terça-feira, março 14, 2006

Fora de Rotina

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Christian Avgoustopoulos

Domingo. Dia de passar com amigos e familiares, acordar e almoçar tarde, fazer qualquer coisa depois do almoço e se preparar para uma longa semana de trabalho. Isso faz parte da rotina de uma grande parcela da população. Esse fim de semana, porém, estava predestinado a me mostrar algo de diferente. Saí para viajar, fui num camping passar o fim de semana num trailer, a convite de um amigo meu. Hoje em dia camping não é mais como antigamente, a estrutura que se tem é semelhante à de um hotel. Após um tempo na piscina do camping, resolvo dar uma olhadinha no que esta passando na TV. Assisto os 15 minutos finais de Real Madrid x Valencia. Tive a impressão nesse tempinho que o jogo foi bom. Lances de perigo dos dois lados, ambos buscando a vitória, o único resultado que interessava a ambos para continuar sonhando com a possibilidade de vencer o Campeonato Espanhol.

Aos 43 do segundo tempo, pênalti para a equipe merengue, após Canizares derrubar Ronaldo. O próprio Ronaldo parte para a cobrança...e erra! Bate mal e Canizares defende sem sequer dar rebote. O jogo termina com esse momento inusitado. Um jogador conceituado como Ronaldo, tido como uma das esperanças da seleção brasileira na Copa do Mundo, não costuma e nem pode perder uma chance como essa, mesmo estando numa fase conturbada.

Jogo encerrado, 0x0...a noite passa e acordo cedo para assistir a 1ª etapa da F1 no ano. Apesar de decepcionado com a segunda posição de Schumacher na bandeirada final (minha paixão pela Ferrari sempre foi intensa), gosto do espetáculo, uma bela corrida, que passou a impressão de que teremos um ano muito interessante neste esporte automotivo. Mas o mais surpreendente dos eventos esportivos estava por vir. Ainda com um pouco de sono decido assistir Ascoli x Roma. Um jogo que era apontado por muitos dos profissionais entendidos do esporte com favoritismo decisivo para a equipe da capital, que desde novembro do ano passado não conhecia a derrota. Do outro lado, um surpreendente Ascoli, que vem fazendo uma campanha excelente na Serie A, longe do rebaixamento e até com uma mínima possibilidade de alcançar uma vaga para as competições européias da temporada seguinte, algo que deve ser bem considerado analisando as limitações da equipe, que só está na primeira divisão do italiano devido a problemas financeiros do Torino, impedido de jogar a Serie A devido a problemas com o balancete financeiro anual.

Começa o jogo, bem disputado, equilibrado...até que o Ascoli marca o primeiro gol, com o camisa 99, Quagliarella, ao receber um passe vindo da esquerda, só tendo o trabalho de empurrar o esférico para o gol. Isso esquentaria o jogo, afinal esperava-se que a Roma começaria impor seu jogo para buscar reverter o placar. Mas logo em seguida, um cruzamento certeiro, oriundo de uma bola parada gerou o segundo gol do Ascoli, por intermédio de Paci, que concluiu de cabeça. O Ascoli fazia 2x0 na Roma e ia dominando a partida, jogando organizado e bonito. Ainda no primeiro tempo o Ascoli chega ao terceiro gol. E que golaço! O homem do jogo, Quagliarella (foto acima), perdoem-me a hipérbole, lembrando Maradona, recebe uma bola na esquerda, aproxima-se da área, e na saída do goleiro dá um lindo passe de cobertura, encobrindo o mesmo, para que Budan complete de cabeça com o gol vazio. Final do primeiro tempo, 3x0, com um surpreendente domínio do Ascoli no jogo.

O segundo tempo começava. O placar de 3x0 numa virada de tempo sempre me faz lembrar da final da edição passada da UCL, com o Milan saindo vencedor nos 45 minutos iniciais por 3x0 e permitindo o empate do Líverpool no segundo tempo, com três gols em 6 minutos. Confesso que o Ascoli era o time de minha preferência nesse jogo, e eu torcia para que conseguissem essa vitória pelo surpreendente e bonito jogo que vinham fazendo. A partida seguia, e aos 25 do segundo tempo, eu já começava a perder um pouco do interesse, pensava que a partida já estava liquidada. Pensamento que mudou em 5 minutos. Aos 27 o brasileiro Taddei marcou o primeiro do Roma, jogador que sofreu muitas críticas no tempo em que defendeu o Palmeiras. Agora mostrava sua estrela e ótima fase na equipe italiana. Passados 3 minutos a Roma chegava ao segundo gol. Num cruzamento despretensioso, uma falha do zagueiro Comotto. O defensor do Ascoli desvia a bola que entra em seu próprio gol: 3x2.

Naquele momento mais uma vez aquela fatídica final de Champions League passava por minha cabeça. A Roma parecia determinada a defender sua seqüência de jogos sem derrotas e pressionava, mesmo que desordenadamente, a equipe do Ascoli, que já mostrava sinais de apreensão após o segundo gol. E mesmo com sua qualidade, o time romano não conseguiu marcar o terceiro gol, o jogo foi seguindo e acabou assim, Ascoli 3 x 2 Roma. Os torcedores emocionados cantavam, enquanto se via a euforia dos atletas do Ascoli, que comemoravam aquela vitória com muito mais intensidade do que uma equipe que encontra-se na 11ª posição de uma liga.

Talvez a idéia desse texto pareça tão irrelevante quanto um time que está em 11º comemorar esfuziante uma vitória, mas este jogo além disso teve uma pitada de magia, de emoção, de apreensão, de arte, de liberdade! Enfim, uma clássica partida de futebol.

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