manchester United – fato no mínimo estranho para mim naquela época), Wise, Latapy e John. Detalhe: só os conhecia por sobrenome, pois o jogo só informava a inicial do primeiro nome do jogador.
A conquista da vaga por Trinidad já havia sido muito sofrida. Após conseguir o quarto lugar no hexagonal final das eliminatórias da Concacaf, passando a Guatemala nas últimas rodadas, conseguiu uma vaga na repescagem contra o quinto colocado da Ásia – o Bahrein. No primeiro jogo, realizado em Trinidad, um “péssimo” empate de
A opinião entre os especialistas era unânime: se Trinidad e Tobago fizer pontos nessa Copa, será uma grande surpresa. No seu grupo estavam uma das favoritas ao título do Mundial (Inglaterra), um dos melhores “coadjuvantes” (Suécia) e uma seleção que já não era mais surpresa em Mundiais (Paraguai).
Quase em todos os dias da primeira fase perdi parte do jogo das dez da manhã, só assisti inteiro ao jogo de estréia de Trinidad e Tobago. Abrindo o segundo dia de Mundial, enfrentou a Suécia e algumas coisas já me tocaram profundamente. Tirando Yorke, era a primeira vez que vi as faces de muitos dos jogadores que me fizeram campeões no vídeo-game. Muitos deles já eram veteranos – e como não seriam – já que em 97 já integravam a seleção nacional.
Quando o jogo começou, entendi que sofreria muito com a seleção caribenha. O time não tinha ataque, a ponto do grande ídolo e atacante Dwight Yorke jogar praticamente como volante. Mesmo que com falta de competência, a Suécia atacou o jogo inteiro. Mas, com um homem a menos, o time de Trinidad e Tobago se segurava contando com a barreira Shaka Hislop no gol – único jogador do elenco que jogava na primeira divisão da Inglaterra. E eu vibrava, como raramente em um jogo do Brasil, a cada vez que aquele selecionado de jogadores de terceira, quarta divisão da Inglaterra, barrava o ataque dos consagrados Ibrahimovic, Larsson e Ljungberg.
Na jogada de maior perigo da partida, o atacante Glenn (que joga nos Estados Unidos), num dos raros chutões da zaga trinitina que gerou um contra-ataque, colocou a bola na trave do gol sueco. Nesse momento, quase explodi. E, de resto, só ataques cada vez mais desesperados da Suécia.
Quando estava nos descontos do segundo tempo, me dei conta que estava levantado, apreensivo e com minhas mãos entrelaçadas, implorando pelo apito final do juiz. E quando ele o fez, estourei
Depois do jogo, fiz questão de ver todos os comentaristas falarem que estavam errados sobre Trinidad e Tobago, que ele não seria um saco de pancadas e era de uma resistência admirável. Ciente do seu papel na Copa, o time soube valorizar o que podia fazer e o fez com grande excelência.
Fiquei extremamente feliz, até mais do que com a vitória do Brasil sobre o Japão “jogando bonito”. Fiquei feliz porque, naquele dia, os meus heróis do vídeo-game se tornaram heróis para uma nação inteira e todos puderam ver o potencial da seleção caribenha que vi no antigo Fifa 97, já há muito tempo atrás.
Contra a Inglaterra, o time novamente mostrou resistência sobrenatural segurando o empate por 80 minutos. No final, acabou sendo vazada num gol irregular do grandalhão Peter Crouch, favorecido com uma das faltas mais bizarras que já vi – ele puxou o longo cabelo do volante Sancho, o impedindo de saltar – e por um chute de fora da área de Gerrard. Contra o Paraguai, a defesa ruiu ainda no primeiro tempo com um infeliz gol contra do mesmo Sancho.
Após o empate contra os suecos, percebi algo importante: o futebol é algo bem curioso. Não que já não soubesse isso, mas consegui percebê-lo mais do que nunca. É muito curioso pensarmos como nesse esporte um mísero empate (como o de Trinidad contra a Suécia) pode ser mais emocionante e, até mesmo, importante do que uma taxativa vitória (como a do Brasil contra o Japão). Porque, para mim, ele foi.
Um comentário:
Hahahhha
gostei dessa moretti!!!
Trinidad jogo muito o primeiro jogo, se seguro como pode contra a Suécia.
Mas o Yorke poderiaa ter ficado um poco mais na frente, ele estavam muito atrás.
Mas tirando isso Trinidad fez ponto, coisas que outras seleçoes nao fizeram!
abraço ae marceloo
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